Fala-se hoje, e bem, na criação de uma associação transfronteiriça que reúna as autarquias dos dois lados da fronteira. Nunca é tarde para as boas ideias, mas não podemos deixar de considerar que há muito deveria ter sido traçado esse caminho.
Há largo tempo que existem contactos entre autarquias portuguesas e espanholas da nossa região, mas nunca deram o passo que hoje, afinal, defendem vir a dar. A Junta dos Fóios, tem sido campeã na cooperação transfronteiriça. Há uma geminação com Las Eljas e uma relação de entreajuda com o povo próximo de Navasfrias. Há meia dúzia de anos a Câmara Municipal mobilizou-se em contactos com os ayuntamientos espanhóis e desenvolveu com eles um projecto de promoção das serras da Gata e das Mesas. Editou-se até uma brochura desdobrável e colorida, com textos bilingues, para promoção turística.
Porém, no essencial, as coisas ficaram-se por uns fortes apertos de mão, uns golpes de vinho, umas cañas frescas e uns bons nacos de jamón.
Ora os bons exemplos vêm de fora, mais uma vez. É que os autarcas das campinas da Idanha há muito que andam atentos e vêm promovendo a cooperação com os povos de Espanha. Em Maio de 1993 os autarcas dessas terras de Portugal reuniram-se com os de Espanha (Sierra de Gata e La Alcantara), descobrindo pontos de convergência e decidindo desenvolver um programa comum. Foi assim que nos dois anos seguintes nasceu e se consolidou uma rede de cooperação transfronteiriça, designada «La Raya / A Raia». As suas iniciativas mais emblemáticas são a realização de uma grande feira anual, alternando entre um e o outro lado da fronteira; a elaboração e actualização de uma base de dados estatísticos destinada aos agentes do desenvolvimento; a criação de grupos de trabalho temáticos; e a realização de acções de cooperação destinadas a jovens e idosos.
Foi assim que perdemos o direito, que era nosso, de falarmos na Raia como algo que nos identificava e diferenciava. A Raia éramos nós, mas agora está mais ao sul. Fala-se em Raia e a mente voa para a Idanha, que a conquistou de mote próprio.
Sim, a Raia era nossa. Era para todos o local transponível entre Portugal e Espanha, sinal de uma relação constante entre os dois lados, fruto do comércio legal e da candonga. Só aqui, no Sabugal, a raia era seca. Para lá da serra das Mesas tínhamos os cursos de água a obstaculizar. Primeiro a Bazágueda, depois o Erges, e após este o Tejo. A Norte, passado Vilar Formoso, havia a Ribeira dos Tourões e depois o rio Águeda até ao Douro.
Vamos ver se ainda chegamos a tempo de repor algo do que nos furtaram. É pois benquista essa ideia de nos irmanarmos com os de Espanha via autarquias representativas dos povos locais.
«Contraponto», opinião de Paulo Leitão Batista
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