Caros Amigos, há memórias que nos perseguem. A memória deste dia é uma delas no eu caso. Algures em 1956. Repito os meus votos de Bom Ano – e peço que leia esta pequenina crónica recordatória com espírito positivo. Vamos a isso?
Os dias da nossa infância, quando os lembramos mesmo, têm mais força do que os dias de hoje. Quem já viveu o que eu vivi sabe que assim é. Lembro-me do que comi neste ou naquele dia «asselanado» daqueles tempos, mas sou capaz de não saber dizer o que comi ontem ao almoço. Ah, por acaso lembro-me: foi choco grelhado… A sério: lembrei-me mesmo.
Vamos então a uma crónica leve, para não molestar ninguém depois das Festas.
Bom Ano para todos nós
Entrámos no novo ano. Desejo a todos o melhor ano de sempre – e para mim e para os meus Amigos também.
Este é sempre para mim um tempo de recordar coisas boas de antigamente. Uma delas foi a inauguração da luz eléctrica.
Isso aconteceu muito cedo na minha terra, felizmente.
Tinha eu oito anos. Foi uma festa na escola. Mas uma grande festa…
A inauguração da electricidade na aldeia
Tenho dentro de mim uma memória vaga desses dias agitados na terra. Porque eram lá recebidas as autoridades oficiais todas…
Hoje fui reler umas coisas que escrevi há uns anos e relembrei-me dessa cerimónia já meia difusa na minha lembrança, mas ainda viva.
E lembrei-me na altura de uma cantiga desses dias – portanto já de há mais de 50 anos, cantada numa festa rija com banda, foguetes e tudo, claro, na nossa terra.
Nunca poderemos esquecer, os que vivemos esses dias e em especial os que têm estas memórias ainda vivas.
Repito: foi na altura da inauguração da luz eléctrica no Casteleiro, em 1956.
Um grupo de raparigas ensaiado, se não estou em erro, pela D. Felícia cantou nessa festa uma cantiga com letra amorosa sobre o Casteleiro e com música de uma canção popular na altura.
As cantoras iam todas vestidas com blusa branca e saia preta rodada, se bem me lembro. Eu tinha oito anos. Foi há «bué» de tempo…
Estão a ver que as reminiscências já não são muito apuradas. Mas estão cá dentro, ainda que diluídas.
O hino da minha aldeia
Claro que, como mandavam as normas dessa altura, foram muitas pessoas até à ponte receber o Governador Civil.
Ali mesmo, aquele grupo coral cantou então, quando a autoridade chegou, algo como isto:
«Ó Casteleiro, terra de encanto,
Terra tão linda não há, não há.
É por ser bela que a amo tanto.
Nem que me paguem não vou de cá.
Quanto te deixo, ai que saudade…
Sinto os meus olhos brilhar de pranto,
Mas ao voltar que felicidade:
Sinto-me presa ao teu encanto
Em toda a Beira não há igual
Por isso a amo com amor profundo.
É a mais bela de Portugal,
Mais pitoresca de todo o mundo.»
Desde essa época, de vez em quando, cá em casa, canta-se isso, para lembrar «o nosso lindo e risonho torrão natal», como um dia escreveu Daniel Machado (DM), uma das pessoas mais interessadas em preservar as memórias da minha aldeia fielmente e sem erro…
Aliás, DM recordou-me um dia que este hino «também foi cantado num desfile de um “improvisado rancho” onde eu participei (diz DM), aquando das oferendas ao Hospital do Sabugal».
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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2011)
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