:: :: CINCO VILAS :: :: A existência de Pelourinhos nem sempre foi determinante para a existência de Municípios. Muitos existiram sem que os seus pelourinhos chegassem até nós. Isso verifica-se principalmente em locais grandemente fustigados por batalhas e invasões militares. Cinco Vilas foi um desses municípios. Aqui não há pelourinho.
Cinco Vilas faz parte das localidades que já foram Municípios, não possui pelourinho, e hoje, para continuar a ser freguesia teve de unir-se com outra aldeia de idênticas características: Reigada. Situada a cerca de 15 Km da sede do actual concelho, esta povoação localiza-se num vale muito fértil e pertence actualmente ao Município de Figueira de Castelo Rodrigo.
Esta povoação situa-se perto da fronteira. A atribuição do foral a Cinco Vilas teve subjacente um acontecimento dramático ocorrido na zona.
O nome da primitiva povoação era Vila Nova segundo a tradição. Foi no território desta Vila que nasceu a célebre ordem militar de S. Julião do Pereiro.
A criação de ordens militares, quando as mesmas tinham como objectivo a divulgação da fé cristã e o combate aos muçulmanos, tinha de ser confirmada pelo papa. A criação desta ordem foi assim confirmada pelo papa Alexandre III em 1167.
No século XVI depois de uma violenta batalha com os espanhóis que arrasaram diversas localidades, refugiaram-se em Vila Nova os moradores que escaparam de 4 outras povoações: Nossa Senhora do Pranto, Senhora do Pereiro, São Pedro e Fontenares. Como Fontenares que era uma importante Vila havia recebido foral de D. Manuel I em 1519 e entretanto havia sido arrasada pelos espanhóis nas guerras da restauração, o foral de Fontanares passou para a Vila Nova que agora tinha recebido os povos daquela. Todas somadas as aldeias que agora se juntaram na mesma localidade eram Cinco. Daí que o nome de Cinco Vilas tenha passado a designar aquele aglomerado das cinco povoações que entretanto passou a ser Vila.
Cinco Vilas foi sede de um pequeno Município entre 1519 e o principio do século XIX. Nessa altura, pensa-se que em 1836 foi o concelho extinto e a freguesia que lhe servia de suporte integrada no concelho de Almeida.
Em 12 de Junho de 1895 foi desanexada do concelho de Almeida e incorporada no de Figueira de Castelo Rodrigo onde ainda se mantém.
Em 2013, fruto da reforma administrativa operada, a freguesia de Cinco Vilas foi extinta e criada a União de Freguesias de Cinco Vilas e Reigada (aqui), com sede na Reigada, no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo.
O município de Cinco Vilas possuía o território correspondente à freguesia de Cinco Vilas antes de esta ter sido extinta. A sua localização no actual território de Figueira de Castelo Rodrigo é a que consta no mapa abaixo.
Como Município que foi, Cinco Vilas possuía um brasão com as características de concelho: Brasão com 4 torres prateadas. O brasão de Cinco Vilas possui ainda um conjunto de referências à produção de pão, cinco mós, (uma por cada Vila) e uma prensa relativa à produção de vinho. A cruz destacada no brasão, é da ordem de Cristo. No entanto este concelho nada teve a ver com os templários mas sim com a ordem militar de S. João do Pereiro que foi neste local que acabou por ser fundada e, segundo parece integrada anos depois na Ordem de Cristo.
Ligando o território de Cinco Vilas ao concelho de Pinhel existiu sobre o Rio Côa, uma ponte a que chamavam romana. Essa ponte estava em construção em 1447, como pode verificar-se nos capítulos apresentados pelo concelho de Castelo Rodrigo (e não Figueira de Castelo Rodrigo) às cortes daquele ano. Hoje, em 2014, da ponte existem apenas três arcos tendo os restantes desaparecido depois da derrocada ocorrida em 1907, quando as águas do Côa, na sequência de intensas e prolongadas chuvadas ocorridas naquele ano, subiram e provocaram as conhecidas inundações de 1907.
Sobre as vias e pontes nesta zona existe um trabalho da autoria de Manuel Maia, onde são abordados quer a idade quer a qualidade e traçado destas vias (aqui).
Numa terra com a história e a localização desta só por mero acaso não seria uma terra fértil para a criação de lendas (aqui).
De todas as disponiveis, destaco a lenda da Senhora do Pranto (aqui).
Nestas terras, cuja importância foi enorme e determinante para a consolidação do país em determinados períodos e que, com o decorrer do tempo essa importância foi diminuindo por se terem alterado as circunstâncias da sua envolvente, têm de existir razões para isso ter acontecido. Procurar “in loco” essas razões pode ser uma forma de visitar locais que no país são únicos. Temos o dever de o fazer, por respeito a quem lá residiu e resistiu, mas acima de tudo e mais ainda por quem ainda lá reside.
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«Do Côa ao Noémi», opinião de José Fernandes (Pailobo)
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