Hoje faz cem anos que o poeta transmontano nasceu em São Martinho de Anta, concelho de Sabrosa e distrito de Vila Real. O seu nome era Adolfo Correia da Rocha, mas para as letras ficou conhecido como Miguel Torga.
Médico de profissão, com consultório em Coimbra, e viajante inveterado pelas terras de Portugal e de todo o mundo, nunca perdeu a ligação às origens. Adorava a caça e as andanças pelos campos e pelas aldeias recônditas, saboreando o contacto com a terra e o povo.
Na escrita foi poeta, romancista, memorialista e contista de alta estripe, sendo unanimemente considerado como expoente das letras pátrias. Toda a sua vasta obra literária é um tributo ao amor entre os homens, o que levou David Mourão-Ferreira a dizer que Torga é a «reencarnação de um poeta mítico por excelência – daquele que vive na intimidade das forças elementares (a terra, o sol, o vento, a água) para celebrá-las com o seu canto – e alto exemplo de constante rebeldia, numa atmosfera que pretende asfixiá-lo».
Parte dos seus livros (na poesia e na prosa) são a afirmação de um homem rural, que recusa a fatalidade da vida citadina, impondo-se como filho do campo que não mais aceita desligar-se das origens. Nas obras que escreveu estão presentes as serras e as fragas transmontanas, os pais, o professor e os colegas de escola e a demais gente da aldeia. As terras montanhosas e o valeroso povo que as habita são, afinal, os grandes amores da sua vida, a eles dedicando o melhor da escrita.
Associando-nos às comemorações, transcrevemos do seu Diário XI o poema Manhã, escrito na Miuzela do Côa em 7 de Novembro de 1971 quando andava em caçadas nas nossas terras ribacudanas:
Largo sorriso da terra
A festejar o sol nado;
Um arado
Aguça a ponta de ferro
Na luz macia,
Antes de começar o dia
De trabalho;
Por um atalho,
Vestido de lã churra,
Rola um rebanho, à frente
Do pastor paciente
Que o empurra.
As comemorações estendem-se por todo país, que rende preito ao grande poeta. Porém o ponto alto acontece em Coimbra, com a abertura da Casa-Museu Miguel Torga, onde vai ficar todo o seu espólio.
plb
É um escritor genial!
A melhor homenagem que podemos fazer-lhe (nos) é lê-lo.