Viajar hoje é quase obrigatório. Toda a gente gosta de mostrar aos amigos uma foto tirada algures longe da morada. Organizam-se excursões para visitas cá e lá fora, com viajantes que, por vezes, mal têm para comer. Mas, como é moda, toda a gente viaja.
>> ETAPA 38 >> AÇORES e CUBA.
II – VIAGENS LÁ FORA – ANOS 90 – AÇORES
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1993
Viagens Profissionais
Curiosidades
Em Fevereiro de 1993 estive nas ilhas do Faial, Pico, Graciosa, São Jorge e São Miguel.
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Em 21 de Fevereiro de 1993 fui de avião até Ponta Delgada, Açores, onde dormi no Hotel Avenida, quarto 305.
Segui de avião para o Faial, onde me encontrei com o Cardoso, meu colega da Escola Secundária Patrício Prazeres, que me acompanhou na visita da sua ilha, que eu já havia visitado. Fomos à Caldeira e ao famoso café do Peter’s, no porto.
Segui na lancha para o Pico. Dei um passeio pelas vinhas junto ao mar, plantadas entre rochas, almocei na Madalena num pequeno restaurante, onde bebi vinho de cheiro, da casta americana medronheiro. Num táxi subi a montanha do Pico.
Apanhei um avião para a ilha de São Jorge, onde visitei uma fábrica de queijos e as fajãs. Apanhei o avião para a Graciosa, onde, no dia 22 de Fevereiro, fiquei hospedado na residencial Ilha Graciosa, de 4 estrelas. Fui até às furnas da Caldeira e comprei uma garrafa de aguardente da Graciosa. Como tenho o defeito de não fixar o rosto das pessoas, voltei ao mesmo sítio, pensando tratar-se de nova loja. Venderam-me uma garrafa de água por aguardente. Tinha-me acontecido com whisky à entrada do Hospital de Santa Maria, vendido por ciganos. Comprei-lhes duas garrafas, com intenção de oferecer uma a um professor de Filosofia do 7.º ano, que me havia feito o favor de fazer a reclamação do exame para subir a nota. Felizmente abri antes uma delas e verifiquei que era chazada, senão teria passado por uma vergonha.
À noite fui às festas de Carnaval, as fantasias, imitação do Carnaval Brasileiro. Dormi na Graciosa e, no dia seguinte, apanhei o avião para Ponta Delgada para fazer o meu trabalho, tendo ficado no Hotel Avenida, quarto 306, em 23 e 24 de Fevereiro.
Entre as ilhas desloquei-me em aviões da Sata.
Em 5 de Setembro de 1993 voltaria a Ponta Delgada, tendo ficado no Hotel Avenida, quarto 215.
No dia 10 de Setembro de 1993 fui a Viseu, onde fiquei hospedado no Hotel Grão Vasco, quarto 131.
Algarve (Lagos e Praia da Rocha, onde ficava no Hotel Júpiter, meu cliente) e Porto eram locais onde tive clientes e que, por isso, foram visitados por mim.
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1993 – CUBA – Entre 8 e 18 de Abril
Curiosidades
Primeira de 43 viagens a Cuba – Paguei por aviões e hotéis=cerca de 300.000$00.
Não fiz ou não encontro o meu compte-rendu da viagem.
Por isso, tudo o que relato é por memória.
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>> 08.04.1993 >> Saí com o grupo de Lisboa para La Habana, via Caracas. Não conhecia ninguém do grupo, onde seguia o Sr. Simões, industrial de moldes da Marinha Grande, um casal também da Marinha Grande e um professor da Universidade de Coimbra.
No aeroporto José Martí esperava-nos a guia Pilar da agência de turismo Cubanacan, com um autocarro que nos levou ao Hotel Habana Libre, onde ficámos hospedados. Fica no Vedado, encostado a La Rampa, parte da avenida que vai até ao Malecón junto da baía. É uma zona nobre da cidade, onde ficam outros hotéis, como o Nacional, o Colina e o Capri, sendo alguns explorados por empresas espanholas: Guitart e Rumos. Ficam também no Vedado a Universidade Clássica e a Faculdade de Economia, a Copélia, sempre com bichas enormes para se comer um bom gelado, e o restaurante-boite Las Bullerias. Na Rampa encontra-se a feira de artesanato e outra boite-La Zorra y el Cuevo.
