A implementação de medidas de eficiência energética em Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), nomeadamente em lares e centros de dia, poderá garantir uma significativa racionalização de custos, com períodos de retorno de investimento até 5 anos.
A melhor maneira para avaliar a dimensão e a adequação dos custos energéticos associados a um edifício é iniciar um processo de certificação energético. Um estudo desse tipo implica a realização prévia de uma Auditoria Energética para ter a consciência perfeita da localização dos consumos face a padrões de ocupação, de iluminação interior, dos equipamentos (ventilação, sistemas eletromecânicos, de aquecimento, …). Para caracterizar os consumos reais do edifício são analisadas as faturas de energia elétrica e dos combustíveis (gás propano, gasóleo, pellets …) de um ano relevante. O objetivo será sempre o de manter ou elevar os níveis de conforto, consumindo menos energia, baixando custos. A auditoria energética é assim uma peça absolutamente necessária. Só por essa via será possível identificar medidas que se traduzam em poupança na fatura energética, com períodos de retorno satisfatórios (2-5 anos). A concretização das medidas preconizadas na Auditoria Energética permitirá elevar, no final, o nível da certificação energética do edifício (que traduz o nível de conforto do edifício, face a consumos energéticos).
Acabei de ler um trabalho de avaliação energética e ambiental dos consumos num Lar de Idosos e das medidas que o mesmo propôs para tornar o edifício mais eficiente. Um Lar, contruído há menos de 10 anos, já com caixilharia dupla nas janelas. Um exemplo prático, com identificação de medidas implementadas, valores de investimento e valores de poupança. Este Lar para 20 utentes com uma área inferior a 1.000 m2 (750 m2 de área útil) apresentava, no inicio, uma classificação energética de tipo D, com uma fatura energética anual de 21.275€ .
A auditoria energética e o estudo subsequente vieram determinar um investimento de cerca de 70.000 euros repartido por:
i) substituição de lâmpadas convencionais por LED;
ii) instalação de solar térmico para aquecimento de águas quentes sanitárias;
iii) isolamento de laje;
iv) isolamento de envidraçado;
v) substituição da caldeira a gás propano por uma caldeira a biomassa, a pellets totalmente automática
Após o investimento preconizado este Lar passou de uma classificação de tipo D para B e os custos anuais com a energia tiveram uma quebra de 65%. A medida de substituição da caldeira a gás por biomassa foi a medida mais eficiente.
Depois de ler o trabalho dei por a mim a generalizar. E se os 30 Lares do Concelho do Sabugal decidissem seguir este exemplo? Vamos então generalizar, por defeito. Todos os Lares com a mesma dimensão do estudo e com medidas de racionalização idênticas. Trata-se uma simplificação muito grosseira uma vez os vários Lares têm dimensões e condições de consumos energéticos muito diversas e portanto as medidas de racionalização e os custos de investimento, que só os estudos individuais poderão determinar, serão diferenciados. A generalização vale assim muito pouco mas, sendo nitidamente por defeito, vale a pena fazê-la.
Se todos os Lares optassem por esse processo, com implementação de medidas com períodos de retorno de investimento até 5 anos, isso corresponderia a um investimento no Concelho de 2,25 Milhões de euros, uma poupança energética cerca de ½ Milhão de euros anuais, uma redução de emissões de 1.650 toneladas de CO2 e um consumo de 1 Milhão de toneladas de pellets. Mas atenção que ao investimento direto haveria que associar, positivamente, eventuais comparticipações no âmbito do Portugal 2020.
Imaginam os efeitos multiplicadores do investimento na economia do Concelho?
Imaginam as implicações do consumo de um milhão de toneladas de biomassa florestal residual (pellets ou estilha) em termos de potenciais projetos empresariais associados?
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José Escada da Costa, da Associação Malcata com Futuro
Uma solução para alguns problemas com que nos debatemos nas nossas aldeias bem pode ser esta. Ganha-se eficiência energética, ganham-se postos de trabalho, limpam-se as matas, investidores interessam-se, outros vêm trabalhar, outros negócios podem abrir, os lares poupam dinheiro e valorizam as instalações e serviços…todos entramos numa de “ganhar, ganhar” e com um meio ambiente mais limpo e vistoso. Utopia ? Não, bem pode ser real se todos pensarmos no bem de todos. A AMCF ( Associação Malcata Com Futuro ) acredita que este é um dos caminhos que leva a nossa região, o nosso concelho, a alcançar um desenvolvimento harmonioso e sustentável, dando oportunidade a todos de viver melhor.