Carolina Beatriz Ângelo nasceu na Guarda, na freguesia de São Vicente, às 19 horas do dia 16 de Abril de 1878 e faleceu em Lisboa a 3 de Outubro de 1911.
Era filha de Viriato António Ângelo e de Emília Clementina de Castro Barreto, nascidos e criados na cidade da Guarda, pelo que podemos afirmar que as raízes de Carolina Beatriz Ângelo se localizam na cidade mais alta de Portugal (1056 metros de altitude), como os guardenses se orgulham de dizer. E, por sinal, no núcleo histórico da povoação, a que pertence a popular freguesia de São Vicente, que preserva, com carinho, a casa do cronista Rui de Pina, à entrada da Porta da Erva, rasgada no lanço de muralha edificada por D. Dinis, uma das entradas na histórica freguesia de São Vicente, onde, igualmente, nasceram seus pais. É também uma das entradas da conhecida judiaria e muito próximo fica a casa onde, segundo a tradição, habitava D. Sancho I, quando visitava a cidade à qual concedeu foral, a 26 de Novembro de 1199. Lamentando-se pelas ausências, a sua amada Ribeirinha, diria nessas ocasiões: «Ay muito me tarda, o meu amigo, na Guarda.» Os lugares de memória da infância e adolescência de Carolina Beatriz Ângelo, são no coração histórico da cidade que a viu nascer e crescer e não a esqueceu, como provou durante todo o ano de 2010, nas homenagens que lhe prestou.
Com treze anos entrou no Liceu Nacional da Guarda e, terminados os estudos pré-universitários, veio para Lisboa, tendo-se matriculado na Escola Politécnica, que frequentou dois anos, passando seguidamente para a Escola Médico-Cirúrgica, durante cinco anos, onde concluiu a Licenciatura em Medicina no dia 9 de Janeiro de 1902.
Nesse mesmo ano, casou com o Dr. Januário Gonçalves Barreto Duarte, seu primo e colega de curso. Infelizmente foi curta a vida de ambos. Ele faleceu a 23 de Junho de 1910, deixando uma filha que completava 7 anos dali a três dias. Carolina não lhe sobreviveu muito, vindo a falecer passado um ano e três meses, com 33 anos de idade.
O hospital de São José era então o que nós hoje consideramos um hospital escolar e foi lá que ela «estagiou» e se iniciou na cirurgia.
Foi a primeira cirurgiã portuguesa. Operou no hospital de São José. Trabalhou também no hospital de Rilhafoles, onde exercia psiquiatria o Dr. Miguel Bombarda. A República mudou depois o nome a este hospital, em homenagem a esse médico, conservando até hoje, o nome de Miguel Bombarda.
A Dr.ª Carolina exercia também medicina no seu consultório na Rua Nova do Almada.
Em 1906, com outras médicas, uma das quais era Adelaide Cabete, aderiu ao comité português de uma instituição francesa – «La Paix et le Dèsarmement par les Femmes», – tendo sido membro da direcção. O nome sugere os objectivos e dispensa explicações.
Em 1907 foi iniciada na Maçonaria, na loja Humanidade e, com Adelaide Cabete, preparou as suas «irmãs» para prestarem serviços de enfermagem em situações revolucionárias.
Com Ana de Castro Osório, Adelaide Cabete e Maria Veleda, fez parte do grupo de mulheres que definiram o rumo ao feminismo em Portugal, integrando o Grupo Português de Estudos Feministas e a Associação de propaganda Feminista.
Em 1908 fundaram a Liga Republicana de Mulheres Portuguesas, que tinha como objectivo primordial a conquista de direitos e deveres iguais para os dois sexos. O seu empenhamento como cidadã, levou-a ainda a colaborar na propaganda pela institucionalização do Registo Civil e pela publicação da lei do divórcio.
O que distinguiu Carolina Beatriz Ângelo das outras companheiras foi o facto de ter sido a primeira mulher a votar em Portugal e até no sul da Europa.
Implantada a República, ia haver eleições para a Assembleia Constituinte. A lei eleitoral concedia voto a todos os chefes de família que soubessem ler e escrever. A Dr.ª Carolina era viúva, sustentava a sua casa com o seu trabalho de médica, sendo por estas razões chefe de família, pelo que pediu a inclusão do seu nome no recenseamento eleitoral, o que lhe foi recusado. Não aceitando a recusa, apresentou um recurso no Tribunal da Boa Hora. Numa decisão histórica, o Dr. João Baptista de Castro (pai de Ana de Castro Osório), juiz da 1.ª Vara Cível de Lisboa, deu provimento ao pedido e mandou incluí-la nos cadernos eleitorais. E no dia 28 de Maio de 1911, Carolina Beatriz Ângelo pode votar para a Assembleia Nacional Constituinte, o que foi um acontecimento com repercussões internacionais.
Esta primeira eleitora portuguesa teve atitudes e ideias pioneiras como foi o defender o serviço militar obrigatório para as mulheres, embora fosse de opinião que só deviam ocupar cargos administrativos, serviço de ambulâncias, enfermagem e cozinha.
Apesar do seu desaparecimento tão precoce, foi uma figura de destaque pelo seu trabalho nas organizações feministas do seu tempo e tem um lugar na História.
Nascida em terras de D. Dinis da Beira, foi dignamente honrada em Loures, também terra de D. Dinis, onde deram o seu nome ao Hospital, facto que nos enche de justificado orgulho.
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«Por Terras de D. Dinis», crónica de Maria Máxima Vaz
Carolina Beatriz Ângelo fez, numa vida de 33 anos, um trabalho gigantesco para valorizar a Mulher na sociedade… A sua luta é desprezada, quando a mulher menospreza os valores que, como Carolina Beatriz Ângelo, nos conquistaram. Um desses valores é a possibilidade de ter um voto para escolher quem nos represente…É indigno ter havido tantas mulheres que não usaram esse direito só porque não…
E Ana de Castro Osório também era beirã, natural de Mangualde. A meu ver,
a líder era esta Grande Senhora!
Aqui faz-se troca de saberes. Ainda bem que gostou. Obrigada.
Não podemos deixar passar esta data em silêncio. Faz 103 anos. Foi uma luta que deu frutos. Há muitos outros nomes que devemos recordar, mas A Dr.ª Carolina Beatriz Ângelo é da “nossa gente”. Temos obrigação de a lembrar.
sempre a Dra Maria Máxima dando-nos belas lições…