Os incêndios florestais são uma inevitabilidade, isto é, acontecerão sempre. O problema é a dimensão que os mesmos podem atingir e, aí, muito se pode e deve fazer.
Uma nota prévia antes de abordar duas questões que me parecem igualmente condicionantes de uma floresta sustentável, isto é, a ocupação dispersa e o eucalipto.
E a nota prende-se com a questão do SIRESP, ou antes, da sua gestão.
Tem passado pelos pingos da chuva a ligação da questão deste sistema ao BPN e à PT.
Mas a verdade é que a entidade privada gestora do SIRESP tem como principais acionistas a GALILEI (33 por cento diretamente e mais 9,55 por cento de uma sua empresa, a DATACOMP), herdeira da SLN que era, na verdade, a dona do BPN e que não entrou no processo de nacionalização daquele banco, vá-se lá saber porquê, e a PT com 30,55 por cento. Isto há coisas do arco da velha, não há?
1 – A ocupação dispersa
Sei que vou contra o pensamento de muita gente, mas, na verdade, o fenómeno «moradia unifamiliar» isolada é um erro que já estamos e continuaremos a pagar fortemente. É um erro a vários níveis:
i) o esvaziamento dos núcleos centrais das aldeias, vilas e cidades;
ii) o encarecimento da infraestruturação básica;
iii) a utilização maciça do automóvel; e,
iv) a transformação de solos rurais em urbanos.
Mas é também um erro e um perigo se a dita moradia unifamiliar se inserir em solos florestados e não limpos, ou em solos rurais abandonados, logo, cobertos de mato.
Eu sei que a legislação impõe zonas limpas em torno da habitação. Mas também sei que muitas vezes os lotes onde se construiu são tão exíguos ou estão de tal modo ocupados que, mesmo que a propriedade esteja limpa, a proximidade aos terrenos vizinhos não é de molde a cumprir a lei.
E o pior é que a existência destas habitações leva a que, aquando de um incêndio, os bombeiros deem prioridade à defesa da casa em detrimento da floresta.
Custe a quem custar, impõe-se cada vez mais a aprovação de leis restritivas da ocupação dispersa e, se fosse eu, já há muito teria trocado uma moradia por uma casa no centro da aldeia, vila ou cidade. E olhem que tendo sempre vivido no centro, quer no Sabugal, quer em Lisboa quer, agora, na Póvoa de Santa Iria, nunca me arrependi e nunca dispensaria o viver em comunidade por uma vida isolada.
2 – O eucalipto
Não tenho dúvidas que andará bem o governo se puser um ponto final em práticas de expansão do plantio do eucalipto em Portugal.
Mas tal não significa que embarque na histeria de considerar que esta árvore é a causa principal dos incêndios em Portugal.
E basta ver que os eucaliptais explorados diretamente pelas celuloses são, na verdade, os que menos ardem, até porque têm uma exploração profissional que sabe que é a sobrevivência da floresta o garante do seu negócio.
A floresta arde por razões naturais, mas também pelo abandono a que está votada, para além do abandono de milhares e milhares de quilómetros quadrados do interior, fruto de políticas agrícolas erradas, mas também dos fenómenos de desertificação e despovoamento a que se assistiu desde meados do século passado.
Uma floresta abandonada, mal gerida e ocupada com espécies florestais nem sempre as mais adequadas ao nosso clima, associadas ao abandono de práticas agrícolas de sobrevivência, mas que mantinham os solos limpos e agricultados, isso sim, potencia o papel do eucalipto na intensidade dos fogos florestais.
Numa floresta sustentável, o eucalipto tem o seu lugar, como o tem o pinheiro. O problema é a sua gestão!
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ps. Quer se queira quer não se queira, os acontecimentos do mês de Junho puseram em causa a credibilidade de instituições em quem deveríamos poder confiar. E falo dos serviços da Proteção Civil e das Forças Armadas.
E se foram graves as consequências do incêndio no Centro do País, mais graves ainda são o roubo do armamento em Tancos e a corrupção na Força Aérea.
E impõe-se que, o mais rapidamente possível, o governo da Nação tudo faça para repor a confiança dos portugueses nestas instituições fundamentais.
E por isso, não posso deixar de criticar a partida do primeiro-ministro para férias no estrangeiro, como também não posso deixar de criticar a leviandade de Passos e Cristas como se fosse possível transformar a vida e a segurança das pessoas em armas de arremesso partidário.
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«Sabugal Melhor», opinião de Ramiro Matos
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Setembro de 2007)
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