As certezas de ontem são as dúvidas de hoje. O novo aeroporto de Lisboa pode afinal ficar em Alcochete. O ministro do Ambiente ordenou que o lince ibérico vá aprender algarvio. No Sabugal as tradições raianas de Agosto mantêem-se e tudo aconteceu entre a primeira capeia (Lageosa, 6) e a derradeira em Aldeia Velha no dia 25. Solicitações e ofertas são mais do que muitas mas os raianos continuam a dar prioridade às suas tradições.

Uma das mais importantes obras de sempre do País está cada vez mais perto do volte-face. O novo aeroporto de Lisboa parece ter descolado definitivamente da Ota e está a fazer uma aproximação à vista aos terrenos do Campo de Tiro de Alcochete. Parece que o Ministério da Defesa já informou o primeiro-ministro que não se importa de dispensar a herdade de muitos hectares que apenas servia para criar coelhos, lebres e muita, muita lenha.
Deixando a discussão para os técnicos há, contudo, certezas: o bilhete de avião entre Lisboa e Madrid não pode ser mais barato que o valor cobrado por um taxista entre o aeroporto e o centro da capital. E como diz o povo, o resto é conversa.
Fala-se cada vez com mais insistência na necessidade de remodelação governativa. Os analistas apontam para o início de 2008 ou seja após o final da presidência portuguesa da União Europeia que como se sabe está a decorrer e termina em 31 de Dezembro deste ano.
Há ministros pelos quais não morro de amores mesmo restringindo a opinião a factores exclusivamente executivos. E as minhas escolhas recaem sobre os ministros da Saúde, da Agricultura e do Ambiente. Vamos a ver o que pensa o primeiro-ministro de Portugal.
Falar de ministro do Ambiente é lembrar o seu discurso na visita às obras da barragem de Odelouca no Algarve: «Aqui, numa área de 150 hectares, vai nascer o primeiro centro português de reprodução do lince ibérico em cativeiro com animais vindos de Espanha. Vamos investir 10 milhões de euros», esclareceu Nunes Correia. A reserva da Malcata foi, pura e simplemente, esquecida.
Falar do ministro da Saúde é lembrar que nascem cada vez mais bebés nas ambulâncias deste País e a urgência médica para os sabugalenses está lá longe na Guarda…
Falar do ministro da Agricultura é recordar a facilidade com que fala do abate de vinhas, da diminuição de quotas de leite, da redução de incentivos à agricultura…
Não resisto a lembrar uma passagem da «República» de Platão (que considero ter servido de inspiração ao «Senhor dos Anéis» de J.R.R. Tolkien) e onde se descreve Giges um pastor que encontra numa caverna um anel de ouro com propriedades mágicas. Tornava invisível quem o usasse. Giges passou a ter o poder de decidir, de matar o rei, seduzir a rainha e ocupar o trono. O poder em personalidades fracas corrompe e são tantas as solicitações, as exigências, as pressões…
Ainda agora chegou ao fim e já temos saudades
Ainda agora chegou ao fim e já temos saudades de Agosto. Os nossos familiares, as aldeias em festa, as capeias, o doce linguajar, os cheiros da nossa terra, a roda de amigos…
Tudo acontece em Agosto nas freguesias raianas muito à semelhança dos concelhos em redor marcados pela emigração.
As iniciativas em prol do desenvolvimento e promoção do Sabugal são de louvar mas, definitivamente, a solução passa por apostar forte nas nossas marcas, nas nossas tradições, na nossa história. O teste está feito e não pode ser esquecido.
Os mandatos autárquicos estão a meio. Alguns projectos já passaram do papel para a realidade. E já há boas e bonitas obras concluídas.
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«A Cidade e as Terras», opinião de José Carlos Lages
(artigo escrito de acordo com a antiga ortografia.)
Caro José Carlos
Passando de lado os comentários aos bebés que nascem nas ambulâncias, pois penso que foi um atentado às mulheres do Concelho de Sabugal terem fechado todas as maternidades que havia nas nossa aldeias (já me esquecia que não havia maternidades no Concelho…), considero que levanta uma quastão, a do Lince Ibérico, que nos deve conduzir a uma outra reflexão, a que espero voltar noutra ocasião, mas que não deixo de colocar desde já: O lince é da Serra da Malcata que é uma Reserva Natural, que abarca território dos Concelhos do Sabugal e de Penamacor, pelo menos.
E a pergunta que se deve colocar é a seguinte: A questão do Algarve tem anos, foi falada em todos os jornais e canais de televisão. Então e as Autarquias da Serra não tiveram nada para dizer? O Sabugal e Penamacor não avançaram com uma proposta alternativa para que a iniciativa ficasse no lugar onde devia ter ficado? Ou pensamos que bastam os nossos lindos olhos para que todos venham beber^à mão?
A competitividade entre cidades e regiões é hoje uma “guerra” tão ou mais intensa que a competitividade das empresas. E como diz o Povo, quem tem unhas toca viola…
E já não chega chorar. Hoje é preciso apresentar propostas, definir estratégias, ir à luta.
E se já não formos a tempo, ao menos que os linces criados no Algarve sejam libertados na Serra da Malcat, permitindo a fixação de novo deste tão belo animal.
Ramiro Matos
O concelho do Sabugal necessita de acordar.
Estamos a viver momentos importantes para o futuro do nosso concelho. O passado já lá vai e a história deixou marcas profundas nos homens e mulheres destas terras raianas, para não falar da juventude que ainda continua a sentir necessidade de sair para outras paragens à procura da felicidade. São pessoas com o pensamento do sr.José Carlos Lages que podem ajudar o Sabugal e as suas gentes a serem reconhecidos pelos valores humanos, territoriais, arquitectónicos…e pelo “carinho e sentimento de pertença” ao Lince Ibérico que tantos sacrifícios passaram e de um dia para o outro, os senhores de Lisboa, ceifaram rente os sonhos de muitos raianos. Viva o concelho de Sabugal!