Os dados das estatísticas demográficas, Censos 2011, atribuem ao concelho do Sabugal 12.544 residentes. O levantamento efectuado ao número de espectadores/participantes nas Capeias Arraianas no Sabugal leva a considerar a participação de mais de 50.000 pessoas nas 20 capeias realizadas em 2014 no concelho.
É notório que mesmo fazendo uma avaliação de participantes pelo limite mínimo, estamos em condições de afirmar que esses participantes são cerca de quatro vezes o número de habitantes. Não será por acaso que estes números tão expressivos se registam, assim como não é por acaso que nenhuma outra manifestação cultural consegue agregar um tão elevado número de participantes.
Seria interessante que algum organismo público ligado à Cultura pudesse somar os espectadores que no ano de 2014, no Sabugal e em todo o distrito da Guarda, assistiram a espectáculos de natureza artística (cinema, teatro, dança, música), para se concluir aquilo que empiricamente se constata, ou seja, que a Capeia Arraiana é indiscutivelmente o espectáculo/evento cultural mais apreciado e mais participado pelos sabugalenses e que as capeias do Sabugal têm mais espectadores que todos os outros espectáculos de natureza artística em todo o Distrito da Guarda.
Para ilustrar em números um pouco da dimensão tauromáquica do concelho do Sabugal recorremos às estatísticas oficiais sobre os espectáculos abrangidos pelo regulamento taurino em Portugal Continental. Assim, verificamos que o número de espectadores das capeias no Sabugal só tem equiparação com o número de espectadores no concelho de Lisboa, cujos espectáculos na Praça de Toiros do Campo Pequeno reuniram também cerca de 50.000. Mas, Lisboa tem cerca de 500.000 habitantes e outras coisas mais. Em termos relativos, Lisboa teria que ter reunido cerca de dois milhões de espectadores para ter a mesma densidade de espectadores que o Sabugal apresenta.
Estes números expressam, de forma clara e inequívoca, a importância que a Capeia Arraiana tem para os sabugalenses, para o Sabugal e para Tauromaquia. Não podemos esquecer que os espectáculos de tauromaquia popular como a Capeia Arraiana, as Garraiadas, a Vaca das Cordas e as Largadas de Toiros, são os grandes responsáveis pelo «recrutamento» dos aficionados que enchem as praças de toiros. No entanto, exceptuando as aparições pontuais nos eventos do mês de Agosto, o poder local parece nada, ou muito pouco, fazer relativamente a este fenómeno social e cultural.
Sabendo que existem várias entidades públicas que continuam a financiar, com avultadas verbas, projectos que envolvem os diversos espectáculos de natureza artística, alguns envolvendo meia dúzia de «gatos pingados», não se percebe que sendo o Município do Sabugal detentor do primeiro registo do inventário nacional do Património Cultural Imaterial (PCI), não consiga obter financiamento destinado à promoção de projectos de desenvolvimento em torno da Capeia Arraiana.
Se relativamente à Capeia Arraiana e ao PCI o município construiu um processo de exemplar excelência, não se entende porque não figura entre as entidades com projectos subsidiados pelos organismos dependentes do Secretário de Estado da Cultura.
Será que fica mal perturbar os elementos da família política com projectos para uma actividade da cultura popular que incomoda as elites? ou será que a Câmara do Sabugal aguarda que no âmbito dos contratados «Serviços especializados para o desenvolvimento de programa de empreendedorismo estratégico», aparecera algum superdotado a mostrar como e quando se pode desenvolver o concelho a partir do aproveitamento das potencialidades da Capeia Arraiana?
:: ::
«Estádio Original», opinião de Luís Marques Pereira
Para os mais distraídos aqui fica o cartaz com a participação de Luís Marques Pereira (Luís Pereira) nas Jornadas para Pensar a Tauromaquia em Portugal organizadas pela Câmara Municipal do Sabugal.
Cartaz das Jornadas Pensar a Tauromaquia em Portugal. Aqui.
A propósito não sabemos se a iniciativa teve continuidade (mais edições) em algum dos outros concelhos que enviaram representantes à conferência do Sabugal.
Eu não falei em turistas estrangeiros… Falei em turistas mesmo portugueses… E nunca disse que os emigrantes não contam para nada. Isso são extrapolações que se fazem a partir do que eu escrevi. Quanto ao número, eu não tenho que o fornecer. Apenas sei que as receitas do Festival “Ao Forcão Rapazes!” têm vindo a diminuir de ano para ano, e isso são números oficiais. Como eu já expliquei montes de vezes, mas parece que as pessoas não estão interessadas em ouvir, as pessoas migradas em Lisboa vêm ao Sabugal (concelho) por causa das Festas da sua terra. Quer esta inclua Capeia, quer não. Ou vai-me dizer que as pessoas de Santo Estevão, Vila do Touro, Bendada, Malcata, Rendo, Rapoula, Baraçal, Quintas de São Bartolomeu, etc. que estão migradas em Lisboa não vêm às Festas de Verão da sua terra? O problema é que isto está dominado pelo medo e , mesmo os que nunca viram ou ligaram a uma Capeia (não é o meu caso), mesmo habitantes em terras onde não há Capeias, encolhem-se e deixam dizer disparates… Eu não o faço, por isso sou um chato.
