Desde as idades mais remotas que o homem procurou conhecer o que o cerca. Da curiosidade nasceu o conhecimento simplista e daqui, partiu para a indignação das causas que produzem os fenómenos, a forma como isso acontece bem como a sua finalidade.
Assim nasceram as ciências: primeiro as matemáticas, depois a história, a arqueologia… seguindo-se a Etnografia para o estudo dos povos, seus costumes, lendas, tradições, génios e crenças.
É através da Etnografia que tomamos conhecimento dos processos rotineiros de trabalhos agrícolas, industriais e artísticos.
Pela Etnografia têm sido desencantados, em lugares recônditos, muitas vezes inacessíveis, processos anacrónicos de curar doenças, recorrendo às chamadas mezinhas, tão sabiamente guardadas nas mentes das populações mais idosas. O registo de tais saberes (jogos, contos, lendas…) é uma tarefa que está nas mãos das gerações actuais e daquelas que hão-de vir.
Recuemos no tempo!
É nesta constante procura e pela mão do Dr. Jaime Lopes Dias (Etnografia da Cova da Beira), que hoje vos trago a «Lenda da Serra d’Opa».
Era uma vez… No sítio da Penha, no cimo da Serra D’Opa (Serra que separa o Casteleiro do Vale da Senhora da Póvoa, então chamado Vale de Lobo) viviam lindas mouras de cabelos dourados e superior encanto, escondidas entre enormes penedos que, uma só vez por ano – na noite de São João – saíam a estender preciosas meadas de ouro, que guardavam e só entregavam a quem, naquela noite, à meia noite, apanhasse a semente do feto real. Como a vida era difícil para todos os que ganhavam a vida com o suor do seu rosto, muitos, de geração em geração, têm subido, encosta a cima, até ao cume da Serra, a estender pelo chão lenços e toalhas, na ânsia de encontrar a planta que deixasse cair o precioso fruto.
E, usando e empregando superstições várias, chamando mesmo a cruz em seu auxílio, muitos têm lá ido e de lá têm vindo sem tesouro, desiludidos, amedrontados e confundidos.
É que, ao cair da meia noite rugia tamanha tempestade que ameaçava subverter a própria terra! É que, àquela hora e naquele local, os trovões eram tantos e de tal ordem que o mais audaz sucumbia!
E por isso, lá entre os penhascos, continuam encantadas, lindas, muito lindas mouras, de tranças de ouro, a guardar, pelos séculos dos séculos, enormes riquezas.
São estas e outras memórias que povoam o nosso imaginário.
Recolher e guardar, com cuidado e carinho, o que ainda nos resta, é contribuirmos para preservar a memória do nosso povo.
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«Viver Casteleiro», opinião de Joaquim Luís Gouveia
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