Embora já com uns dias de atraso em relação ao que se passou em França, principalmente em Paris com os «coletes amarelos», hoje escrevi sobre essas mobilizações e manifestações que surpreenderam o Mundo, esquecendo este, que as injustiças sociais e o fosso entre as elites e as classes populares cada vez é mais largo e profundo.
Não podemos considerar este movimento como uma repetição da História, de 1789, 1968 e outras lutas sociais dos séculos XIX e XX, aqui, a burguesia e as classes populares lutaram lado a lado, hoje, os «coletes amarelos» representam as classes populares e uma classe média empobrecida, não estando ligados a nenhum partido politico ou sindicato, nem líder têm. Acabou aquela velha divisão entre direita e esquerda, pensava-se há meia dúzia de anos que a direita representava os ricos, e a esquerda os pobres, puro engano, ambos exploram quem trabalha e trabalhou toda uma vida.
O que está a acontecer é uma marginalização das classes populares e médias que começa com Margareth Thatcher e Ronald Reagan nos anos 80 do século passado e se mantém até aos nossos dias. Surge então esse movimento que é revelador da crise democrática e cultural transversal a todos os países ocidentais, que segundo alguns analistas políticos é um efeito da Globalização Neoliberal.
Os protestos em França surgem das pequenas e médias cidades, e como é natural também da periferia de Paris, dos bairros pobres, das zonas mais abandonadas pelo poder politico e económico, porque estão longe das grandes megalópolis globalizadas onde se cria emprego e riqueza. Esta Globalização cria riqueza, mas não sociedade, ou seja, tudo se concentra nas grandes cidades, o interior dos países é abandonado à sua sorte, essa é uma das ordens do F.M.I e dos Mercados!!! Temos um exemplo nas nossas terras, o Estado está ou não a abandonar-nos? Há quanto tempo não passa aqui um Presidente da República? Um Primeiro Ministro? Quantas ameaças não levamos já que iriam tirar organismos públicos? Até que um dia saem mesmo! Estamos reduzidos a um Feudo… Quantos jovens já partiram para grandes cidade e para o estrangeiro? E ainda não perdemos as nossas tradições porque vivemos durante cinquenta anos (Estado Novo) debaixo de um isolamento cultural que nos fez olhar para dentro, obrigando-nos a preservá-las, até quando não sei.
O problema não está nestas terras nem nestas gentes, está no modelo económico não igualitário do nosso País que é consequência da Globalização a nível mundial.
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«Passeio pelo Côa», opinião de António Emídio
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Junho de 2008)
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