Enquanto fui criança não sabia o nome do Senhor Padre Souta. Para todos era, pelo menos em Quadrazais, o senhor Abade do Sabugal.

De resto, creio não ter conhecido outro além do Padre António Teixeira Souta (ou, como alguns escrevem Soita).
Menino ainda, recordo os sermões de Semana Santa que ele proferia na Matriz quadrazenha, sucedendo a um afamado pregador de tom dramático, o Padre Fatela, pregador pedâneo da Raia. O senhor Abade do Sabugal soava em outra nota – mais afectiva, e porventura mais pastoral. Creio que só tive a graça de falar pessoalmente com ele, sendo já adulto, mas não esqueço que, sendo eu um adolescente atrevido, publicou na página «Sabugal» do semanário «A Guarda», uma pequena série de artigos, de quase estreia literária, acerca de etnografia quadrazenha.
A vida trouxe-me por caminhos de imigração, longe do concelho natal, mas, através dos jornais, sempre acompanhei a vida do bom amigo senhor Padre Souta. Depois, encontrámo-nos e falámos algumas vezes, sempre em dia de festas concelhias, nas minhas passagens-relâmpago.
Soube agora que o senhor Abade do Sabugal, e pároco de outras terras em volta, vai ser reformado da actividade paroquial, e que outro será o novo senhor Abade, o Padre Manuel Igreja Dinis, a quem damos as boas-vindas e desejamos uma longa e rica história pastoral, continuando os frutos do seu antecessor.
Todavia, estas linhas são destinadas ao louvor de um amigo, e de um padre exemplar. Aliás, bem merece o desencargo. Nascido em Belmonte, em 9 de Março de 1921, já passou a marca dos 86 anos, digo 86, graças a Deus. Foi ordenado sacerdote em 19 de Dezembro de 1943, na juvenil idade de 22 anos, pelo que já conta com mais de meio século (64 anos) de vida sacerdotal, creio que sempre ao serviço da comunidade sabugalense, como pároco e como arcipreste, ao serviço de todo o concelho.
Conheceu um tempo em que não faltavam padres, e vive agora este em que eles se contam pelos dedos. Percorrendo o Anuário Católico, de padres ordenados em 1943, só leio o nome do senhor Padre Souta!
Ele cuidou da igreja de pedra, da sua época ficando a Casa Paroquial e a renovada Matriz do Sabugal, e renovada para comodidade dos fiéis. Outras obras lhe pertencem, mas de modo especial a construção da igreja das pedras vivas. Quem do Sabugal, não passou pela catequese, mesmo os que não seguiram a vereda que lhe haviam ensinado, ou optaram por algo de muito diferente doutrina? Nem podemos esquecer o culto de Santa Teresinha do Menino Jesus, que ele tanto promoveu, celebrando as festas da comunhão das meninas e dos meninos em Maio, no dia em que se festeja a primeira comunhão de Teresinha. E também não podemos esquecer a renovação do culto de Nossa Senhora da Graça que durante alguns anos andara como que apagado.
E do ponto de vista cultural, o Sabugal deve-lhe a criação do «Amigo do Sabugal» (1964) que continua a publicar-se, agora como página especial do «Amigo da Verdade». Neste e nas páginas de «A Guarda», o senhor Padre Souta combateu a favor dos interesses da vila (agora cidade) e de todo o concelho, cujos homens de letras, ou literatos, têm para com ele uma dívida, por sempre ter uma palavra para homenagear os escritores do concelho, nas páginas do «Amigo».
O senhor Padre Souta fica, segundo lemos, a residir no Colégio do Sagrado Coração de Jesus, na Cerdeira. Não sai da nossa terra e lá, com outro ritmo, continuará a dar frutos, como aquele ancião a que se refere um dos Salmos.
Todos lhe devemos muito.
Importa que a saída do Sabugal não seja uma saída a seco. Convém, é digna e justa, a homenagem das forças vivas: Junta de Freguesia, Câmara Municipal, Misericórdia e Paróquia. Um gesto de gratidão, um aceno de simpatia. Assim o desejamos ao senhor Padre Souta a quem envio fraternal e filial saudação.
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«Carta Dominical», por Jesué Pinharanda Gomes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Fevereiro de 2007 a Setembro de 2018)
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