Numa sociedade, gravemente ferida pela crise económico-social, a falta de ética extrapola governantes e governados, navega nas várias esferas do quotidiano e alimenta-se de défice de verdade.
A ética tem vindo a abster-se de (como deveria) permear a vida.
Não tem faltado quem ridicularize ideologias e quem deturpe mensagens colocando frases não ditas em bocas alheias.
Por patamares médios ou cimeiros da sociedade andam más consciências, escondidas, atrás de pequenos/grandes poderes. Dizem superficialidades. Falam do que não conhecem e fingem conhecer. Olham com olhar tacanho. Não têm humildade para debater. Defendem toscas teses de quem nunca nada defendeu. Carregam-se de preconceitos e, por isso, não há, sobre elas, esperança de compreensão.
A falta de ética distende-se pelos diferentes sectores da sociedade exercendo influências sobre a política, a comunicação social e as organizações…
Falta ética ao político demagogo que semeia inverdades, que mente à sociedade. O político deveria, num debate ético, lançar luzes sobre ideias e, assim, consolidaria a cultura democrática. Mas a ética tem-se ausentado do debate. Por falta dela o passado não flui para o futuro sem que se desmereçam, quantas vezes injustamente, diferentes formas de estar, de pensar ou de atuar.
Falta, também, a ética ao jornalista que se deixa deslumbrar com o seu próprio poder e não investiga, não vai a fundo quando escreve.
Falta ética a quem, na empresa ou na organização, destrói a gestão ou o trabalho dos outros, derrubando obras construídas. Aliás, é muito mais edificante construir ou ajudar a construir do que destruir trabalho alheio. Que sirva, então, de exemplo a postura de quem constrói.
Faz falta um novo tempo de ética e de valores. Fazem falta conceitos do correto e de uma política que construa personalidades.
Faz falta a ética da linguagem, da palavra ao serviço da verdade, a ética da fala com razão e emoção.
Faz falta a ética da humildade. Os arrogantes distanciam-se da verdade, pois só se enxergam a si mesmos. Faz falta humildade no respeito pela diversidade. A intransigência leva ao radicalismo e é preciso ser humilde e reconhecer o valor dos outros.
Só a ética eliminará interesses levianos e mesquinhos.
:: ::
«Terras do Jarmelo», crónica de Fernando Capelo
(Cronista no Capeia Arraiana desde Maio de 2011)
:: ::
Amigo Capelo :
A criatura humana é demasiado imperfeita para construir paraísos terrenais, por isso, em muitos dos meus artigos escrevo, sem me tremer o pulso, da dimensão potencialmente destrutiva do Homem, mas também sei que há quem pratique o bem e tenha elegido a bondade como forma de plenitude.
A verdadeira comunidade é aquela em que nenhum dos seus membros pretende ser o dono da verdade, isto vai de encontro ao que escreveste : « faz falta humildade no respeito pela diversidade . É verdade, mas quando a diversidade é a corrupção, a falta de ética, governar para os poderosos, criar desemprego, fome, miséria e desespero, não a considero diversidade, mas sim, crime, soberba e vontade de poder.
O nosso sentido de diálogo, dos portugueses, é que ainda é predemocrático, e compreende-se, foram séculos de intolerância política e religiosa, isso deixa as suas marcas.
Adeus amigo Capelo