Consultámos há tempos, os volumes do «Dicionário das Freguesias», editado pela ANAFRE. Eis um choque frontal: o Dicionário informa que o orago de Quadrazais é Santa Eufêmia! Quem, e quando, nomeou a Santa Eufémia orago de Quadrazais? A paróquia existe desde antes do século XIV, sendo uma das poucas da Raia com dignidade de Abadia, de onde o pároco tem direito ao tratamento de Abade, no mesmo plano do pároco do Sabugal.

A imagem de Quadrazais foi (talvez hoje não seja) controversa. Polémica. Quem leu o «Maria Mim» de Nuno de Montemor não deixa de sentir algum tremor face aos testemunhos que ele registou, depreciativos para a freguesia. Sentimos a depreciação em carne viva, quando, identificando a nossa naturalidade, com frequência vinha à baila o ápodo de contrabandistas. Tomavam, os estranhos a parte pelo todo, e faziam gala de acusar os quadrazenhos por uma actividade que só no Liberalismo deveio efectivo crime. A Raia do Côa foi secularmente aberta, e talvez voltemos a este assunto.
O tema de hoje é, porém, a negligência de Quadrazais na apresentação da sua imagem. Consultámos há tempos, os volumes do «Dicionário das Freguesias», editado pela ANAFRE. Eis um choque frontal: o Dicionário informa que o orago de Quadrazais é Santa Eufêmia! Quem, e quando, nomeou a Santa Eufémia orago de Quadrazais? A paróquia existe desde antes do século XIV, sendo uma das poucas da Raia com dignidade de Abadia, de onde o pároco tem direito ao tratamento de Abade, no mesmo plano do pároco do Sabugal.
Em antiquíssimo documento régio, de 1320/1321, lá aparece a paróquia de «Santa Maria de Quadrazais». De facto e de direito o orago quadrazenho é Santa Maria, do título de Santa Maria Maior, ou seja, Nossa Senhora da Assunção, que se venerava no trono principal da igreja matriz. Santa Eufêmia tem jus à fama de imagem das mais populares da Raia, mas não é orago. Aliás, quem redigiu o artigo sobre Quadrazais devia ter conferido as informações em qualquer enciclopédia (que habitualmente dedicam várias linhas à freguesia, com grande rigor) ou perguntar ao pároco qual o nome do orago.
Motivo de perplexidade é também a pequenez da notícia do dicionário da ANAFRE. Quadrazais mais parece ali uma quinta, quando a sua notícia se compara com a de freguesias em volta, como Malcata, que ocupa uma boa página, contra Quadrazais, ocupando talvez 1/8. E, no entanto, acerca de Quadrazais há inúmeros estudos publicados, uns generalistas, outros especialistas.
Há atenuante para tão magro e errado tratamento da nossa imagem?
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«Carta Dominical», por Jesué Pinharanda Gomes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Fevereiro de 2007 a Setembro de 2018)
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