Editado em 1985, o livro de Adérito Tavares continua a ser a maior referência bibliográfica acerca da tourada com forcão, cuja realização cabe por exclusivo ao povo das terras raianas do concelho do Sabugal.
Natural de Aldeia do Bispo, terra de fortes tradições taurinas, Adérito Tavares dedicou uma parte do seu tempo à investigação acerca das origens da capeia arraiana e à forma como a mesma se organizou ao longo dos tempos. O resultado foi um livrinho prático, profusamente ilustrado, que nos dá a conhecer a mais genuína tradição raiana de Portugal.
O autor, professor universitário em Lisboa, com forte gosto pelas análises históricas e pelo bom enquadramento dos estudos, começa por nos apresentar uma imagem do concelho do Sabugal, abordando o seu passado e o presente, falando dos costumes populares e caracterizando a economia local. Só depois se embrenha na história da tourada com forcão.
A sua origem, enquanto manifestação festiva, esteve ligada às formas de vida de antigamente, com fortes ligações a Espanha, bem vivas no contrabando que se fazia pela calada, à margem do olhar das autoridades. Foi assim que os jovens contrabandistas aprenderam a gostar das touradas que se realizavam nas aldeias espanholas do lado de lá da Raia e trouxeram para as nossas terras essa tradição, recorrendo ao gado espanhol que era criado nas extensas ganadarias que confluíam com as nossas propriedades.
À conta dos prejuízos que os bois espanhóis davam nas nossas terras de cultivo, o povo das aldeias portuguesas passou a exigir a cedência de uns touros para serem toureados num dia de festa. Foi com as idas a Espanha em busca do gado e com a sua condução às aldeias raianas, com a ajuda dos ganadeiros, que nasceu o encerro, onde os cavaleiros, logo pela manhã, conduzem os touros do campo até ao curro.
Pela tarde, na praça principal da aldeia, fechada por carros de vacas carregados de lenha, lidam-se então os bois, com recurso ao um grande corpo triangular de madeira de carvalho, a que pegam mais de vinte rapazes, assim desafiando o toiro. Tratasse do forcão, contra cujas galhas o toiro investe impiedosamente.
Adérito Tavares explica em pormenor como se constrói o forcão, como se organiza o espectáculo e qual a arte de bem pegar ao forcão. Dá conta das diferenças entre as capeias de antigamente e as de hoje, calendariza as diferentes touradas, tendo em conta a tradição e transcreve diferentes testemunhos escritos por outros autores que também se debruçaram sobre a capeia.
No prefácio afirma que um dos objectivos da edição é produzir um livro que os emigrantes «pudessem guardar e mostrar lá longe, quando querem explicar aos outros este divertimento que tanto os entusiasma».
Bem podemos afirmar que o livro atingiu esse objectivo, sendo muito apreciado e abundantemente lido e analisado.
plb
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