Olho os jovens africanos e talvez, também, asiáticos que, por esta altura, tentam passar da Itália para França, atravessando os Alpes, não imaginando os perigos da neve e das temperaturas extremas que os podem conduzir à morte.
Vêm-me à memória outras imagens – só mudam as rotas – de centenas de jovens, vivendo um pesadelo de vários meses ou até anos, atravessando países e desertos, cruzando o mar, em embarcações precárias e sobrelotadas, passando fome, sendo enganados por traficantes, endividando-se, contraindo doenças e alguns morrendo, mesmo.
Os que finalmente chegam, no melhor dos casos, irão engrossar o número de trabalhadores clandestinos, com todos os problemas que daí resultam, ou, no pior dos casos, ser interceptados pelas autoridades e extraditados para os países de origem. Aí, resta-lhes recomeçar tudo, outra vez, acreditando que da próxima chegarão à Europa, encontrarão um trabalho e uma oportunidade de legalização.
Custa a entender como arriscam a vida, nestas condições e nesta incerteza, ainda que as razões sejam invariavelmente as mesmas: a pobreza extrema e a falta de esperança no futuro. Não ter nada, é o maior vazio; o desconhecido, por pior que possa vir a ser, coloca-se sempre como alternativa.
A imigração clandestina, que cresce na proporção das restrições que os governos ocidentais impõem à entrada legal de imigrantes, é um problema muito complexo, a exigir respostas concertadas. Sabemos que, por se tratar de pessoas que vêm à procura de trabalho, não faz sentido entrarem todos os que o desejem, sem haver a possibilidade de lhes poder garantir esse trabalho e as condições mínimas a uma vida digna, no acesso à educação, à saúde, à habitação, à segurança social…
Por isso, é importante regular os fluxos migratórios: saber quem chega, por que chega e como vai ser acolhido e integrado. Uma regulação para lá do âmbito nacional, pensada e posta em prática a nível europeu e global, envolvendo instâncias nacionais e supranacionais. Fechar a porta e condená-los à sua sorte, não pode ser saída!
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«Rostos e Contextos», crónica de Maria Rosa Afonso
Nenhuma vergonha…. Embora eu saiba que muita gente tem vergonha…
Exactamente… Não poderia estar mais de acordo com o comentário de Luiz Carlos Pereira de Paula. Qual a diferença? Cá também fugiam da miséria e da guerra (neste caso da guerra colonial). E também eram repatriados se apanhados em Espanha. Alguns até foram mortos a tiro, como aconteceu ao sr. João Carvalho, do Soito, nos anos 60. Mas hoje toda a gente tem a mania que é rica e já ninguém se lembra de nada. É pena… O que faz falta a criação de um Museu (ou Nucleo Museológico) da Emigração e do Contrabando no concelho do Sabugal… Para avivar memórias.
Obrigado João Duarte. Não devemos ter vergonha mas antes orgulho de sermos quem somos.
A mesma razão que explica a nossa imigração a salto para a Europa …