Em criança tive oportunidade de ver o filme do realizador Robert Siodmak, de 1967, com tradução em português «Os bravos não se rendem». Esta obra marcou-me bastante, porque na época «os bons» acabavam sempre em heróis. Só que neste caso o «herói» ficou imortalizado na História dos Estados Unidos, mas morto pelo inimigo como o único sobrevivente de uma batalha sangrenta, segurando a bandeira do seu país na mão.
A batalha de Litle Bighorn, decorreu junto ao rio com o mesmo nome, tendo as tribos indígenas, sob o comando do «Touro Sentado» e do «Cavalo Louco» vencido o colonizador, ficando na história como a maior derrota do exército americano durante a «Great Sioux War».
No dia 25 de junho de 1876, nos territórios de Montana, um destacamento do 7.º Regimento de Cavalaria americano foi dizimado pelos nativos, neste caso Arapacho e os Lakota, que não pretendiam regressar às designadas zonas de «reserva».
O objetivo americano era desfazer a coligação de diferentes tribos que se estavam a juntar no sentido de travar o avanço da colonização americana e impedirem a estratégia de ficarem confinados em guetos, como mais tarde acabou por acontecer.
A diferença de homens era substancial a favor dos indígenas, que detinham perto do dobro de efetivos do destacamento americano, guias indígenas e alguns civis que apoiavam a colonização. Mas não foi só esta a causa que contribuiu para a derrota.
Grande parte do destacamento não teve preparação militar adequada, para além da sua condição física e de nutrição igualmente não ser a melhor para um desafio de «tudo ou nada». Houve ainda outro erro que devo salientar: foram substituídos oficiais de comando com pouca experiência neste tipo de operações.
Esta batalha é muito referenciada na história militar como um exemplo do que não se deve fazer. Este «excesso de confiança» de Custer levou à sua morte e de muitos dos seus camaradas de armas.
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No nosso dia a dia também nos acontece o mesmo, sendo provavelmente o exemplo mais consensual para os leitores o jogo de futebol. Quantas vezes equipas fortes são derrotadas por equipas «aparentemente» mais fracas.
E na nossa vida, quantas decisões foram tomadas a pensar-se num risco calculado e os acontecimentos precipitam-se tornando a situação insustentável e levando-nos à «derrota».
Este exemplo é um convite à reflexão. A diferença é que nalgumas sociedades é usada como aprendizagem de forma a que o erro, ou erros, não voltem a ser cometidos. Porem noutras o peso da negatividade prevalece, e a condenação e acusação do responsável é o mote que ficará para a posteridade.
Infelizmente não vale a pena insistir em aproximar estas posições, porque a questão de fundo é social, ou até genética. No entanto acho que se deve pautar pelo «meio termo» porque a responsabilidade deve ser assumida sem, no entanto, de se deixar um «recado» de que em próximas situações não se pode tolerar os mesmos erros ou falhas. Mas se os mesmos erros persistirem analisarem-se as causas e implementar medidas para se corrigirem.
Do texto desta crónica tento mostrar dois aspetos fundamentais para uma sociedade dita evoluída. Aprender com os erros e todos temos um lugar na sociedade.
Pena é que às vezes nos esquecemos que somos humanos!
Lisboa, 6 de Janeiro de 2019
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«No trilho das minhas memórias», por António José Alçada
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Junho de 2017)
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Por vezes esquecemos que somos humanos….perecíveis e falíveis….e a memória tende a ser curta como curto o olvido…
Obrigado pelas suas palavras Cristina. Bem haja
Muito obrigado. Como está escrito no texto, a base foi um filme de 1967. Nos dias da história da Antena2 o assunto também foi abordado com as questões dos erros cometidos na preparação da missão. Obviamente que concordo que neste caso os índios foram vitoriosos mas infelizmente acabaram por capitular mais tarde. Agora provavelmente o general poderá ter sido logo atingido embora neste filme de Hollywood foi o último. Mas o texto vai para além do Custer. Convida a refletir de que a derrota espreita quando menos esperamos e menos preparados estamos. Bem haja por ter lido o artigo.
Senhor António José Alçada :
Segundo reza a história, Custer era um casmurro e pouco desejável pelos seus subordinados. É imortalizado num célebre quadro ( tenho junto a mim uma das milhares de réplicas que se fizeram ) em que está quase só a lutar contra um número elevadíssimo de «índios», significando isto que foi dos últimos a cair morto na batalha. Mas é mentira, Custer foi o primeiro, ou um dos primeiros a tombar. Os «índios» não eram parvos ! Sabiam que quando caía o comandante do inimigo era mais fácil a vitória.
Voltando a Custer, o nosso Povo tem um ditado que diz o seguinte : Arranja fama e deita-te na cama.
António Emídio