Falamos agora de um livro publicado há 11 anos por dos maiores escritores raianos, o ilustre bismulense Manuel Leal Freire, advogado radicado no Porto e com casa em Gouveia, que amiudadamente regressa às origens para se envolver com o povo e conviver entre os amigos.
A maior riqueza cultural de um povo assenta na sua vivência quotidiana. O labor, as festividades, os passatempos, o linguajar, o modo de cobrir o corpo e de construir abrigos. Mas nas nossas aldeias raianas o grande êxodo perverteu as formas de viver. Da frémita vida de outrora sobejam hoje aldeias e lugares onde quase não soa o vozear das gentes tratando da lavoura, os urros dos animais domésticos e o chilrear desconcertante da canalha a jogar à apanhada no largo da praça.
Manuel Leal Freire, colector nato da riqueza etnográfica das terras do Cima-Côa, escreveu o sublime livro «Ribacôa em Contra Luz», que reúne um conjunto de experiências e de aventuras que retratam os viveres desse tempo que já não corre, mas que deixou profundas marcas. Há ali um povo rude mas também humilde, corajoso mas temente a Deus e ao dianho, protagonista não só do correr habitual da vida, onde cada qual tinha um mundo à parte, mas também dos inúmeros episódios rocambolescos, que se sucediam em catadupa.
Dos belos textos ressalta a sentida nostalgia do cronista pela aldeia natal, a Bismula, centro aldeano de gente fera e valerosa. Também se evidencia a descrição das saudosas festas e arraiais que corriam ao redor e dos actos de bravura de um povo que tem por principais qualidades a valentia e a honradez.
«Manuel Leal Freire imerge no povo e molha-se todo», escreveu Pinharanda Gomes a propósito deste erudito da Raia. E se o livro «Coração Poeta» foi o encharcar com a recriação do cancioneiro popular, «Ribacôa em Contra Luz» é um submergir total ao encontro dos retratos de origem do povo que guarda na alma.
plb
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