Vivemos uma época em que as alfaias agrícolas tradicionais tendem a desaparecer, dando lugar à maquinaria, por outro lado, o envelhecimento da população e a globalização colocam em risco de extinção o modo de vida tradicional. A criação de um museu seria fundamental para desenvolvimento integrado e sustentável da região, procurando recuperar, preservar e inventariar o património local e contribuindo para a sua divulgação.
«É preciso conhecer o passado para saber preparar o futuro»
Jacques le Goff
1 – Fontes escritas
É compreensível a inexistência dos registos paroquiais da época das invasões francesas. Por onde passaram destruíram o que encontraram. Mas, muitos desapareceram posteriormente! De quem é a culpa?
Em matéria de assistência social, no século XIX, todo o mundo parece desconhecer que existiu a Roda! Algumas provas materiais da sua existência ignoram-se! Uma hipótese seria funcionar na Igreja da Misericórdia e com a ruína desta extinguirem-se. Na década de 1990 foi feita a inventariação do acervo documental existente na Câmara Municipal de Sabugal, destacando a passagem seguinte: «Saúde e Assistência: Expostos – Matrícula de Expostos 1819-1823 (1lv)».
Deverá ser o mesmo que hoje tem o título: «Sortelha: Livro 2.º Matrícula dos Expostos 1819-1823». Trata-se de uma caixa/pasta de plástico. Dentro estão folhas soltas, em elevado estado de degradação, algumas datadas de 1818 e outras de anos posteriores a 1823. Fazendo uma interpretação literal, da citação ut supra, concluímos que nos últimos cerca de vinte anos verificou-se uma deterioração dos materiais; por outro lado, significa que a instituição deverá ser anterior a 1818 e que falta o Livro 1.º. A Câmara Municipal de Sabugal tem o dever de investir na preservação da documentação existente, nomeadamente proceder à sua digitalização e disponibilizá-la. A boa vontade, empenho e simpatia dos funcionários é insuficiente!
Desconhece-se o paradeiro de diversos Livros de «Matrícula e Contabilidade dos Expostos», mas existiram, porque são referidos diversas vezes nas Atas das Sessões da Câmara Municipal de Sortelha, o mesmo acontece com «O Regulamento dos Expostos» (referido em diversas passagens dos Livros de Matrícula dos Expostos e Atas das Sessões da Câmara Municipal de Sortelha, existentes no Arquivo Distrital da Guarda e Arquivo Municipal de Sabugal, respetivamente). Afinal, onde estão? Talvez fosse razoável pensar em realizar uma Caça ao Tesouro em Sortelha! Será que estão esquecidos em alguma casa particular, ou debaixo de pedras das muralhas?
2 – A Igreja da Misericórdia
«Tem Caza de Mizericordia a sua origem foy no anno de mil e seis centos e vinte e seis, que a fizeram os homens Nobres desta freguezia e huma Igreja, que algum dia foy Matriz que fica fora dos muros, que antigamente se chamava a Igreja de São João o que tudo consta de hum termo feito no dito anno. Tem de renda huns anos pelos outros trinta mil reis. Tem a dita Igreja três Altares o de São João, o de Santo Christo e o de Santa Ritta, e esta romagem he muito prefeita e milagrosa.»
Este documento possibilitaria uma eventual reconstrução próxima do original. É uma questão de opção de quem pode decidir. Durante muitas décadas, antes da construção do cemitério em meados do século XIX, foi o local onde se sepultavam os pobres, que eram seguramente a maioria da população. Esta informação devia constar no local.
3 – Castelo e muralhas
Visitar e usufruir de todos os benefícios visuais que pode proporcionar é uma aventura! Entrar e subir às muralhas começa o perigo, não existem corrimões e balaustres para protecção; subir à torre de menagem exige alguma destreza física, não é para todos! Para os que conseguirem entrar, subir ao topo é uma miragem, pois não existe um escadório interior que o permita!
Não compreendo a não intervenção neste espaço!
