Na semana passada, no âmbito um de encontro, promovido pelo Conselho de Reitores, em que se discutiu o financiamento do ensino superior, um dos dados mais referido, na comunicação social, foi a elevada percentagem de alunos, 60 por cento, que não prossegue estudos, ligando-se isso, nalguma medida, ao pagamento das propinas.
Julgo que a razão, para esta elevada percentagem de alunos não ir para o ensino superior, é muito mais vasta e muito mais complexa do que o problema das propinas e das dificuldades económicas das famílias – que eu não menorizo, porque estão na base de muitas das opções que as pessoas tomam.
Há, desde logo, uma razão sociocultural, mais estrutural e mais determinante, que tem a ver com o contexto familiar e social em que os alunos vivem. Não é a mesma coisa, a nível de expetativas e de valorização da escola, pertencer a uma família social e culturalmente privilegiada ou pertencer a uma família com baixos níveis de escolarização, sem possibilidades de acompanhamento escolar dos filhos, desde os primeiros ciclos, e com poucas ou nenhumas preocupações culturais. Nestes casos, mesmo que não desvalorizem a escola, pais e filhos têm, no geral, baixas expetativas. Terminar o ensino obrigatório, é o máximo a que aspiram e nem sempre, diga-se, com o sucesso desejado.
Mas, há, também, razões que têm a ver com opções de política educativa, falo da organização do ensino secundário; por exemplo, dos cursos técnico-profissionais, em que os alunos, embora, podendo aceder ao ensino superior, procuram, na sua grande maioria, uma saída profissional condizente com as competências adquiridas, o que nem sempre acontece. A perceção é a de que há dificuldades, tanto na formação como na empregabilidade, e isto não deixa de ser estranho, pois, a oferta, em cada escola, devia, à partida, ter a ver com as necessidades reais das empresas e dos empregadores locais.
Portanto, melhorar a situação económica das famílias é fundamental, mas também o é perceber como se criam altas expetativas e se avaliam, de forma criteriosa, as respostas profissionalizantes existentes. A estratégia, para alterar os dados, não é fácil nem simples.
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«Rostos e Contextos», crónica de Maria Rosa Afonso
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