Manuel Leitão é um quase anónimo artesão do concelho do Sabugal. Natural de Ruivós e emigrante em França dedica os seus tempos livres a esculpir estátuas em madeira. Aceitou um desafio, abriu uma excepção, e esculpiu em granito uma estátua em tamanho natural de São Paulo que ofereceu ao povo de Ruivós. A 14 de Agosto de 2007 foi homenageado na sua terra natal.
Manuel Leitão é natural de Ruivós. A sua mulher Edite nasceu em Águas Belas mas quis o destino que se conhecessem, emigrantes, em terras de França. Por lá ficaram, por lá nasceram duas filhas. E para que a harmonia se mantivesse a casa de férias foi reconstruída no Sabugal, na Praça da República, com vista para a torre do relógio e para a Câmara Municipal a meio-caminho entre as duas aldeias.
Desde sempre dado a esculpir estátuas em madeira tem marcado presença em algumas feiras de artesanato realizadas no concelho do Sabugal. Obras únicas influenciadas por uma vivência repartida entre França e as suas origens.
Quis um acaso do destino que o homónimo empreiteiro de Ruivós, Manuel Leitão, numa demolição recuperasse da frontaria de uma casa grande bloco de granito. Logo ali achou que o melhor destino seria ofertá-lo ao outro Manel e esperar para ver…
Com a ajuda de um tractor a pedra foi colocada no antigo cabanal da família. E assim começou a tarefa de esculpir a estátua do apóstolo São Paulo à qual dedicou as férias de quatro anos consecutivos.
A estátua foi inaugurada em Agosto de 2006 e benzida pelo saudoso padre António Sanches recentemente falecido.
Um ano depois o povo de Ruivós reuniu-se num grande convívio para dizer «Bem-hajas Manel».
«A maior dificuldade foi ter o bloco de granito deitado. Bom… Na verdade tive mais dificuldades. Não tinha luz no cabanal e sabia que era uma pedra única. Se falhasse deitava tudo a perder. Vim muitos dias trabalhar para Ruivós e a Edite ficava no Sabugal. Felizmente ela compreendia», diz-nos na sua maneira de ser introvertida.
– E a festa foi bonita?
– Foi uma grande surpresa. Nem a minha mulher, nem as minhas irmãs, nem as minhas filhas abriram o jogo. Percebi uns dias antes que estavam a preparar qualquer coisa. Mas tudo isto tomou uma dimensão que não estava à espera. Quando me disseram para ocupar o lugar principal da mesa nem queria acreditar.
O agradecimento preparado em segredo durante quase um ano tinha programado uma missa solene, uma procissão até à capela de São Paulo no cemitério de Ruivós e um jantar-convívio aberto a todos.
«Agradeço a todos. Em primeiro lugar ao senhor Bispo da Guarda, D. Manuel Felício, aos senhores padres Américo e Carlos, ao diácono Lucas e ao senhor vereador António Robalo que tiveram a gentileza de estar presentes num mês em que têm uma agenda muito apertada e um abraço muito especial aos organizadores, os meus amigos Inácio Leitão, Isidoro Gonçalves e Manuel Leitão».
Mesmo quando os povos anda arredios, mesmo quando todos ralham, mesmo quando todos acham que têm razão, há momentos, há agradecimentos a que todos estão obrigados. A história destes momentos e os momentos desta História também se escrevem com grandes gestos de assinatura anónima.
E que diferença quando numa mesa com mais de 150 pessoas conhecemos o nome de todas. Na cidade seria quase impossível.
Vivam as nossas terras raianas! Vivam as nossas gentes raianas!
jcl