Existem alguns castelos em situação parecida; mas muitos sofreram requalificações sem danificar o que existe. Neste país são tantos que apetece perguntar: «Quantos querem?»
O próprio castelo do Sabugal tem um escadório interior que permite o acesso ao topo da torre de menagem. Então porque não pode ter o de Sortelha? Criar condições de segurança, colocando uma estrutura que permita o acesso à torre e um escadório interior, que possibilitasse a observação da paisagem até Espanha, possibilitaria mostrar aos visitantes a sua função original e importância geo-estratégica na Idade Média, resultando numa valorização do espaço e do monumento.
Temos cinco castelos no concelho e nenhum tem um espaço interativo, como existe em diversos neste país! Porque não fazer a experiência em Sortelha?
4 – A necessidade de um museu
Vivemos uma época em que as alfaias agrícolas tradicionais tendem a desaparecer, dando lugar à maquinaria, por outro lado, o envelhecimento da população e a globalização colocam em risco de extinção o modo de vida tradicional.
Muitos jovens desconhecem o nome e função de muitas alfaias agrícolas e instrumentos artesanais. Assim, é urgente construir infraestruturas capazes de preservar a memória deste povo. Se não gostarem do nome inventem outro: Ecomuseu, Centro de Interpretação…
A criação de uma instituição desta natureza seria um pólo fundamental no desenvolvimento integrado e sustentável da região, trabalhando com as instituições locais e as pessoas.
Os antigos concelhos de Sortelha e Vila do Touro têm características diferentes da região de Ribacôa. A capeia arraiana não tem tradição entre estas populações, ao contrário do que acontece na restante parte do concelho. Assumam-se as diferenças e procure-se tirar partido dessa situação!
Assim, perante o exposto, poderia ter os objectivos seguintes:
1 – Inventariação e preservação do património material e imaterial, de matriz rural, que caracteriza a região (seria um local onde se poderiam guardar documentos de interesse público, que possam ser importantes para a história local e se encontrem na posse de particulares, assegurando condições para a sua conservação);
2 – Valorização e divulgação dos recursos locais;
3 – Criação/divulgação da marca «Sortelha»;
4 – Formação e participação para a cidadania, envolvendo os jovens e comunidade escolar da região, promovendo o desenvolvimento da região;
5 – Concertação e cooperação;
6 – Reforço identitário: Estimular o sentimento de pertença e a autoestima aos habitantes da região;
7 – Inclusão de um espaço multimédia projetando as riquezas do território num futuro marcado pela tecnologia e inovação ao serviço da população.
Em 2028 comemorar-se-ão 800 anos de elevação de Sortelha a vila (foral de D. Sancho I). Temos uma boa oportunidade para celebrar com dignidade!
Notas finais:
1 – Aquilo que Sortelha é deve-o a muitas gerações de miseráveis que aqui trabalharam, recebendo em troca pouco mais que o alimento para sobreviverem. Nem palha tinham para encher a enxerga! Quantos terão morrido na construção das muralhas e do castelo? Quantas crianças aqui foram abandonadas, servindo de criados nas casas mais abastadas? Foi esta criadagem que permitiu a manutenção das estruturas económico-sociais medievais até ao século XX! Porque não aproveitar a data para prestar-lhes homenagem?
Estes foram os verdadeiros heróis! A eles devemos o que Sortelha é hoje.
2 – Construa-se um parque do povo com um memorial.
3 – Espero que os nossos representantes políticos locais tenham coragem de adoptar estas ideias! Podem aproveitar o «investimento de 1,06 milhões de euros para melhorar a acessibilidade geral das aldeias e torná-las mais inclusivas, para pessoas com mobilidade condicionada e invisuais», disponibilizados pelo projecto «Aldeias Históricas de Portugal All For All».
