Hoje, uma crónica pequenina, feita de recordações de terras vizinhas. Onde se ia, onde não se ia ou só raramente. O que se ia fazer e onde. As deslocações a pé ou de carro. As terras cultivadas pela família e como era bom ir para lá. As festas e feiras, bem como as romarias, eram também um bom pretexto para se visitarem anualmente as localidades onde as movimentações acorriam… De tudo isso falarei aí adiante, nestas parcas linhas.
Falar de quando éramos miúdos é muito compensador mas também penoso.
Hoje é um texto desses: arrancado a ferros.
Há muito que queria escrever sobre esta zona das minhas memórias.
Fi-lo com reticências – mas fiz. Só que não foi tão simples como tinha pensado.
Vou pois falar das terras cultivadas em volta do Casteleiro e para onde me deslocava com a família.
E vou falar das aldeias e vilas vizinhas onde as pessoas iam habitualmente.
Ou seja: hoje é uma espécie de crónica da mobilidade infantil dos anos 50 na minha zona… Agora que tanto se fala de mobilidade, até me fica bem trazer aqui esse tema, mas não na perspectiva do século XXI: antes no formato de meados do século XX.
Os nomes dos terrenos cultivados só vão dizer alguma coisa à malta do Casteleiro. Mas as terras vizinhas que vou referir – essas, toda a gente da zona as conhece…
1. Deslocações a pé, de carro de vacas ou de burra
As terras que a família cultivava não eram muitas, mas eram algumas e conhecia-as bem. Só Balcastelões é que me fica fora de órbita.
Mas de resto corria tudo com eles: o Chão da Ribeira e a Serra eram os mais conhecidos por mim. Gralhais e as Cruzes do Tio António Joaquim. Naturalmente, dito assim: «Vamos às Cruz do ti Antonh’ Jaquim.»
De caminho, passava-se pelo Tinte.
A Várzea do mesmo tio, já a caminho do Terreiro das Bruxas.
A Estrada, do meu avô materno e, mais tarde, também do paterno. Do mesmo avô, o Caramelo e o Marneto. E a Vinha.
De quando em vez, ia às Alvercas, quase no mesmo caminho que a Várzea, e à Carrola e arredores, mas não por razões de acompanhar familiares: ia de bicicleta ver mais mundo.
E guardo uma frustração nestas deslocações.
É que sempre tive curiosidade para seguir pelo vale que dá acesso à Serra da Vila lá dos lados das Alvercas. Mas nunca ninguém me fez esse gosto. Penso que se chama Vale de Asneiro.
Inesquecíveis eram as idas ao Sabugal, de noite, no carro das vacas, carregado de melancias, para a Feira de Setembro na Vila (hoje Cidade).
Devo ter ido duas ou três vezes. Era só uma vez por ano, creio que em Setembro, mas nunca mais me esqueci.
2. De carro
Aqui, há que seguir os vários circuitos.
Primeiro, os circuitos para Sul. O sítio onde mais se ia de carro penso que seria à estação de Belmonte e à de Caria. Santo Amaro era também um destino permanente. Tal como a Catraia e Valverdinho (mais raro) e, sobretudo Caria, a Vila, mas também se ia bastante a Belmonte – menos: ir lá acima à vila era menos frequente do que ir a Caria.
A Serra da Pena, quase na mesma direcção, virando em Santo Amaro para a esquerda, em direcção a Sortelha, era também muito visitada – e a Azenha, naturalmente, pois era onde viviam os primos do meu pai.
Para Norte, em direcção ao Sabugal: Terreiro das Bruxas / Santo Estêvão / Alagoas / Aldeia de Santo António, Urgueira e Amiais (pouco) e Sabugal, claro.
Depois, por razões familiares e não só, ia-se muito ao Vale de Lobo / Vale da Senhora da Póvoa.
A Sortelha – sei lá porquê – pouco se ia. Ou se calhar ia-se, mas eu queria mais. Mas há cá dentro bem fundo uma espécie de falha…
Ia algumas vezes à Benquerença e aos Três Povos.
3. As festas, feiras e romarias
Ia-se sempre à Senhora do Bom Parto, no Terreiro das Bruxas. Uma festa de má memória por causa das zaragatas tradicionais entre aldeias: os jovens engalfinhavam-se sempre uns com os outros e aquilo às tantas era um campo de batalha sem se dar por isso.
Depois, claro, a grande romaria anual da Senhora da Póvoa.
E em Agosto, a Senhora do Carmo.
Tal como a Senhora da Quebrada, na Benquerença. Ou o São Bartolomeu, no Salgueiro (Três Povos, Fundão).
E as festas e feiras do Sabugal, a começar pela Festa da Senhora da Graça que, curiosamente, não vem referida no «site» da Câmara! Confirme no «link» aí em baixo e diga-me se eu estou cego…
Mas também as feiras e mercados da Miuzela ou da Vila de Touro, como ainda muitas das feiras e mercados da Raia. Ia-se lá muito nesse tempo. Mais do que agora, se calhar.
Para ver as festas todas:
– Penamacor… (Aqui.);
– Teixoso-Covilhã… (Aqui.);
– e Sabugal (sem a Senhora da Graça!)… (Aqui.)
Não encontrei a mesma informação para Belmonte, lamentavelmente.
4. Onde não se ia
À Meimoa, passava-se. No Vale, parava-se…
Estranhamente, não se ia à Quarta-Feira – só por alguma necessidade específica. Mas ia-se à Azenha, ali ao lado: havia lá família.
E, raramente, subia-se até Sortelha.
Para o outro lado, também havia uma espécie de tabus.
Passava-se ao Carvalhal e às Inguias – nem se parava: ia-se por ali para Belmonte.
Passava-se a Gonçalo – só já adulto é que lá fui – ver a cestaria.
5. Memórias especiais – sei lá porquê…
Mas há deslocações e permanências especiais ou especialmente guardadas cá dentro.
Por exemplo, e estranhamente, na vida profissional do meu pai, ia muitas vezes ao Ozendo. E essas idas e vindas também me ficaram para sempre. Depois, o Sabugal, onde vivemos dois anos ou três. E Caria, onde se ia por tudo e por nada.
E Santo Estêvão e o Vale? E as Festas da Senhora do Bom Parto, no Terreiro das Bruxas? Estes são os locais mais meus de memórias feitos sítios animados, como que com vida própria dentro de mim.
Nota
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«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Janeiro de 2011)
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é verdade Sr jose carlos que saudades desses lugares da nossa infancia.
muito obrigado