No último sábado de Fevereiro decorreu no Sabugal o VIII Capítulo da Confraria do Bucho Raiano, que congregou dezenas de Confrarias de várias zonas do País, incluindo a Região da Madeira, com destaque para a diversidade do mundo rural.
Iniciou-se com uma Eucaristia na Igreja Matriz de São João, edifício do Século XVII, com uma cativante imagem de Santo António com o Menino e São João Batista com um estandarte a lembrar um cruzado da Idade Média.
O Celebrante sublinhou os grandes objectivos das confrarias: a fraternidade e a caridade.
No Auditório Municipal – repleto de assistência – iniciou-se a Sessão Solene da Confraria do Bucho Raiano, com uma Peça de Teatro – O Dia da Matança – levada a efeito pelo Grupo Cénico «Os Guardiões da Lua», constituído por jovens actores da aldeia da Quarta-Feira. Foi fundado por João Reis, escultor, artista, ensaiador e autor de diversas peças já levadas à cena (o Madeiro, o Pão das Nossas Aldeias, a Fama do Entrudo), além de animador dos eventos culturais de Verão – Dias da Lua.
Esta peça de teatro relembra as muitas outras que se faziam na Freguesia da Bismula e noutras localidades, representa muito a matança do «marrano«, o seu significado económico para as famílias, principalmente as mais pobres. Neste jogo cénico, todos se falam, todos se ouvem.
A atuação do Grupo dos Bombos do Souto da Casa, Fundão, deslumbrou todos os presentes, sobretudo na evocação do célebre episódio: o regresso dos baldios que pertenciam ao Povo da Rama do Castanheiro dos quais um senhor feudal se apropriara.
A oração de sapiência – Os Bons Sabores do Chambaril – esteve a cargo do Cónego Carlos Gonçalves. Este homem de Vila do Touro afirmou, depois de se ver a peça de teatro, que «a maior riqueza destas gentes vem-lhes da alma, do seu carácter e personalidade, dos seus valores. Um idoso destas terras dizia-me, “na minha terra nascíamos todos pequenos e o objectivo dos nossos pais é que fôssemos grandes.” A Matança do Porco era uma por ano, e dava para o sustento do ano, administrada com sabedoria. Dali saiam os enchidos, que compunham uma sinfonia rica de apetites, os presuntos, a carne na salgadeira».
No Domingo Gordo, antes do início da Quaresma, saboreava-se o Bucho, vestido do vermelho-púrpura e rubi, feito com as carnes da cabeça do porco, temperada com bom vinho e pimento. Este ato gastronómico fazia parte de uma festa de família, de convívio, de fraternidade e de partilha. Estes usos e costumes fazem parte integrante do património valioso destas gentes e deste território.
A entronização na Confraria do Bucho Raiano tem mais alguns elementos: Vitor Manuel Monteiro, Olívio Lopes Dias, António Cardoso Alves, Francisco Ferreira, Carlos Alberto Morgado, Luís Eduardo Neves de Almeida e Carlos Manuel Silva, secretário-geral da UGT, cuja esposa tem raízes na Nave e no Soito.
Foi atribuído e entregue o título de cavaleiro da Confraria a Alcínio Vicente, natural de Aldeia do Bispo (Sabugal), ex-aluno da Escola Apostólica de Cristo Rei em Gouveia, um pintor expressionista com vasta obra espalhada pelo País, Espanha e França, com temas rurais e etnográficos, com especial foco nas capeias.
Paulo Leitão Batista referiu que a Confraria, além de muitos amigos, tem presentemente cento e vinte e oito confrades, cujo objectivo é valorizar e expandir os produtos raianos. Anunciou que está em estudo um processo de certificação do Bucho Raiano e apelou às autoridades locais para a realização de um Festival Gastronómico, uma Semana no período do Carnaval.
Foi guardado um minuto de silêncio pelos confrades falecidos: Natália Bispo, João Inês Vaz e Porfírio Ramos.
Com o Grupo dos Bombos do Souto da Casa, a marcar o ritmo da caminhada, realizou-se o desfile das confrarias pelas ruas do Sabugal, terminando na Fonte de São João, onde foi tirada uma fotografia da família e acompanhantes. Saliente-se uma coleção canina da Serra da Estrela, da Quinta do Espinhal, em missões de terapia, estimulações cognitivas sensoriais e actividades físicas na APPACDM do Fundão.
O fecho desta jornada foi num restaurante do Casteleiro. Na sessão gastronómica foi rei e senhor o Bucho Raiano, que chegou à mesa dos comensais ao som dos Bombos.
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«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Março de 2012)
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O bucho é um ótimo produto alimentar e a confraria uma boa maneira de lhe fazer propaganda.
Mas no Sabugal o preço do bucho está muito alto, não para de subir e quem ganha são os talhos que o produzem.
A confraria ao divulgar assim o bucho faz com que os produtores abusem – o bucho havia de estar tabelado. Cinco ou seis euros por kilo já lhes dava um bom lucro porque no carnaval o bucho esgota.
Foi com orgulho que me tornei confrade do Bucho Raiano mantendo como empenhamento a divulgação de toda a gastronomia raiana, é necessário promover toda a região.
“Cada vez que a confraria do Bucho Raiano faz uma representação leva um pouco do Sabugal e seu concelho , através deste produto carismático e cada vez mais conhecido”.
“Podemos assumir mesmo o papel do departamento de marketing deste produto”
Tenho muita pena de não ter estado presente.
Bem-haja à Confraria por difundir as tradições e os paladares da região.
O Sabugal é a capital do bucho – mas não se esqueçam que o bucho é de vários concelhos: Sabugal, Penamacor, Almeida, Pinhel e Guarda.
Não me levem a mal mas acho que a Confraria está muito focada no Sabugal. Para quando um capítulo em Penamacor ou em Almeida? – Fica a sugestão.
Parabéns à Confraria pelo excelente capítulo que nos proporcionou. Viemos de Aveiro e admiramos a forma rigorosa como o capítulo foi organizado. A sessão de teatro foi excepcional, com a demonstração do que era o dia da matança – algo parecido ao que antigamente sucedia também nas aldeias da Gândara, no baixo Mnndego, de onde sou natural.
Parabéns ao restaurante Esquila que nos proporcionou degustar o melhor bucho que já comi – já estive noutros capítulos da confraria do bucho e o meu cunhado, que é de Almeida, cozinha buchos em sua casa, mas nunca um bucho que agradou tanto como o que comi neste capítulo. Eu julgo que teve a ver com o facto de ter sido servido não apenas com grelos, como é habitual, mas também com costelas, farinheira e morcela – um maravilha gastronómica.
Mais uma vez parabéns à Confraria da qual os confrades estarão certamente orgulhosos.
Cá esperamos os confrades do Bucho Raiano no Capítulo da Confraria dos Rojões da Bairrada com Grelo e Batata à Racha.
JF