Damos continuidade à apresentação do léxico «O Falar de Riba Côa» com as palavras e expressões populares usadas na raia ribacudana.
Entre os termos SARTUM e SERESMA.
SARTUM – colete de homem. Também se diz sertum.
SATANÁS – diabo.
SATRÁS – atrás. Aqui no satrás os tempos eram outros!. Interjeição usada pelo ganhão para fazer recuar a junta de vacas.
SEBE – estrutura de madeira ou vime para aplicar no carro de vacas, para determinados transportes (Sabugal); o m. q. ceto. Júlio António Borges chama-lhe caniço.
SEBO – tecido gorduroso que existe junto aos rins, o qual se recolhe para esfregar nos cabedais (encebar), como forma de os proteger e tornar maleáveis (o de cabrito é o melhor).
SECADAL – terreno que não é regado; sequeiro. Batatas secadais: produzidas em terreno secadal.
SÉCULA – eternidade; para toda a vida (Clarinda Azevedo Maia).
SECULTOSO – difícil (Duardo Neves).
SECUNDAR – repetir; bisar. Secundar a sopa.
SECUNDINA – placenta e anexos, expulsos após o parto (Júlio António Borges); párea. Também se diz segundina.
SEDA – cabelo contido na maçaroca do milho (Clarinda Azevedo Maia). Também chamado linho, tepete ou topete (Clarinda Azevedo Maia).
SEDEIRO – prancha de madeira com dentes de metal por onde se passa o linho para se separar da estopa (assedar). Também se designa por rastelo.
SEDOURO – cabedal que faz parte do fato do mangual, envolvendo uma ponta do pírtigo (Manuel dos Santos Caria).
SEGA – lâmina em ferro que atravessa o tamão do arado e serve para cortar a terra à frente da relha.
SEGUÉTIA – ciática; dores nas costas (Clarinda Azevedo Maia – Vale de Espinho).
SEGURELHA – pequena peça de ferro onde encaixa o veio (urreiro) da mó inferior da atafona. A mó superior assenta sobre a segurelha, de forma a que o seu movimento seja uniforme e sem contacto directo com o pouso (mó de baixo). Planta labiada.
SEIRA – espécie de cabaz de grande dimensão, feito de junco ou palha entrelaçada, com duas asas laterais. Usada para transportar a merenda ou para ir às compras ao mercado.
SEIRÃO – seira de grande dimensão, utilizada para transporte de estrume ou outra carga no dorço dos animais. Pia de madeira onde comem os porcos (Clarinda Azevedo Maia).
SELADO – muito carregado. Castanheiro selado: carregado de castanhas (Maria José Bernando Ricárdio Costa).
SELHA – balde de madeira.
SEMANA MENOR – semana da Paixão ou semana Santa (Clarinda Azevedo Maia – Forcalhos).
SEMBRAR – semear (Júlio António Borges).
SEMEIA-MILHOS – ave pequena (chapim ou meijengra).
SEMISCARÚNFIO – mal disposto; tristonho; esquisito; adoentado (Júlio António Borges).
SENAPISMO – ungento feito com água e semente de mostarda, usado para curar a pneumonia (Júlio António Borges). Sinapismo.
SENDEIRO – relaxado; devasso; mandrião.
SÉNICA – mulher ruim e conflituosa; cínica. «Genro daquela sénica» (Abel Saraiva).
SENISGA – pessoa magra; sem importância (Júlio António Borges).
SENTIDO – moléstia provocada a homens e animais por um desejo insatisfeito; o m. q. auguamento. Apanhou um sentido.
SENTIR – ouvir algo.
SERABECO – pessoa que tem a fala presa ou dificuldade em pronunciar as palavras; galholho.
SERAMPÊLO – sarampo (José Manuel Lousa Gomes).
SERANDEIRO – seroeiro. Indivíduo que frequenta os serões.
SERÃO – reunião familiar, a que por vezes se juntam os vizinhos, realizada durante as primeiras horas da noite, onde se conversa e se executam algumas tarefas caseiras. As grandes seroadas ocorrem de Setembro ao Entrudo.
SERENO – relento, ar da noite (Manuel Leal Freire).
SERESMA – mulher mole, de pouca actividade (Duardo Neves).
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Paulo Leitão Batista, «O falar de Riba Côa»
PLB,
Obrigado pelo esforço, em nome de todos nós.
No que se refere à minha aldeia, o Casteleiro, é que poucas destas palavras se usam lá.
Só estas, que eu saiba:
SATANÁS, SEBE, SEBO, SECUNDAR, SEDA, SEDEIRO, SEIRA, SELHA, SEMANA MENOR, não, mas à mesma semana lá chama-se Semana Maior, SENISGA, SENTIR (a significar ouvir: sempre achei que era menosprezar os outros sentidos, mas enfim…), SERÃO, SERENO (acho que algumas pessoas usavam, sim).
Como se vê, Paulo, poucas palavras em comum… É estranho, não é?
Tão perto e tão diferente.
Mas isso tem a sua piada: diversidade é coisa boa…