Em apenas 10 anos o concelho do Sabugal perdeu 30 por cento da sua população escolar do primeiro ciclo e viu fecharem 74 por cento das escolas. Esses indicadores dizem tudo acerca do que está a acontecer ao Sabugal – caminha a alta velocidade para o abismo.
Em 2004, mau grado a perda que vinha de trás, o concelho conseguia manter activas 27 escolas primárias, que albergavam um total de 375 crianças. É certo que muitas dessas escolas tinham pouquíssimos alunos, mas ainda assim garantiam a proximidade para com as suas famílias, havia emprego para professores e boa parte das aldeias mantinham a escola como elemento essencial da sua vivência. Como é comum dizer-se, uma aldeia onde não há crianças é como um jardim que não tem flores.
A política nefasta do encerramento das escolas do interior do país, que conta com a conivência de algumas autarquias locais, que tudo aceitam, levou à triste situação que hoje se verifica. No caso do concelho do Sabugal restam 10 escolas, que no total albergam 261 alunos. Em algumas aldeias as crianças para irem à escola fazem longas distâncias, estando a maior parte do tempo longe das famílias.
Perante estas condições, como pode um casal jovem optar por viver numa aldeia, quando sabe que os filhos serão na fase escolar deslocados para longe do lar? O normal é que prefira fixar-se na sede do concelho ou na sede do distrito, ou até ir para centros urbanos mais longínquos onde para além de melhores empregos há uma boa variedade de soluções para o estudo dos filhos.
A verdade é que estamos perante a fatalidade de assistirmos à destruição das nossas aldeias, que se despovoam continuadamente. Os campos há muito que não se cultivam, as casas de comércio fecharam, os artífices desapareceram, serviços como correios e postos da Guarda Fiscal são uma longínqua recordação, e boa parte das casas estão sempre de portas cerradas.
Não se vê forma de inverter este infortúnio, a não ser que se mudem radicalmente as políticas, começando pelas que são levadas a cabo pelo poder central. Seria necessária uma política económica que promovesse e incentivasse o investimento no interior, de modo a criar emprego, aumentar o rendimento e o consumo, e assim garantisse o crescimento da economia local.
O encerramento dos serviços públicos, com a complacência dos autarcas eleitos, que assistem impávidos ao definhar da sua própria terra, leva-nos a crer que a fatalidade se cumprirá. No Sabugal em breve seremos um concelho de velhos, que por enquanto enchem os lares e paulatinamente ocupam os cemitérios. Porém não tardará que, em desaparecendo boa parte dos mais idosos, as aldeias se despovoem de tal modo que para nada servirão os lares e, mais a prazo, nem sequer os cemitérios.
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«Contraponto», opinião de Paulo Leitão Batista
Olhe, meu amigo Gouveia socrático. Durante o Governo de Sócrates fecharam 5.000 escolas do 1.º Ciclo. Nunca, em época nenhuma, com Governo nenhum ,fecharam tantas escolas. Ninguém contesta que a desertificação das aldeias já vem de longe. E que havia escolas que iam fechando. Mas fazer disso um “cavalo de batalha” como o Sócrates fez, nunca ninguém tinha feito. As escolas, até Sócrates fechavam de morte natural e ninguém contestava isso. Quando o Sócrates começou a meter na cabeça das pessoas que se aprende mais com turmas com mais alunos do que em turmas com menos alunos (táctica usada também por Crato) elas acreditaram. E isso é mentira. Foi o Sócrates o culpado do fecho das escolas e mais ninguém. Não adianta dizer o contrário, porque eu sei bem do que falo.
Sr João Duarte!
Todos sabemos que a emigração teve um efeito devastador nas nossas aldeias: as portas das casas fecharam-se, famílias inteiras deixaram as beiras, ficando apenas gente idosa. Este efeito foi crescendo mas ainda não parou! Estudos feitos nesta região da Beira Interior sobre a demografia nas próximas duas décadas são assustadores. É que se não houver gente em idade de procriar não pode haver nascimentos…Infelizmente esta constatação pode ser feita no Casteleiro, na Moita, em Stº Estêvão, no Sabugal, em Alfaiates, na Bismula…
Bem quanto a Mourão, para ser mesmo um bom autarca tinha que contestar Sócrates?
Joaquim Mourão não precisa do meu discurso abonatório, a sua obra como autarca está bem à vista por onde passou; fê-lo na Idanha-a-Nova e a reafirmou-o em Castelo Branco. Quem não concorda com ele quando afirma que os sucessivos governos investiram fortemente no litoral em detrimento do interior? Quem não concorda com ele quando afirma que só com o “repovoamento” do interior, esta região tem futuro? É evidente que esse “repovoamento” só é possível com implantação de pólos geradores de emprego, sejam eles de que natureza forem.