>> 09.04.1993 >> Visita de La Habana Viega-Catedral, La bodeguita d’el Medio, com inscrições das celebridades que a frequentaram, entre as quais Ernest Hemingway, e as ruas e paseos. A cidade parecia que tinha sido bombardeada, tal o estado de degradação em que se encontrava. Mesmo assim, percebia-se a sua grandeza do tempo colonial. Os prados, nome por que designam os jardins no centro das cidades, seguiam o modelo espanhol. O Capitólio, cópia do americano, era digno de se ver, tal como a catedral. Almoço no hotel Habana Libre. Tarde livre. À noite fomos ao espectáculo do Cabaret Tropicana, com danças tropicais, em que a salsa era rainha.
>> 10.04.1993 >> Após o pequeno-almoço seguimos de autocarro para uma visita a Guamá, com um lago com crocodilos e uma máquina dum comboio à entrada. Parece que é a máquina do comboio assaltado por Che Guevara em Santa Clara. Num quiosque estava uma moça muito bonita e muito amável. Começámos a conhecer as cubanas, moças bonitas e muito fáceis de abordar. Eu era envergonhado, incapaz de olhar de frente nos olhos uma rapariga, ainda fruto de ter andado num seminário. Perdi essa vergonha em Cuba, adquirindo o à vontade normal. Aí havia uma loja para estrangeiros, onde se poderiam adquirir artigos com dólares, a exemplo das lojas russas e de países seus satélites. A moça do quiosque pediu-nos que lhe comprássemos um artigo que estava na montra. Deu-nos os dólares necessários. Disse-nos que os cubanos estavam proibidos de entrar nessas lojas. No Verão seguinte já tinha mudado a lei. Podiam entrar desde que tivessem dólares. O turismo começava já a provocar mudanças.
De Guamá seguimos para Cienfuegos, uma cidade bonita, com um belo edifício do teatro e um palácio a servir de museu, de arquitectura semelhante à árabe. Ficava junto ao mar.
Daí seguimos para Trinidad, na província de Sancti Spiritus, a jóia colonial de Cuba. Tem uma boa praia, Ancón, a única no leste com areia branca. É uma cidade com história. O antigo palácio Cantero foi transformado em museu municipal. Ao lado, na Plaza Mayor, fica a igreja da Santíssima Trindade. O culto era livre no interior. Só não podia haver procissões no exterior. Almoçámos num pequeno restaurante junto da igreja. O almoço foi acompanhado por música tocada por um grupo de uns três cubanos. Ficámos a conhecer outra coisa típica de Cuba: em todos os bares ou restaurantes havia sempre um pequeno grupo que tocava, a pedido ou não, ao qual se dava uma gorjeta. Os da Marinha Grande pediram que tocassem a canção Comandante Che Guevara. Este era um modo de vida que alguns cubanos tinham inventado. Não raro aparecia nos bares e restaurantes um ou outro a fazer a caricatura ou o retrato de quem o pretendesse. Outro modo de vida que, muitas vezes, era importuno, por interromperem conversas. A miséria é inventiva e os cubanos eram-no.
Após o almoço seguimos para a enseada de Pasocaballo, onde chegámos já à noitinha. Perto do hotel onde íamos ficar, a estrada estava pejada de grandes caranguejos. O autocarro esmagou umas boas dezenas deles. De manhã já poucos se encontravam. Este fenómeno encontrei-o também em Varadero junto do canal, embora em menor quantidade.
Ficámos em Pasocaballo num pequeno hotel isolado, sem qualquer povoação por perto. Jantámos e assistimos a uma sessão de ilusionismo. Não havia mais para fazer senão conversar e ir para a cama.
>> 11.04.1993 >> Após o pequeno-almoço seguimos para a visita de um extenso jardim botânico, onde havia grande quantidade de palmeiras de diversas qualidades. Algumas tinham a meio do tronco uma barriga como se estivessem grávidas. Havia mesmo árvores que davam frutos venenosos, com que se podiam matar pessoas. Interessante de ver.
Seguimos então para Varadero. Ficámos nos hotéis de Punta Blanca, junto ao Canal. Alguns ficaram no hotel Paradiso, mesmo na ponta do canal, eu e outros ficámos nos apartamentos. Íamos comer ao restaurante Las Tejas, mesmo em frente ao meu apartamento. A comida, em serviço de balcão corrido do tipo cantina, até não era má e havia muita fruta. Mas isso era para os turistas. Os empregados comiam soja, de que já estavam fartos, segundo nos disseram alguns motoristas.
