Os animais, adaptam a sua vida às condições dos locais onde vivem. Quando estas são alteradas, movem-se para outro local. As plantas quando são agredidas por acidentes naturais, não podem fugir por isso são destruídas. Os rios são sistemas sedentários que não podem mudar de sítio quando são agredidos. Por isso, morrem quando as agressões são continuadas. Agredir quem não pode defender-se é uma atitude primitiva.
Na natureza, coexistem sistemas e seres vivos que se vão adaptando às condições próprias dos locais onde todos se desenvolvem e vivem.
Os seres vivos, pertencentes ao conjunto dos animais, por norma orientam a sua existência pela relativa sedentarização nos locais que em cada momento melhor se adequam ao seu desenvolvimento. E, não é tão invulgar como possa parecer, determinadas espécies deixarem de frequentar e viver num local quando são alteradas as condições físicas e ambientais que antes tinha.
Isto acontece com as pessoas, com as aves, com os mamíferos selvagens, com os peixes, e certamente com outros que tenham características fisiológicas semelhantes e acima de tudo que lhe permitam a mobilidade.
Claro que é mau alterar os habitats deste tipo de seres pois sem eles o ecossistema onde estavam inseridos e que se mostrava equilibrado, deixa de o estar. Qualquer ecossistema, precisa de todos os seus constituintes para poder ser sustentável, e fornecer a todos as condições para o seu desenvolvimento normal. Quando, ainda que de forma involuntária, por vezes esses ecossistemas são alterados, os seus residentes habituais, se puderem, tentam deslocar-se para outro local que tenha as condições que outro tinha. É a lei da sobrevivência das espécies.
No entanto todos estes sistemas são constituídos por seres que podem mover-se, mas também por território que por norma é fixo e localizado e cuja deslocação não é crível que possa acontecer durante os ciclos de vida dos animais, pois como se sabe, as mudanças na crosta terrestre têm um ritmo e um período extremamente lentos que nada têm de parecido com o ritmo de vida dos animais.
Assim, a geologia e geografia dos territórios é, do ponto de vista dos animais, incluído o homem, praticamente imutável ao longo de várias dezenas ou centenas de gerações.
Quando por acidentes naturais ou mesmo provocados, uma região é assolada por um incêndio, temos na área atingida pelo menos dois tipos de seres que são directamente atingidos: Os animais, que em presença desse flagelo, tentam fugir para locais onde estejam a salvo. Isto é, usando a sua mobilidade, deslocam-se.
Temos também outro tipo de seres, neste caso os vegetais, que por força da sua génese, não têm mobilidade e por isso, são consumidos e mortos pelos incêndios. Estes seres não podem fugir. É certo que, a capacidade regeneradora da terra, consegue garantir, passados alguns anos a reposição daquilo que foi destruído. Mas também é certo que até que essa reposição se verifique, todos os outros seres e principalmente os animais, deixam de poder viver no local que antes habitavam. Por isso migram ainda que pelo tempo necessário para que aquela reposição se verifique.
Estas situações acontecem quando, como disse, deflagram incêndios que são por norma sazonais. São na verdade um problema cuja prevenção compete a todos mas que não deixam de ter uma interferência grande na conservação e manutenção dos habitats quer das pessoas quer dos animais, para além de uma destruição da imagem dos sítios por eles atingidos.
Para além deste sistemas existem outros que embora por vezes possam parecer robustos, são extremamente frágeis. A sedentariedade da sua localização transforma-os em sistemas totalmente dependentes da envolvente que os enforma. Estou a referir-me aos cursos de água que, como sabemos, têm uma localização fixa e que só por evoluções ao nível da crosta terrestre são modificados.
Os cursos de água são, também por esse facto, dos sistemas mais sensíveis que existem e qualquer agressão contra eles não tem da sua parte qualquer hipótese de defesa pois não podem deslocar-se.
Um rio que esteja a ser agredido por acções principalmente humanas, não pode fugir, não pode deslocar-se, não pode fazer nada. É um ente indefeso relativamente às agressões externas e provocadas essencialmente pelo homem.
Mal comparado, e na medida em que não pode defender-se, nem fugir do local onde está, é como se fosse um ser, vegetal ou mesmo animal, nos primeiros tempos de vida. É extremamente frágil. Não pode responder aos agressores.
Quando de forma continuada se agridem cursos de água, estes apenas podem comportar-se como Cristo, dando a outra face, já que não têm qualquer capacidade de resposta ao agressor. Também não podem fugir. Por isso, suportam as agressões e quando já não conseguem suportar mais, morrem e com eles morrem igualmente os restantes seres vivos que deles se alimentavam.
As agressões cometidas contra os cursos de água são próprias de quem, ou não sabe o que é um rio, ou se sabe, e acredito que alguns sabem, não tem princípios e é muito valente a bater nos que se não podem defender.
Bem comparado, é uma situação de bullying ambiental. Afinal a palavra não se aplica apenas nas escolas.
Por tudo isto, talvez seja altura de relembrar a quem pratica este tipo de atitude e a quem permite que a mesma seja praticada, que estamos perante situações idênticas às que acontecem nas escolas onde provavelmente estudam os filhos ou netos dessas pessoas e que certamente as mesmas pessoas e todos nós condenamos.
Que dirão essas pessoas quando o filho ou neto chegar a casa dizendo ao pai ou ao avô que, por ser mais franzino, foi agredido e gozado na escola pelos colegas? Certamente irão pedir satisfações à escola e aos pais desses alunos.
No caso dos cursos de água quem lhes pede satisfações, já que os rios não podem fazer, é toda uma comunidade cuja consciência é mais cidadânica. Esta comunidade pede satisfações por que estão a destruir um bem que também é deles.
Tudo isto vem a propósito do Noémi que continua a ser agredido por parte de quem nele despeja os restos da sua actividade que não pode converter em lucro. Isto é, tudo o que pode aproveitar, vende, o que sobra e não pode ser vendido, lança-se no Noémi, pois ele não se queixa nem reage a esse despejo.
Quem vê lançar no rio os desperdícios – apesar de ter obrigação de o impedir – certamente que ficaria satisfeito ao assistir à agressão dos seus filhos ou netos pelos colegas mais robustos se por acasos acontecessem na escola.
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Nota: Brevemente será aqui divulgada uma «fábula» que alguém escreveu numa altura em que havia pessoas que agrediam rios e estes se cansaram de ser agredidos e por isso se revoltaram. É a revolta dos Rios.
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«Do Côa ao Noémi», opinião de José Fernandes (Pailobo)
jfernandes1952@gmail.com
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«Do Côa ao Noémi», crónica de José Fernandes (Pailobo)
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