A Associação José Afonso (AJA), com o apoio da Câmara Municipal do Fundão, leva a efeito durante um mês, no Casino Fundanense, uma exposição discográfica de toda a obra de Zeca Afonso.
Na abertura da referida exposição intitulada, «Desta Canção que Apeteço – Obra Discográfica de José Afonso – 1953-1985», o representante da AJA, Arnaldo Vasquez salientou as raízes de Zeca Afonso nesta região, a permanência em Belmonte, e muita da sua musicalidade foi bebê-la ao Cancioneiro da Beira Baixa. Por aqui passou a caminho de Paris.
O Jornalista Fernando Paulouro, ex-Diretor do «Jornal do Fundão», salientou que muitos criadores das letras, das artes, da música, através dos tempos, são esquecidos, caem no esquecimento, em Zeca Afonso, isso não acontece, bem pelo contrário, é recordado todos os dias e as todas as horas. A obra de Zeca Afonso é transversal a todas as gerações, está na alma da sociedade portuguesa. Os seus poemas, as suas canções, são de um grande lirismo da língua portuguesa. Vasco da Graça Moura, chama-nos à atenção para a riqueza da sua poesia e a qualidade da sua música.
Um dia um jovem encontrou o Fanhais, na estação da C.P. em Espinho e transmitiu-lhe: «Tu que és amigo e companheiro do Zeca Afonso, que cantas com ele, diz-lhe que a sua música é eterna e a malta jovem jamais o esquecerá.»
A obra de Zeca Afonso, tem uma simbologia no País e no estrangeiro. As suas canções, a sua musicalidade é património mundial, porque evoca a fraternidade, a terra da fraternidade.
Também Adelino José Baptista Pereira, um dos impulsionadores junto da AJA a fim da concretização desta exposição no Fundão, informou os presentes que está em andamento a criação do Núcleo da Beira Baixa, daquela Associação nesta cidade, que englobe e agrupe diversas cidades, vilas e aldeias daquela região. Já conta com muitos apoios e dar seguimento a uma antiga aspiração.
O Presidente da Camara Municipal do Fundão, Dr. Paulo Fernandes, afirmou ser uma grande honra receber este percurso discográfico de Zeca Afonso, nas vésperas de celebrar os quarenta anos após 25 de Abril.
Há dois aspectos a sublinhar na obra de Zeca Afonso, ver-se e rever-se nas lutas que travou pela liberdade, pela dignidade, pela justiça, pela fraternidade e pela cidadania. Partilhou os valores do Povo. É uma figura maior da portugalidade.
O segundo aspecto, é o fato desta exposição reflectir a linguagem musical, as vivências das gentes da Beira Baixa, desta terra, onde Zeca Afonso teve afectos e familiares.
Aproveitou para prestar homenagem à acordeonista Eugénia de Lima, acabado de falecer, uma mulher da Beira Baixa, nascida no lugar no Maxial da Ladeira, freguesia de Bogas de Baixo, concelho do Fundão, fundadora da Orquestra Albicastrense.
A exposição que encerra no dia 4 de Maio, apresenta-nos um trabalho com carácter interactivo, onde o visitante pode admirar a capa de diversos discos de variadas épocas, instrumentos musicais, diversos documentos, assistência a um vídeo da autoria de Tiago Pereira, com o testemunho de instrumentalistas que participaram nos discos.
Percorrem-se os anos e está nos nossos olhos a obra musical, poética, histórica, e cultural do Trovador da Liberdade.
Ali lemos as inúmeras vivências e referencias à Cidade do Sado, onde viveu, foi Professor de História, cidadão, actuou em diversas colectividades populares, e num postal sem data a Rui Pato, que iria actuar na Fábrica Movauto, para os trabalhadores.
No final da exposição há afirmações que se registam de Zeca Afonso: «De nada me arrependo / só a vida / que me ensinou a cantar / esta canção.»
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«Aldeia de Joanes», crónica de António Alves Fernandes
(Cronista/Opinador no Capeia Arraiana desde Março de 2012)
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Caro AAFernandes:
Há quem viva e depois da morte, seja esquecido ou menos lembrado.
Há quem viva e depois da morte seja permanente lembrado.
Essa atitude “pós vida” que as pessoas tomam relativamente aos que partiram tem por norma uma razão de ser:
Ou fizeram coisas banais como a generalidade dos cidadãos e com o decurso do tempo são menos lembrados ou mesmo esquecidos;
Ou fizeram coisas invulgares, que mexeram com a vida das pessoas e dos regimes e por isso não deixam de estar presentes.
Zé Afonso é destes últimos. A sua poesia, sobre as coisas mais simples da vida das pessoas, aliada a uma componente musical própria e diferenciável de todas as outras, faz com que, mesmo as gerações mais novas, continuem a admirar uma obra que a todos os títulos é impar.
Quanto aos da minha geração, não me parece que alguma vez o esqueçam.
Parabens pela iniciativa e pelo texto divulgador da mesma.
JFernandes