Nas imediações da revolução, por alturas de 1975, um grupo de Sabugalenses, com as melhores intenções e, no sentido de informar e esclarecer, criou um jornal regional para o Concelho de Sabugal que se denominou de «A Luta».
Esta iniciativa simbolizava uma luta contra o esquecimento do nosso concelho e um melhor esclarecimento das nossas gentes, para um certo número de problemas que estavam na ordem do dia, em pleno período revolucionário, nascido a 25 de Abril de 1974, com a implantação do regime democrático, derivado do golpe dos Capitães de Abril.
Nesta fase do quotidiano lisboeta, sucediam-se as sessões de esclarecimento e muitos outros programas culturais, relacionados com a revolução. Tudo era revolucionário na altura, com uma aprendizagem rápida de uns tantos valores, que o golpe militar deu azo a que se implementassem, não sem que acontecessem muitos exageros, mas isso é outra conversa. De repente, Lisboa encheu-se de revolucionários em cada esquina, os que já eram, os que não eram, os que regressaram do exílio e os que não sendo, nem uma coisa nem outra, depressa foram contagiados e aderiram a esta causa.
Assim, este primeiro título de «A Luta» apenas saiu com dois números, devido ao aparecimento de um outro diário com o mesmo nome, criado por Raul Rego, na sequência do caso do diário «República» que foi ocupado e deixou de se publicar, uns tempos mais tarde.
Este grupo de Sabugalenses decidiu, então, modificar o nome do jornal regional para «Terra Fria», nome mais consentâneo com a nossa região, tendo início em 1975, perdurando este jornal apenas durante um ano, com periodicidade mensal, num total de 12 números, com um número especial pelo meio.
O «Terra Fria» foi um veículo de informação do nosso concelho, abordando inúmeros temas, escritos com alguma paixão exacerbada, própria de uma juventude com sangue na guelra, utilizando a terminologia da época, em defesa do direito das pessoas do concelho, principalmente na área da saúde, bem como divulgando todo o tipo de notícias, principalmente das comissões de moradores das aldeias, entretanto criadas, que nos chegava do concelho de Sabugal, nada que não fosse razoável trazer à estampa, antes pelo contrário, depois de longos anos em que muitas matérias estavam proibidas discutir na praça pública.
Apesar de tudo, achamos que valeu bem a pena todo o esforço despendido por esta altura, colhendo-se ainda, alguns ensinamentos importantes sobre assuntos variados, que não conhecíamos, aprendendo-se algo e evoluindo-se um pouco mais.
Tal como muitos outros órgãos de informação, foi curta a sua duração, pois o trabalho recaía sempre para os mesmos, quando esses mesmos se saturaram, acabou o jornal, como acontece em muitas outras áreas, em que há quem fale muito mas produza pouco e, quando a hora da verdade chega, quem vem atrás que feche a porta. Falar é muito lindo, principalmente com palavras caras e bonitas, mas quando toca a trabalho, em vez do palavreado, aqui é que a porca torce e retorce o rabo e lá vai tudo por água abaixo, pois como se diz na gíria, trabalhar faz calos, não estamos para isso, trabalhem os outros.
As reuniões para a feitura e discussão dos artigos efectuavam-se na Casa do Concelho de Sabugal em Lisboa, também em fase de fundação. Nasceria em 13 de Fevereiro de 1975.
«Ecos da Aldeia», opinião de Esteves Carreirinha
estevescarreirinha@gmail.com
Amigo Carreirinha
Esta tua crónica não podia vir em melhor e em pior altura.
Melhor porque nos recorda algo que vivemos intensamente num momento em que parece muita gente querer squecer.
Melhor (ou pior?) altura porque me permite chamar a atenção para uma das pessoas que mais viveram essa época e mais contribuiram para o seu êxito e que hoje luta como sempre o fez para não nos deixar.
Falo do João Leitão!
Ainda vamos a tempo de lhe prestar o apoio que necessita e de lhe reconhecer a importância que teve e ainda tem para todos nós.
Força João…
Ramiro