Desagregados dos vínculos da comunidade que lhes dava apoio, os desfiliados são fruto da crise financeira e da rotura do sistema social e político. Pessoas que vivem, mas são como se não vivessem. Alguém lhes roubou a voz e deixaram de gritar, num silêncio ensurdecedor.
Existe um afastamento gritante entre os que são protegidos pelos serviços de saúde, educação e segurança social e os que se encontram numa situação de exclusão, ou de desfiliação, como diz o sociólogo Robert Castel.
Nestes novos tempos, as classes sociais deram lugar a novas categorias. Por um lado temos os protegidos e por outro, os desfiliados. As minorias são aceites, desde que não derrubem as maiorias. O silêncio das franjas da sociedade é sinal de rotura. Falta um novo ator coletivo social e político, que seja a sua voz. Os ecos que se ouvem de tantos lados vêm das categorias centrais, que se sentem a fragilizar. Mas, e o grito das vítimas? Onde se encontra? Porque não conseguirão levantar a sua voz? A sociedade fragmenta-se. O puzzle social já não se compõe como outrora. Mas a questão é: e os desfiliados? Pode ser um doutor ou um iletrado. Pode ter uma casa ou viver apenas num barracão. A questão já não é de classes. É de categorias sociais. Entre os que se encontram protegidos e os «outros». Os que têm acesso e os «outros», Entre os são pagos mensalmente e os «mal pagos» e que nem sabem se terão trabalho. Entre os que são e os que nem sabem o que são.
Desfiliados dos que se encontram em situação estável. Os conflitos sociais, que provavelmente irão acontecer, indiciarão uma nova sociedade. Urgem, por isso mesmo, novos atores socias. Em termos nacionais e em termos locais. Quem serão os nossos desfiliados? Se em tempos de crise podem ultrapassar os 20 por cento de uma população, onde se encontram os do nosso concelho? Quem os ouve? Quem é a sua voz?
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«Desassossego», opinião de César Cruz
César :
A lógica da acumulação ( para não dizer Neoliberalismo, porque as pessoas já estão fartas de ouvir este palavrão, mas só quando é dito e escrito por mim ) é a mais autoritária de todos os sistemas ditatoriais que a História já conheceu, ela divide a humanidade entre os que têm tudo, e os que nada têm, daí o seu efeito mais nefasto, a acumulação e posse de riqueza em poucas mãos, à custa do roubo descarado às classes populares e médias, e inclusive aos Parias da Terra, aqueles que nada têm, a única coisa que possuem é a sua força de trabalho, paga 70 e 80 cêntimos por dia !
Quanto ao nosso Concelho, César, a voz dos que nada tiveram durante o tempo do Estado Novo, era o medo, agora, em Democracia são os marginalizados sociais, por isso não se ouvem, e se por acaso têm o azar de escrever ou dizer alguma coisa, são insultados através dos seus e-mails, na rua, no restaurante, ou em qualquer espaço público ou privado. Eu estive para imprimir um e-mail cheio de insultos que foi lançado a um cidadão do Concelho, só por ter tido a ousadia de falar no Socialismo Democrático, numa ideologia ! Não no Partido Socialista !
O e-mail foi pura e simplesmente arquivado…O cidadão que o recebeu sentiu uma certa angústia, e quase medo, como é possível uma coisa destas passados quarenta anos do 25 de Abril ? E não contentes, os algozes, ao saberem que esse cidadão ia escrever um artigo sobre Salazar e o Estado Novo, roubaram-lhe simplesmente a palavra passe do seu computador…
Adeus César