Um poema de Alcínio sobre a sua Aldeia do Bispo, terra onde nasceu e cresceu e onde hoje vive depois de um longo período em diáspora. A aldeia deixa sentimentos vivos de amor filial, de saudade sentida, de amor eterno. A ilustrar mais uma pintura de Alcínio… um tríptico cheio de cor e de vida.
És a minha aldeia , como tantas outras, florida nos teus vasos nas janelas
Nos alpendres nas varandas nas sacadas, nos jardins canteiros ou muros limítrofes das tuas casas e ruas
Segues a natureza lenta e tranquila acompanhas os tempos sem envelhecer
Ainda ouço e vejo os passos que por ti passaram e te fizeram bater o coração
Nas sombras da noite e rumores do vento ouço as vozes e os tormentos dos que te ergueram
E no ruído do teu silêncio e no vazio das tuas moradas eu sufoco a saudade
E reconstruo a memória da gente
Há coisas simples da vida que fazem a história da vida da gente
Alegras te em dias festivos, estremeces com o estrelejar dos foguetes ou com o dobrar dos sinos
Vibras com a alvorada das bandas de música ou o colorido das procissões
Agitas te com os rumores e trote das cavalgadas em dias de capeia
Em ti nasci contigo vivi, és parte da minha história, juntos a fizemos
Compartilhas e alimentas o meu imaginário
Dos teus caminhos, das tuas casas, das tuas terras, águas das fontes ribeiras e vegetação alimentei o espírito e corpo
És uma ermida branca no meio do verde das tuas árvores frondosas como uma prece que tranquiliza a alma
Nas tuas ruas direitas ou sinuosas descobri que há sempre uma saída e uma entrada
Da promiscuidade da nossa relação, da chuva molhada e do frio e calor que fustigaram o rosto
Se cimentou o carácter o corpo que fruiu os odores dos perfumes das tuas sacadas floridas das tuas janelas e jardins ,das brisas do amanhecer, dos luares de prata ,do descer calmo do crepúsculo, do crepitar das lareira em dias de invernia, do suave e surdo cair da neve, do seu tapete branco e tudo o que é doloroso recordar e porque não quero ficar perdido em algum lado
Contigo quero viver e adormecer na noite dos tempos.
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«Vivências a Cor», expressão de Alcínio Vicente
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