Depois de um primeiro escrito sobre o Alferes Piloto Aviador Raul Fernandes, que viria a falecer muito jovem, devido à queda da avioneta que pilotava, damos à estampa, desta vez, mais alguns factos recolhidos recentemente.
Em 1956 aterrou no Vale de Aldeia da Ponte, juntamente com um amigo, cada um em sua avioneta, dando a primazia ao convidado, tendo este estacionado a sua avioneta junto à estrada para Albergaria, seguindo-se a aterragem do nosso piloto, para gáudio de um Vale repleto de gente.
A cada vinda do Raul da Casaca Azul, até da escola se fugia, para assistir às aterragens das avionetas, pois não era todos os dias, que se podia contemplar este espectáculo.
Quando chegava ao Vale, acabadinho de aterrar, as forças da ordem de Aldeia, neste caso, a Guarda Fiscal, perfilavam-se à sua frente, em sinal de respeito, fazendo-lhe a continência, pois o nosso amigo aviador possuía a graduação de Alferes. Imobilizado o aparelho, em chão firme, dirigia-se ao seu encontro, cumprimentava-os, um a um, retirando a sua mão da continência, num gesto de grande humildade e simpatia, como que significando, que ali, na Aldeia, eram todos iguais, não interessando a patente de cada um, o que cativava tanto as autoridades, como os populares, que assistiam a esta, digamos assim, pequena cerimónia de cortesia e boas-vindas.
No dia do funeral, quando a urna saía de sua casa, para a última viagem em direcção ao cemitério, os céus de Aldeia da Ponte foram sobrevoados por umas quantas avionetas, alinhadas em formação, largando milhares de pétalas de rosas, em singela homenagem dos seus companheiros, despedindo-se, deste modo, do seu amigo Raul Fernandes, que por certo, estimavam e consideravam. Há quem me tenha confidenciado, que das avionetas foi lançada, ainda, uma carta, seria, porventura, uma missiva de condolências dos seus amigos aviadores, que se quiseram solidarizar com a família na sua dor.
Passado algum tempo, uma bela donzela, presume-se a sua noiva, visitou o seu túmulo, derramando fartas lágrimas por um amor, abruptamente interrompido na plenitude de uma juventude, que ficou por viver pelo aviador Raul Fernandes.
Para situarmos melhor a história do nosso Piloto Aviador, recordamos que tinha como irmãos a D. Branquinha, D. Belmira e Joaquim Fernandes, com a sua casa situada em frente ao antigo Colégio de A. Ponte, na rua de São Brás, mesmo ao lado da Capela deste Santo, conservando ainda a traça antiga depois de recuperada recentemente.
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«Ecos da Aldeia», crónica de Esteves Carreirinha
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