A festividade natalícia da visita dos Reis Magos ao presépio de Belém celebra-se, há séculos, no dia 6 de Janeiro, em toda a Igreja Latina.
Esta data equivale à da festa chamada Epifânia, que, na Igreja Ortodoxa celebra o verdadeiro Natal. Porquê? Porque em Belém, Jesus revelou-se ao povo de Israel, mas na visita dos Magos revelou-se aos povos de todo o Mundo. Aliás, Natal significa nascimento, Epifânia significa Revelação.
Ainda não há muito tempo, li, em escrito de conceituado estudioso de assuntos religiosos, mas pouco informado acerca da liturgia católica, que a Igreja tinha acabado com a festa dos Reis Magos. Claro que não acabou com ela. A festa continua a celebrar-se, mas, no caso de Portugal houve uma alteração: como (julgo que em 1952) o Estado fez uma revisão dos feriados nacionais, a Igreja Católica, para salvar os principais feriados religiosos, aceitou sacrificar dois: o da festa da Epifânia e o da Ascensão.
A Igreja decidiu então, com aprovação da Santa Sé, transferir a festa dos Magos para o primeiro domingo após o dia de Ano Novo, já que o dia 6 deixou de ser feriado, e trata-se de uma festa muito solene. Acontece que, em 2008, o dia 6 veio a calhar num domingo, pelo que tudo ficou ajustado, mas em 2009, o dia 6 será a uma terça-feira, pelo que os Reis Magos terão festa no dia 4, que é o 1.º Domingo após o Ano Novo. Em Espanha, a festa dos Magos é mais importante do que a do Natal e continua a fazer-se no dia 6, dia santo.
Já agora, a festa da Ascensão (quinta-feira da Espiga) deixou de haver feriado nacional, mas nalgumas localidades tornou-se em feriado municipal, sobretudo no Oeste e no Ribatejo.
Já agora, uma palavra acerca do bolo-rei.
O consumismo e a ignorância dos símbolos tornaram o bolo-rei uma gulodice que se come durante todo o ano, havendo pastelarias que o produzem habitualmente, pelo que esvaziaram o bolo do seu simbolismo: o sol nascente, a promessa da fertilidade e da fartura. É como se fosse um símbolo do rosto do Redentor. Comia-se em Dia de Reis, com fava e brinde, mas também estas curiosidades desapareceram por força de leis alimentares.
Disparates inócuos, esvaziamento dos sinais sagrados.
«Carta Dominical», opinião de Pinharanda Gomes
pinharandagomes@gmail.com
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