:: ::
«Memórias de Sortelha», opinião de António Gonçalves
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2019)
:: ::
:: :: ::
Damos as boas-vindas ao novo colaborador do Capeia Arraiana. António Augusto Gonçalves é natural do Dirão da Rua, freguesia de Sortelha. É professor de História do 3.º Ciclo e Secundário e, para além da actividade lectiva, dedica-se ao estudo da história da região, em especial do antigo concelho de Sortelha. Nos seus artigos semanais exporá parte das suas pesquisas, a par de opiniões e sugestões acerca da necessidade da preservação da memória histórica das nossas terras e das nossas gentes.
plb e jcl
Bom dia!, Gostaria de referir que na revista Sabucal, nº9 foi publicado um artigo da minha autoria: “Contributo para o estudo das Casas da Roda do concelho do Sabugal”, onde referi a casa da Roda de Sortelha, bem como as restantes que existiam época, no actual concelho do Sabugal. Tenho também alguma documentação referente à Roda no distrito da Guarda que teria gosto em partilhar com o autor do presente artigo. Cumprimentos Graça Ribeiro
Bom dia!
Terei muito gosto em partilhar a informação.
Sugiro que peça ao Paulo Leitão Batista o meu contacto.
De momento não quero expor-me!
Cumprimentos!
António Gonçalves
Bom dia!
Caro José Carlos Mendes.
Fui ver!
Não acrescentei nada ao que sei!
Corrijo: – Identifiquei antepassados no Casteleiro que, em devido a casamento, terão vindo para a Quarta Feira ou Sortelha.
Será difícil ir mais longe!
Muito obrigado.
Um abraço.
Caro António Augusto Gonçalves, boa noite.
Não me esqueci nem me passou ao lado a sua referência a familiares seus / Gonçalves que em finais do século XVIII – início do século XIX terão ido de Sortelha vivaer para o Casteleiro.
Já fiz perguntas, mas não concluí nada de concreto.
Aconselho-o a tentar ajuda através desta página de Facebook, deixando lá uma mensagem c0om a pergunta, OK? É aqui:
https://www.facebook.com/freguesiadecasteleiro/
Fico a aguardar o resultado.
Abraço.
Boa noite a todos!
Este passado é de todos!
O que tenho para contar está reunido há mais de meio ano!
Neste momento tenho uma atividade profissional muito intensa, sem disponibilidade para completar as pesquisas nos arquivos.
Estou grato ao José Carlos Lages e ao Paulo Leitão Batista, este meu amigo de infância, a oportunidade de publicação.
Infelizmente, muito do que encontrei, causa-me um sentimento de tristeza e revolta!
Na genealogia da minha família encontrei um trisavô e um tretra do Casteleiro (seriam Luís Gonçalves e José Gonçalves e recuamos para início do século XIX e final do XVIII).
As publicações que se seguem referem-se à Roda dos Expostos de Sortelha.
Sobre este assunto há mais de um ano que procuro, em vão, informações sobre o casal Maria Gonçalves e João Barreiros, é fundamental para completar a informação, ela era natural do Sabugal e faleceu em 1860 ,ele era da freguesia de Sortelha e terão vivido no Arrabalde.
Um abraço.
António Gonçalves
Bom dia a todos,
E sempre com amor que leio os artigos neste site.
Hoje ainda mais. … é Sortelha. Sou natural da Rapoula mais tenho avozinhos na Vila do Touro e outras aldeias vizinhas.
Estudei a minha genealogia na Sortelha no século XVII. Assim encontrrei um antepassado juiz da Igreja da Casa da Misericordia no inicio desse século.
Este passado é o de nos todos !
Abraços de Toulouse – França
Manuel Cabral
PS: … teclado francês !
Bem-vindo, A. Gonçalves!
mas há que tempos que desejava ter informação fundamentada de tempos imemoriais de Sortelha.
De lá é a parte paterna da minha família (Azenha). De lá eram os meus professores primários (Prof Neves e esposa) e seu filho, Veterinário e Amigo Dr. Vitor Neves.
Sempre me interessaram os temas da história local e regional.
Sempre achei que Sortelha tem muito mais para nos contar…
Venham de lá então essas notas, por favor.
Força. Vamos em frente.
Nota: Não esquecer que o Casteleiro, minha aldeia, foi até 1855 uma Freguesia do até então Concelho de Sortelha, OK?
Aguardo…