Quem, no Sabugal, vai da Nave para a Bismula e passa por Aldeia da Dona não pode deixar de reparar nas estátuas em ferro, nos barrocos pintados e no carro de vacas que suporta o mapa com o roteiro da aldeia. Muitas delas têm a assinatura de Kim Prisu.
Joaquim António Gonçalves Borregana nasceu em Aldeia da Dona, concelho do Sabugal, no ano de 1962. Com apenas nove meses foi levado para terras de França. A cosmopolita cultura urbana provoca uma «metamorfose» no jovem emigrante Joaquim e transforma-o em Kim Prisu, o artista videomatik das cores fortes (eléctricas e saturadas) e contrastantes entre a sociedade de consumo e as terras de ribacôa.
Entre 1975 e 1980 dedicou-se à banda desenhada e à criação de cartazes para bandas de rock alternativo. Expõe pela primeira vez em 1979 numa colectiva de desenhos «Bouse du Travail» em St. Denis, nos arredores de Paris e desde então tem marcado presença em dezenas de exposições incluindo a Galeria Cristophe da Avenida Matignon.
Em 1986 criou um cartaz publicitário «Creation Libre» para os 100 anos da Mercedes organizado pela agência «Pulsion» e em 1990 pintou um painel de dez metros no muro de Berlim-Leste organizado pela galeria de arte «East Side Gallery CDR». A sua criatividade estende-se a cenários para televisão e para teatro, cenografias, anúncios publicitários em placards, cartazes e capas de livros. A ilustração da primeira página do número 100 do jornal guardense «Terras da Beira» tem a sua assinatura.
Na sua aldeia natal à qual Kim Prisu gosta de chamar «Aldeia da Dona, Aldeia Cultural» tem uma exposição de rua permanente: «O lavrador», «O pastor, a cabra e o cão» e «O Cavador» feitos com utensílios usados da lavoura (em conjunto com A.L.Tony igualmente artista e natural da aldeia) e o «Tocador» de seu nome «Alegria».
O artista considera que «a sua obra está em constante transformação, sendo por vezes contraditória da realidade com tensões exteriores e interiores numa representação expressiva dos estados humanos» seguindo actualmente o conceito de arte total com os Inteiros criado em 2003 numa filosofia Impensamental.
A viver actualmente no Pinhal Novo, perto de Lisboa, Kim Prisu é um artista plástico de sensibilidade apurada, reservado numa grande humanidade e como gosta de afirmar «sempre surpreendido pela dimensão deste planeta sente-se mais vivo do que nunca».
Espalhados pela «aldeia cultural» podemos testemunhar um olhar de Kim Prisu sobre a nossa época e modos de vida cada vez mais efémeros.
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José Carlos Lages
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