Zitas tornou-se um nome internacional.
Um dia, lá por voltas de 1929, foi colocado na Guarda um padre novo, natural de Casegas, que em breve, em visitas ao hospital, se apercebeu do frequente internamento de mulheres da má vida, algumas delas a braços com sequelas pós-abortivas, quase sempre jovens, oriundas das aldeias, que tinham procurado trabalho doméstico na cidade, e eram vítimas de estupro, de exploração e de violação. Em noite gélida de Inverno, passando numa rua, ouviu gemidos que vinham da escada de um prédio. Abeirou-se. Era uma criada de servir, posta na rua, ao abandono. Vítima do senhor da casa? Vítima de qualquer outro cujo fruto a dona da casa se negava a receber? O problema das criadas de servir era, na Guarda, uma realidade moral e social solicitando um bom samaritano. Veio ele na pessoa do Padre Joaquim Alves Brás (falecidoem 1966). Começou por fazer umas reuniões para criadas (empregadas domésticas) na Igreja de São Vicente, por volta das seis da manhã. Depressa arranjou um braço direito, uma mulher, Maria José Lucas (Zézinha), também criada em boa família, mas que tinha uma casinha modesta perto da Igreja. Aí se fundou um larzinho de acolhimento. Um ovo de onde nasceu a OPFC (Obra de Previdência e Formação de Criadas), sob a protecção de Santa Zita.
A obra, actualmente, Instituto Secular, nasceu oficialmente em 1932, no meio da antipatia dos senhores que achavam a obra um braço da revolução social. Cresceu, expandiu-se no País e no estrangeiro. Evoluiu, formou, preparou, salvou da desgraça milhares de raparigas a quem arranjou sério emprego e justo modo de vida. As Zitas celebram este ano 75 anos de vida. O distrito da Guarda, é o seu primeiro devedor, juntamente com os concelhos em redor, de onde saíam raparigas à procura de emprego como criadas. Algumas terão caído. Milhares de outras mantiveram-se firmes, de pé, e de honra. A OPFC é a obra social mais importante nascida na nossa região.
«Carta Dominical» de Pinharanda Gomes
pinharandagomes@gmail.com
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