A água é a fonte da vida na terra. O corpo humano é formado de 70 por cento de água. A água cobre quase 70 por cento do planeta Terra. Danificar a água dos rios é danificar a nossa vida. O Noémi, não possui sistema circulatório como os mamíferos que eventualmente lhe permitiria recuperar a qualidade da água que nele corre.
Os animais, principalmente os mamíferos, entre os quais nos incluímos nós os humanos, possuem, para o funcionamento adequado do seu corpo, diversos sistemas, de que destaco o circulatório e o respiratório.
Uma das funções destes sistemas é garantir a circulação do sangue por todo o corpo, por forma a irrigar as diferentes células de que o mesmo se compõe. Dentro dessa circulação é também função do sistema circulatório, devolver o sangue depois da irrigação das células, ao motor desse sistema. Esse motor, o coração, bombeia o sangue para que possa circular e, em ligação com o sistema respiratório, liberta-o de determinadas substâncias que nele foram integradas quando irrigava as células e assim seja purificado. Isto é conseguido pela incorporação de oxigénio que é absorvido do ar que entra e sai dos pulmões no âmbito do sistema respiratório. Trata-se dum sistema fechado em que o fluxo sanguíneo que circula no corpo é sempre o mesmo.
Assim o nosso corpo consegue eliminar durante a actuação destes dois sistemas que é permanente, as substâncias tóxicas que são produzidas pelo trabalho realizado pelas células. Por isso, o nosso corpo é auto-suficiente em termos da sua manutenção e funcionamento, enquanto vivermos. Claro que com a idade, e a influência de outros factores externos estes sistemas e outros que possuímos vão-se degradando o que contribui para o deteriorar do nosso nível de bem-estar, a saúde.
Feito este breve apontamento sobre o sistemas de circulação nos animais, que no fundo acaba por lhes permitir viver pois recuperam as características do fluido sanguíneo que alimenta as células de que são formados, acaba aqui a «aula de anatomia».
Então e como é que as coisas se processam na natureza, principalmente naquela que não é animal? Não se processam assim. No caso dos rios e ribeiras que todos conhecemos pois por norma nascemos e vivemos nas margens de algum, o sistema circulatório é aberto enquanto que o dos mamíferos é fechado. Isto é, apenas possui fluxo num sentido.
Também o pretenso sistema respiratório, não tem as características que nosso tem. Só os declives mais acentuados permitem que água salte entre rochas e consiga através disso, oxigenar-se.
Os rios, ribeiras e montanhas são o resultado de modificações geológicas, umas mais violentas que outras, operadas na crosta terrestre durante o processo de formação da terra tal como a conhecemos. Os rios, associados à pluviosidade, foram escavando os leitos por onde circula a água de que são formados.
Em épocas de maior pluviosidade a água que cai nas montanhas que ladeiam os rios e que constituem a sua bacia hidrográfica, acaba por vezes por fazer com a corrente, que é mais forte do que em épocas menos chuvosas, uma limpeza do leito, transportando para o mar detritos que acabam por danificar também este último sistema.
No entanto, os rios não existem apenas nas épocas de maior pluviosidade. Existem todo o ano e, quando são alvo de agressões praticamente contínuas, não há limpeza anual que lhe valha. Agredir um rio, qualquer que ele seja, é um acto criminoso e com consequências que por norma demoram anos a ser corrigidas, mesmo depois de terem cessado.
Ninguém pode esquecer-se que a água, e principalmente a dos rios, é a fonte principal da vida na terra. Ninguém pode esquecer-se que o corpo humano é formado por 70 por cento de água. Ninguém pode esquecer-se que três quartos da superfície do próprio planeta terra está coberta com água. É por tudo isto e principalmente por isto que a água é o bem mais importante para a existência da vida.
Possuindo os rios apenas um sistema de purificação da água resultante da corrente natural que o seu leito lhe impõe, não há forma de conseguir corrigir situações de focos poluidores, principalmente por impossibilidade prática de fazer regressar à nascente a água que chega à foz.
Mesmo nos casos em que a intervenção humana existe quer no leito, quer nas margens, a resposta natural dos rios, e dos seres que nas suas margens habitam, é suficiente para manter aqueles sistemas naturalmente naturais. Estou a referir-me às pontes, poldras, noras, aos moinhos, às pequenas represas e barragens, pisões, etc.
É por isso que os rios são sistemas muito sensíveis mas que, se intervenção humana sobre eles não houver, conseguem manter-se saudáveis por tempo indeterminado. Quando os humanos intervêm e principalmente quando o fazem deteriorando a qualidade das águas, os sistemas que se desenvolvem e funcionam nos rios não são capazes de responder cabalmente a essas agressões. Nessa altura temos um rio poluído.
Nos concelhos da zona de Ribacôa a generalidade dos cursos de água está naturalizada e por isso, as populações e os restantes seres vivos, podem usufruir de paisagens, onde se inclui a água dos rios, extremamente limpas e convidativas. Podemos orgulhar-nos de termos águas puras principalmente nos rios e ribeiras que correm nos concelhos do Sabugal e Almeida.
Todos os rios, menos o Noémi.
Será que este rio cometeu algum crime que justificará esta permanente agressão por parte dos interesses privados e que permanece impune e é continuada?
Será que os responsáveis pela agressão estão convencidos que o Noémi, ao contrário dos outros rios, e à semelhança do que acontece com o sangue dos mamíferos, possui uma forma própria de purificar os efluentes que nele são despejados?
Será que o Rio alguma vez voltará a ter apenas a água que provém da sua nascente e dos seus ribeiros afluentes?
As populações das terras que marginam o Noémi não querem fazer perguntas, querem apenas respostas. As populações e os restantes seres vivos que sempre fizeram do Noémi o seu habitat natural.
Melhor, querem apenas uma coisa: Um rio igual aos outros rios, que tenha apenas a água que o alimenta da nascente até à foz. Não parece que se esteja a pedir muito. É algo a que todos temos direito.
Mais uma vez perguntamos aos responsáveis por este estado de coisas para quando o seu fim?
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«Do Côa ao Noémi», crónica de José Fernandes (Pailobo)
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