É que não há bilhetes nas Capeias Arraianas, logo não pode haver estatísticas oficiais sobre os espetáculos abrangidos pelo regulamento taurino em Portugal Continental, até porque as Capeias não se enquadram em qualquer regulamento taurino, porque são da tauromaquia popular. Excepto no Festival “Ao Forcão, Rapazes!”, em mais lado nenhum há bilheteira. E não há como saber o número de espectadores das outras Capeias. Quanto aos espectáculos do Festival “Ao Forcão, Rapazes!”, o que se verifica é, exactamente, o contrário: cada vez a receita é menor, desde há uns anos a esta parte, tal como eu já expliquei na Assembleia Municipal. mas ninguém me quer dar ouvidos, porque é melhor viver na ficção de que a Capeia é que atrai turistas… Pronto…
Sr João Duarte, concordo em tudo consigo, eu não vejo as casas de turismo rural da região, sem vagas na altura das famosas capeias arraianas , enganem-se os que dizem que se não fossem as capeias isto da raia não era nada. Eu vivo cá todo o ano, tenho o meu próprio negocio, quem mantém isto de pé são os residentes a tempo inteiro, claro não podemos dizer que os emigrantes não contam para nada, não, no mês de Agosto qualquer tipo de negócio aumenta as suas receitas graças à vinda dos que estão lá fora. De certo modo até podemos chamar-lhe ” turistas” talvez sem as capeias não passavam cá tantos dias. Para finalizar, assisto sempre que posso, vou aos encerros, e até gosto, não sou fanático, mas pregunto-me a mim mesmo, se vier algum estrangeiro assistir, e presenciar umas das muito frequentes cenas, de pessoas irritadas a discutir e aos palavrões , o que vai pensar?. De certa forma eu penso que é uma espécie de entretenimento, que não tem lá muita lógica, mas claro respeito todos e todas que tenham outra opinião.
De onde é que foi retirado esse número de 50.000 pessoas? Há alguma estatística, ou foi um número ao calhas?
O que interessa, no entanto, saber , para além dos números é quantos turistas verdadeiros (não contam os emigrantes) visitaram o concelho para assistir às Capeias… Esses são os números que mais interessam, porque o resto não conta. Capeias há , desde que eu me lembro e tenho 54 anos… O número de pessoas deveria ser , sensivelmente, o mesmo, desde que eu nasci até agora. O que mudou, então?
Prezado João Duarte:
Agradeço o facto de ter merecido a sua leitura e o seu comentário, e assim acrescento.
O facto de não haver estatísticas oficiais não impede que seja atribuído um número de participantes a qualquer manifestação de rua. Há técnicas de observação e saberes da ciência popular que ultrapassam os métodos das entidades oficiais. Dou-lhe um exemplo, para o ano de 2007 no relatório da IGAC (organismo que superintende a tauromaquia) apareciam 307 espectáculos realizados e 620.000 espectadores e as estatísticas do INE registavam 187 espectáculos e 291.355 espectadores. Penso que está quase tudo dito sobre as estatísticas no nosso país.
Contudo, sendo que o número apresentado (50.000), foi obtido através da opinião abalizada de pessoas que conhecem muito bem o terreno e não por um processo contabilístico, esse número está sempre aberto a melhorias, pelo que desde já lanço o repto para que o João Duarte dê o seu contributo, confirmando ou dando um número que lhe pareça mais plausível.
Quanto ao resto, não sendo do Sabugal só me resta estar calado e ouvir, pois os projectos de desenvolvimento têm obrigatoriamente que brotar da vontade e da participação dos locais, pois só assim serão sustentados. No entanto fica uma nota, a Capeia, per si, é um elemento de grande atracção mas isso só não chega, tem que ser complementada com um conjunto de outros elemento. Mas, sei de muita gente, filhos de sabugalenses migrados em Lisboa e arredores que continuam a ir ao Sabugal unicamente pelo tudo o que a Capeia representa, não só a lide dos toiros, pois a Capeia é um fenómeno social total.
A Capeia Arraiana como aqui ficou dito pelo amigo,Luís Marques, é o acontecimento da raia sabugalense. Não tenho dúvidas que no distrito da Guarda também não existe iniciativa que atraia tanta gente.É O evento e daí ser necessário extrair as devidas consequências, a todos os níveis.E o que é ainda mais significativo é que atrai jovens e velhos de ambos os sexos.É,desta forma, o elemento galvanizador e cimentador de gerações e gerações de raianos que se revêm neste verdadeiro fenómeno popular.