Varadero, praia de pescadores transformada em local de turismo pelos americanos antes dos anos 60, fica na província de Matanzas, com uma praia com 25 quilómetros, de boa areia branca, numa ilha separada de terra pelo canal que corre ao longo dela, ligada a terra por uma única ponte, que a polícia controla. Outra novidade, os cubanos não se podiam deslocar livremente. Para ir a Varadero era preciso uma autorização. Também não podiam mudar-se duma cidade para outra. A cidade de Varadero estende-se ao longo de toda a ilha ladeando uma comprida avenida. Poucas são as ruas paralelas a esta avenida. Não têm nome. São identificadas por números, como em Nova York ou em Oaxaca no México. Além dos hotéis citados há vários outros, entre eles o Tuxpan, o Superclub, Acuazul, Meliá, Barlovento, Gran Caribe,Las Morlas, Sol Palmeras e muitos outros. O turismo estava em grande ascensão. Era o petróleo de Cuba, tal como em Portugal. As autoridades estavam conscientes das mudanças inevitáveis na vida dos cubanos, mas não tinham outra opção.
Varadero tem um senão: às tardes, por vezes, o céu escurece com os fumos deitados por uma refinaria em Santa Marta, do lado de lá do canal, cheirando aos gazes expelidos e queimados no alto duma torre. Cuba tem algum petróleo de fraca qualidade, explorado pelos canadianos. A maior parte do petróleo é explorado entre La Habana e Varadero.
>> 12 a 17.04.1993 >> Dias livres em Varadero. Passávamo-los na praia, de água quente e de águas baixas, com pelicanos a sobrevoá-la em vez de gaivotas, outra novidade, e com uma imensidão de areia por onde podíamos passear livremente. Outra novidade era a presença de polícias na praia vigiando as gineteras, isto é, as moças que conversavam com os turistas. Usavam mesmo binóculos para observar os banhistas ao longe, dentro de água, que se atreviam a beijar ou apalpar as gineteras.
Estas raparigas novas eram aos montes em Varadero e também em La Habana e noutras cidades, como viria a verificar noutras viagens. Entregavam-se por um refresco ou mesmo por nada, na esperança de receberem algo. As mais batidas comportavam-se como verdadeiras prostitutas, estipulando antes o preço. Metiam-se com os turistas, mesmo acompanhados das esposas, o que originou alguns divórcios. Eu presenciei um divórcio de um casal espanhol de meia idade.
Se Luís de Camões tivesse vivido nestes tempos, teria certamente localizado a ilha dos Amores em Cuba. Não faltariam ninfas aos navegadores portugueses e não seria difícil vê-las nuas.
Em 12 de Abril, à tarde, fomos visitar o hotel Nacional, de luxo, na outra ponta da ilha. Estavam lá a filmar. A intérprete era uma moça muito bonita. Eu e um do grupo falámos com ela, contra a vontade do chefe. Voltámos a vê-la a meio da praia de Varadero, onde continuavam as filmar. O resto dos dias passámo-los na praia.
Até que chegou o dia de regresso a Lisboa. No aeroporto José Martí, nome dum filósofo cubano, o seu Karl Max, em La Habana, conheci uma moça muito bonita e simpática, a Haydée, com quem conversei algum tempo, juntamente com um elemento do grupo, o que levou a cenas de ciúmes por parte de sua mulher. As cubanas eram um perigo!
Via-se que as pessoas viviam com dificuldades, talvez algumas passassem fome. Porém, não me parece que houvesse quem morresse de fome. Vestiam de maneira simples, sem as extravagâncias das europeias. Eram simpáticas, mas muito interesseiras. Dava-se-lhes a mão e tomavam também o pé. A conversa delas era sempre: «vamos compartir algo». Compartir para eles era o turista pagar tudo. O prof. da Universidade de Coimbra do grupo foi convidado a ir a casa de uma família cubana. Aceitou e disse que ele pagaria as bebidas. Pois, sim, o cubano levou-o a uma loja e vá de encher o carrinho de grande quantidade de cervejas. Depois veio contar-me como era a hospitalidade dos cubanos.
>> 18.04.1993 >> Chegada a Lisboa, tendo viajado durante a noite.
(Fim da Etapa 38.)
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«Viagens dum Globetrotter», por Franklim Costa Braga
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