A União Europeia foi construída com o objectivo, precisamente, os muros fossem derrubados. Por essa altura, o Muro, permitam-me que o trate assim, porque o Muro de Berlim foi o «muro», era então o único que, efectivamente, marcava uma divisão. Por isso foi apelidado de «muro da vergonha».
O seu derrube foi um marco histórico na história da Humanidade. Dava-se um passo decisivo no sentido civilizacional. As alemanhas uniam-se e, simbolicamente, os seres humanos uniam-se. Numa altura em que os dois blocos políticos estavam verdadeiramente separados.
A Europa, em concreto, mostrava realmente que tinha força, poder e, essencialmente, um rumo, uma ideia. Uma política. Agora, volvidos estes anos desde esse dia em que Berlim deixava de estar dividida e se limpava a vergonha e as memórias da guerra mundial, o mundo deu muitas voltas. A Europa até deu cambalhotas.
E termos de poder, somos hoje, mais marionetas do que parceiros. A força dissipou-se nos egoísmos nacionalistas. Politicamente não existe.
Quando antes derrubávamos muros, agora erguemo-los. É em Israel, na Hungria, na Turquia…
Portanto, regredimos. Sermos no futuro a Europa dos muros. Cada um no seu quintal, narcisicamente olhando-nos ao espelho.
A matriz da União Europeia e da própria Europa, enquanto civilização, está a ser traída.
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«A Quinta Quina», opinião de Fernando Lopes
Sem esquecer Calais em França, e, sobretudo, a grande muralha de betão que o Trump quer construir na fronteira com o México.
(PS/ Por cá também gostamos de condomínios fechados, mas essa é outra história).