Já aqui falámos de Alberto Diniz da Fonseca e da sua guardofilia militante, ou seja, o endémico e exacerbado amor à cidade onde viveu, exerceu as funções de advogado e notário e foi presidente da Câmara Municipal. Para além de afirmar que a bomba atómica nasceu na Guarda ou, mais propriamente, na Quarta-Feira, Alberto defendeu ao longo da vida outros factos que igualmente enaltecem a Guarda e a sua região.
Sou lavrador
O notário, a quem lhe perguntasse qual era a sua profissão respondia invariavelmente, com ar muito sério:
– Sou lavrador.
Perante a estupefacção do interlocutor, que o via de fato e gravata, esclarecia:
– Sim, lavro escrituras!
Guia turístico
Em 1947 Alberto Diniz da Fonseca toma posse como presidente da Câmara Municipal da Guarda, cargo que ocupou durante seis anos.
Desde logo constatou que a Guarda, mau grado a sua beleza singular e o facto de ser a cidade mais alta do País, não tinha actividade turística. Face a essa grave lacuna, decidiu meter mãos à obra, assumindo-se ele próprio como o «guia turístico» da cidade. Citamos o seu biógrafo, Pinharanda Gomes (do livro «O Servo de Jesus Alberto Diniz da Fonseca»):
«Na Câmara há indicações precisas para grupos de turistas. Havendo-os, e querendo percorrer a cidade, a Câmara logo informava o dr. Alberto. Ele vinha. E com os turistas, fossem eles de onde fossem, havia de se fazer entender. Falaria francês ou castelhano, e, na incapacidade de comunicação, ainda poderia exprimir-se em latim. Os estrangeiros passeavam, calcorreavam as ruas e vielas, entravam em velhas construções e em veneráveis edifícios. E gostavam. No mundo não havia guia como aquele senhor. Sabia tudo de cor, e em pormenor. De alhos fazia bugalhos e, quando o turista menos se precavia, a imaginação do guia levava-o até aos dias da criação do homem. História antiga entrosava-se com o presente, e história clássica servia de pano de fundo. Tudo estava ligado a tudo. Os turistas tinham, por momentos, a ilusão de que a Guarda era tudo o que havia no mundo. (…) Ele fazia da Guarda, num dia, a promoção que nunca se fizera durante séculos.»
A Guarda como centro do mundo
Alberto defendia a Guarda acerrimamente. Citamos de novo Pinharanda Gomes para o entender:
«Foi na Guarda que nasceu o Império Romano, porque foi a batalha de Munda que deu origem ao Império: o que, sendo Munda o Mondego, que nasce na região de que a Guarda é capital, logo o Império nasceu na Guarda; e poder-se-ia levar o silogismo mais longe: a Guarda é a capital do Imperio Romano.»
A aldeia da Quarta-Feira
Alberto Diniz da Fonseca simpatizava muito com a aldeia da Quarta-Feira no concelho do Sabugal. Para além de afirmar que ali nascera a bomba atómica, atendo ao urânio extraídos das suas minas e levado para França, ele costumava contar outra história usando o nome da aldeia para baralhar os ouvintes:
Indo um homem ao Sabugal, ao mercado de quinta-feira, ainda poderia voltar a tempo de almoçar na Quarta-Feira.
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(por Paulo Leitão Batista)
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