Ainda sobre Mourão e a sua governaça, tanto na Idanha como em Castelo Branco requalificou todo o parque escolar do Pré Escolar, 1º ciclo e até algumas escola sdo 2º ciclo e secundário.
Falar do fecho de escolas tendo apenas como análise os últimos dez ou vinte anos, centrá-lo apenas no governo de Sócrates, é um erro de análise grave. Daí eu considerar que este mal começou muito antes, durante e depois de Sócrates.
Sr. João Duarte tem ideia do número de escolas que encerraram do ano passado para este ano? Foram muitas! dezenas, centenas mesmo! … e Sócrates já deixou o governo há dois anos e tal.
JGouveia
O sr. Gouveia não quer é responsabilizar quem, verdadeiramente, deve ser responsabilizado, que é o Governo de Sócrates com a sua política de fecho cego das escolas. Depois cita o Mourão, que pode ter sido um óptimo autarca em Idanha-a-Nova, mas nunca contestou uma medido do Sócrates. O que é que a emigração dos anos 60 tem a ver com encerramento das escolas desde 2008 para cá?
Exactamente como escreve o JOÃO DUARTE e cinicamente continuado pelos actuais criminosos
Já é bastante tarde para alterarmos a situação, mas não é impossível. Todos juntos devemos apresentar em local proprio as nossas ideias e sugestões. Alguém que organize rapidamente estes debates
Lamento informar-te, mas a política de encerramento das escolas começou com o consulado de José Sócrates, através da sua super-ministra Maria de Lurdes Rodrigues. O que veio a seguir fopi só a continuação. Meteram na cabeça das pessoas que se aprende mais em turmas com muiotos alunos do que em turmas com poucos alunos e as pessoas acreditam, piamente.
Boa noite
Sem querer desculpabilizar nenhum dos responsáveis políticos pela sua ação governativa, a verdade e para mal da nossa região, tudo começou muito antes de Sócrates e de Maria de Lurdes.
Desde o flagelo da emigração e imigração, na década de sessenta e seguintes, que as aldeias do concelho do Sabugal, à semelhança de tantas outras, viram fugir em massa muito do nosso povo, para o estrangeiro ou mesmo para a grande cidade.
Paralelamente a este fenómeno, a diminuição drástica da natalidade, fez com que começasse a rarear a “matéria prima” para “alimentar” as escolas, agora desertas, algumas delas ao serviço de associações locais.
O Poder Local, aqui, nem sempre esteve bem, mas muitas vezes de “mãos atadas”: Sem incentivos à criação de emprego capaz de fixar jovens casais, e com a mão pesada dos sucessivos governos, autênticos gigantes de produção legislativa, acelerando, ainda mais, o encerramento de muitas escolas, a começar por aquelas de baixa população escolar.
E assim chegámos ao ponto em que nos encontramos hoje: aldeias desertas, sem investimento potenciador de emprego.
Parafraseando o Dinossauro dos autarcas portugueses, símbolo do verdadeiro Poder Local, a seguir ao 25 de abril, o Comendador Joaquim Mourão, ex-Presidente da Câmara Municipal de Castelo Branco, “já é tempo do Poder Central olhar para o interior do País e responsabilizar-se pela criação de emprego – única solução para a deslocação das pessoas e, por conseguinte, o repovoamento da nossa região. Só assim conseguirá corrigir o plano de investimento, assimétrico, com o litoral deste país desigual”.
Parabéns Paulo Batista por esta crónica, pelo potencial que encerra e pelas questões que desperta.
Abraço
JGouveia
De facto, até agora, foi esta a tendência e é este o deplorável estado da situação. Só que, pelo andar das coisas, a situação pode inverter-se. É que nos locais de refúgio para onde todos nós fugimos, e digo todos nós porque alguns resistem, ainda, heroicamente, a situação começa a complicar-se em larga escala e a fome e a miséria saltam à vista de todos, se é que não atingiu, já, muitos dos que fugiram. E quando o espetro da miséria e da fome ensombra os horizontes daqueles que fugiram e não encontram saída para fugir da fome e da miséria, outra solução não resta que nao seja fugir de novo para o lugar de onde, antes, fugiram. Seria o regresso às origens que, oxalá, não aconteça!
Lamentavelmente, a minha total concordância.