Começo esta crónica com a chamada de atenção para o fenómeno das sondagens. Elas entraram em quase tudo que diz respeito ao nosso modus vivendi de uma sociedade ocidental.
E aquilo que parecia uma verdade absoluta tem-se mostrado a coisa mais falível. Erraram em toda a linha na questão do referendo em Inglaterra e agora na eleição de Trump. Quando todas as sondagens davam a vitória a Hillary Clinton, Trump sai vitorioso.
O alerta, para as sondagens, não está no erro que proporcionam. É um risco. A sondagem é um inquérito, não é um facto. É uma previsão. O que me importa trazer aqui é o que ela esconde. A sociedade, tudo indica, age de uma forma perante questionada em sondagem, de certa forma, num «politicamente correcto» para, no momento da verdade (do voto), se comportar de forma inversa. O que deixa entender que o voto está a ser o reflexo de um certo contra, um manifesto repúdio pela ordem estabelecida. É visível nos resultados eleitorais que vão surgindo pela Europa. Quer em partidos ou movimentos à direita como à esquerda.
Agora chegou aos Estados Unidos da América. Espantamo-nos com a eleição de Trump porque, entretanto, nos esquecemos da eleição de Bush filho. Os americanos já tinham escolhido um assim. Em termos comparativos, a diferença assenta no mundo de origem. Enquanto Bush vinha do establichement, Trump vem do show off.
A leitura deste resultado, surpreendente mesmo assim, reside em que o voto em Trump não é um voto num programa, projecto, ideia, mas, sobretudo, um protesto. E esse protesto, de certa maneira silencioso, pode ter uma causa mais preocupante, o medo. Acredito que foi o medo o que foi expresso nestas eleições.
E agora?
Trump representa o populismo mais primário. Disfarçando a inabilidade com tiradas agressivas, mas inócuas. Só que estas eleições têm impacto global.
Agora, o que me preocupa é que o mundo ficou muito mais perigoso.
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«A Quinta Quina», opinião de Fernando Lopes
Fernando :
Sabes porque falharam o Brexit e o Trump nas sondagens ? Ambos são anti-sistema ( ou ordem estabelecida ) portanto as sondagens foram uma maneira matemática de mentir ! O mesmo irá acontecer, penso eu, em França com Le Pen e noutros países com outros políticos, como tu dizes e com razão, são votos de protesto.
Essa, do George Bush filho, está boa ! Esse foi um dos tipos mais perigosos que passou pela Casa Branca, adorado e glorificado pela Comunicação Social pelas Bolsas de valores, pelos politicamente correctos, etc, etc, etc.
António Emídio