O Interior recebe sinais positivos da nova governação, traduzidos para já na reabertura de tribunais, anunciada pela ministra da Justiça, e na criação da Unidade de Missão para a Valorização do Interior, decidida em Conselho de Ministros.
A reabertura do tribunal do Sabugal é a primeira medida que nas últimas décadas permite reparar uma injustiça praticada sobre os sabugalenses pelos governos centralistas. Nunca uma instituição pública importante que fechou as portas por imperativo governamental as reabrira para benefício dos cidadãos.
Mas a boa-nova não se ficou pelo improvável regresso do Tribunal.
O primeiro ministro foi a Idanha-a-Nova, a dois passos de Espanha, para assinalar os 100 dias de governo e proclamar uma nova política para as terras fronteiriças, cimentada na recém criada Unidade de Missão para a Valorização do Interior, que tem por objectivo criar, implementar e supervisionar um programa para a coesão territorial.
A nova postura governamental surge da constatação de que o Interior, que goza de uma posição privilegiada no contexto ibérico, está a definhar face a políticas centralistas que daqui sugam tudo.
Nas regiões espanholas junto à fronteira, vivem cerca de 6 milhões de pessoas, nomeadamente em cidades dinâmicas como Vigo, Ciudad Rodrigo, Cáceres e Badajoz. Essa realidade faz-nos ver que o interior de Portugal está no centro do mercado ibérico, do qual pode beneficiar aumentando o volume de trocas comerciais com Espanha.
Nesse processo as zonas raianas devem ser encaradas como um extenso interface comercial. Mas não é só o comércio que ganha, também pode aumentar a capacidade produtiva, melhorar as infraestruturas, a qualificação da mão-de-obra, a valorização dos recursos únicos e saberes artesanais que estão subaproveitados ou mesmo em risco de se perder.
Promete-se pois uma nova dinâmica que comporta um influxo de inovação, de tecnologia e de métodos de gestão, que têm tudo, se verdadeiramente implementados, para gerarem vantagens para as terras fronteiriças.
A Unidade de Missão pretende ser transversal aos vários ministérios e sectores de actividade, promover a atracção e a fixação de pessoas, a cooperação transfronteiriça e o intercâmbio de conhecimento aplicado entre centros de Investigação e Desenvolvimento e as comunidades rurais.
Temos de esperar para ver se o que se anuncia terá efeitos, pois gato escaldado de água fria tem medo, e já houve outros momentos em que prometeram mundos e fundos que não passaram de ilusões.
Mas resta-nos crer que a nova estrutura vai cumprir o seu desígnio, interagindo com as autarquias e apresentando no prazo de 180 dias ao Conselho de Ministros, para aprovação, o programa nacional para a coesão territorial.
Por enquanto, vivem-se tempos de esperança.
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«Contraponto», opinião de Paulo Leitão Batista
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Urge dinamizar o interior e romper a rede caciquista que mantém “aprisionados” os agentes de mudança. Esperemos que esta Unidade de Missão, esteja imbuída do Espírito de Missão e que não seja mais um organismo de foguetório, como tantos outros que na área do Desenvolvimento só têm reproduzido teorias esgotadas e projetos a curto prazo sem qualquer sustentabilidade.