«Temos gente a menos e menos economia? Que relação entre as duas parcelas? Que fazer?» Eis uma pergunta que o senhor bispo da Guarda deixou na nossa mente quando, há dias, num encontro ocasional em Lisboa, revelou a sua preocupação com Quadrazais, cujo definhamento temia. Tempo de morrer, ou tempo para nascer?
A Raia da Beira está despovoada. Já na Idade Média, perante o avanço das hostes muçulmanas, a Raia sofreu um fenómeno chamado «ermamento» também significado no termo jurídico «fogo morto». Este termo referia a existência de casas (lares) desabitadas. Os povos haviam-se refugiado mais para Norte e Oeste, deixando as terras à disposição do invasor. Emigração forçada, tal como, por diferentes razões, a que tem afectado a região sobretudo desde os meados do vigésimo século.
Alguma vez a Raia terá albergado gente a mais, quer dizer, gente para cujo número as disponibilidades económicas eram amplamente insuficientes. A relação economia/população é um binómio inevitável: o excesso populacional torna problemática a deficiência económica, mas, de modo análogo, a deficiência económica põe em causa a suficiência populacional.
Parece serem elas inversamente proporcionais e, por isso, se diz elas desenharem um círculo vicioso, significado na expressão «pescadinha de rabo na boca». Ora não há gente por não haver condições económicas, ora não há condições económicas por não haver gente. Na verdade, se não houver gente não haverá economia, ou esta será um espécie de «mão-morta». Existe, mas não serve.
Esta reflexão vem na sequência de uma breve estatística publicada no jornal «Nordeste» envolvendo apenas três freguesias: Quadrazais, onde foram baptizadas cinco crianças (decerto uma que outra nascida fora) e se verificaram 22 óbitos, sabemos que alguns na emigração. O Soito apresenta uma relação de 11 baptismos para 20 óbitos, e Vila Boa três contra oito. Esta estatística tem mais do que uma curiosidade: a fraca natalidade do Soito, apesar da sua eficácia económica, pondo em causa o princípio economicista, e a progressiva extinção(?) de uma freguesia que foi deveras populosa. Mais se morre do que se nasce, o fenómeno da despopulação está à vista. Aliás, confrontando os censos de três mais modernos, o concelho do Sabugal, com 23.371 habitantes em 1970, aparece com 18.927 em 1981 e, pasmemos, no censo de 2001 com apenas 14.871 – quer dizer, pelo menos 8500 pessoas ou faleceram, ou emigraram nos últimos 30 anos.
Temos gente a menos e menos economia? Que relação entre as duas parcelas? Que fazer? Eis uma pergunta que o senhor bispo da Guarda deixou na nossa mente quando, há dias, num encontro ocasional em Lisboa, revelou a sua preocupação com Quadrazais, cujo definhamento temia.
Tempo de morrer, ou tempo para nascer?
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«Carta Dominical», por Jesué Pinharanda Gomes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Fevereiro de 2007 a Setembro de 2018)
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