Hoje dispensei-me de escrever pelo meu punho: esta crónica é uma transcrição de algo que muito aprecio: um estudo sobre o século XVIII. «Memórias Paroquiais» é uma reflexão interessante sobre a vida há 250 anos. No Casteleiro e nas terras dos arredores, de que é que se vivia? O que é que se fazia? A agricultura local o que produzia?
Os textos lidos pelos autores do estudo são muito importantes para percebermos como era a vida por estas terras. «No Sabugal a maioria das referências vai para o centeio (25,6%), seguido do trigo (17,7%), vinho (13,1%), onde releva também a castanha (8,5%). Mas os principais conjuntos de maiores cultivos podem fazer composições diferentes, como para Alfaiates, o trigo, o centeio, as cevadas e milhos e também os linhos ou para Casteleiro, o centeio, o vinho, o azeite, a castanha, o linho.»
Vinho fresco
Em Alfaiates refere-se que é terra abundantíssima de «grãos, ervilhas e mais serodalhas». E também vinhas, como refere o memorialista de Alfaiates: «Tem já bastantes vinhas que se criam facilmente; são uvas gostosas e vinho fresco…».
Para a parte do Poente da vila, em um ameno vale, tem uma veiga cercada de parede, em quadrado, que leva 400 «fanegas de linhança, que dá primorosos linhos, que produzem muito dinheiro. Rega-se toda por duas levadas». Tem também «boas hortas, melões e feijões, abóboras e de Inverno, nabos em quantidade, rabuas e couves».
São as diferentes adaptações de património cultural ao território de um concelho com fortes gradações de altitude e amplitudes térmicas e outros condicionalismos geográficos. Como é o caso de Fóios, onde só se dá o centeio: não dá trigo, nem cevada, nem milho, nem mais frutos alguns, por ser muito fria. Tal como em Quadrazais os frutos – trigo, centeio, castanha, linho – são poucos «por ser o país frigidíssimo».
Santo Estêvão
Mas também porque a terra e serra é pouco fértil (Santo Estevão). Também aqui há referência à decadência da cultura da vinha que havia no passado com privilégios especiais de defeso de venda aos moradores face à concorrência exterior, de que só restam vestígios arqueológicos (Sabugal, c. Sabugal). Grande relevo atingem aqui os cultivos e frutos das serras e ribeiros.
Casteleiro
Os trigos e sobretudo os centeios, mas também os linhos, cultivam-se por tapadas, veigas cercadas e terras distribuídas por folhas, como se refere para Alfaiates e Casteleiro. Nestas pagam-se dízimos à igreja (Casteleiro).
Em muitas memórias refere-se a abundante produção de linho que se faz nas serras, mas também nos ribeiros. Em Casteleiro, em Sortelha, fazem-se enseadas onde se semeia linho “secadal”, mas também nabais, e até latadas de vinhos e figueiras e naturalmente centeio (Aldeia do Bispo, Bendada, Casteleiro, Moita, Sortelha, c. Sabugal). Noutros sítios, como para Rapoula do Côa, referem-se as ervagens, para pasto dos gados em transumância que se arrendam para o concelho, de que se paga terça real. Por toda a serra se estendem os soutos de castanheiros que suportam a elevada produção de castanha (onde em muitas partes, como em Alfaiates, «há fortes castanhais».
Castanha da Índia
Um fruto pouco divulgado e, no entanto, já por cá havia castanhas da Índia nesse tempo: «Particular desenvolvimento tem aqui no Sabugal as referências à castanha da Índia. Vai referenciada expressamente para 4 freguesias, para Águas Belas e Quintas de São Bartolomeu como abundante; para Aldeia Velha e Pousafoles do Bispo no rol das produções mais abundantes. Aldeias suficientemente distantes entre si, para suportar a hipótese da sua mais geral presença neste território. A batata integra-se, pois, aqui nos territórios da cultura do centeio, do trigo, da cevada e da castanha, como acontecerá na maior parte.»
:: ::
«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2011)
:: ::
Obrigado pela amabilidade, caro JMFNS. O Sr. Firmino e a sua avó D. Gracinda eram pessoas muito estimadas na minha terra. A casa quase de perfil «senhorial» deles ainda hoje mete respeito – vista da estrada!
Para se divertir, veja aqui
https://capeiaarraiana.pt/2015/09/28/casteleiro-coisas-boas-da-nossa-terra/
a casa dos seus avós, num artigo recente que publiquei no ‘Capeia’…
Um abraço.
Também espero esse dia…
JCM
Gosto muito do que escreve com arte conhecimento e gosto. Sou neto do falecido comerciante do Casteleiro, Firmino Nunes de Sena e filho de Julio Sena. Aqui fica o meu abraço esperando que, um dia, tenho o praser de o incluir nos meus Amigos.
Um abraço
js