:: VILA DO TOURO :: Ao conceder forais a determinadas aldeias, o Rei reconhecia a sua importância para a defesa do território nacional. Quando essas aldeias entretanto concelhos, perderam essa importância, foram extintos os concelhos. É importante, é necessário, é justo, reavivar a memória dos mais esquecidos.
A Vila de Touro é uma povoação, localizada numa elevação entre dois cursos de água: A norte a Ribeira do Boi e a Sul mas mais afastado, o Rio Côa. Do ponto de vista altimétrico, a povoação desenvolve-se à cota 800, sendo ladeada por dois outeiros: O Cabeço de São Gens e o Alto do Castelo.
Vila de Touro foi sede de um pequeno concelho medieval. Este é um dos casos em que a criação do concelho com a atribuição do foral, em 1 de Dezembro de 1220, foi feita não pelo Rei (que na altura era D. Afonso II), mas por um representante de uma ordem militar, D. Pedro Alvites mestre da ordem dos Templários. Na mesma altura, o mesmo representante dos Templários, também atribuiu o foral a Proença-a-Velha no concelho de Idanha a Nova em Abril de 1218. Aqui.
Na verdade, a ordem dos Templários, que era de longe a maior e mais poderosa das ordens militares existentes nos séculos XII a XIV, sempre teve com a generalidade dos reis de Portugal uma ligação muito próxima, por interesses mútuos que por norma estão na origem destas ligações. Os templários possuíam grandes áreas do território que administravam com a aceitação dos Reis. Em contrapartida os seus membros, essencialmente cavaleiros, ajudavam os Reis nas suas campanhas contra os mouros, consolidando assim o território.
A zona de Vila do Touro pertencia ao concelho da Guarda. Terá sido doada à ordem dos Templários no âmbito do sistema de defesa que a partir da Guarda se pretendia construir por forma a proteger o território das frequentes investidas dos reinos de Leão e Castela. No fundo, o concelho da Guarda cedeu esta área aquela Ordem com o objectivo de ser construído um posto avançado. Só que, o acordo não deve ter corrido como se esperava e a Ordem resolve criar o concelho atribuindo-lhe o foral e dotando a vila de todas as valências necessárias a um concelho que por isso se chamava de concelho perfeito.
Não parece haver grandes dúvidas que o processo da criação deste concelho foi conturbado. Também se sabe que quando os templários criaram o concelho, tiveram a feroz oposição do concelho da Guarda. Talvez por isso, o foral atribuído pela Ordem dos Templários nunca tenha sido confirmado por D. Dinis ao contrário do que sucedeu com quase todos os outros desta zona, quer antes quer depois da assinatura do tratado de Alcanises.
O concelho de Vila de Touro que foi criado com a atribuição do Foral por parte da Ordem dos Templários em 1220 era formado pelas freguesias Quinta de São Bartolomeu, Rapoula do Côa e Touro. Ver a tradução para português moderno. Aqui.
O brasão do concelho de Vila do Touro contém, como muitos outros uma referência expressa à entidade que criou o concelho e lhe atribuiu o foral – A Cruz de Cristo que era o símbolo dos cavaleiros Templários.
Em 1 de Junho de 1510 El Rei D. Manuel atribuiu-lhe novo foral.
Desde a data de atribuição do foral pelos Templários que se iniciou a construção do castelo cujas obras não chegaram a ser concluídas pois umas décadas depois, com a celebração do Tratado de Alcanises a vila perdeu a sua importância militar, como aconteceu com a Sortelha, uma vez que a fronteira afastou-se para nascente, muito para lá do Côa e por isso não era necessário defendê-la em Vila de Touro.
A forma como foi criado o concelho, a sua pequena dimensão territorial, associada aos acontecimentos posteriores (Tratado de Alcanises), foram tudo factores que contribuíram necessariamente para que o castelo se não concluísse. É que tendo o exemplo da Sortelha e também de Castelo Mendo como concelhos em situação idêntica quanto ao Tratado de Alcanises, e concluíram os respectivos castelos, então a razão por que não foi concluído Vila do Touro só pode estar associado aqueles factores para além da situação geográfica muito mais favorável em termos de defesa que aqueles concelhos tinham relativamente a este.
O concelho foi extinto em 1836 e as suas freguesias foram integradas no concelho do Sabugal.
Enquanto concelho, e concelho perfeito, também Vila de Touro possuía e ainda possui o seu pelourinho. Este é um imóvel de interesse público reconhecido e a sua constituição pormenorizada podem ser consultadas. Aqui.
O castelo de Vila de Touro, apesar de não ter sido concluído, é possível verificar a estrutura de contorno das respectivas muralhas. Não se trata apenas de falta de conservação. É mesmo uma obra que não foi concluída. Talvez por isso se não encontre classificada.
O Castelo, contrariamente ao da Sortelha e mesmo de Castelo Mendo, não foi iniciado envolvendo a povoação. Foi projectado para ser executado fora da povoação embora relativamente perto, na parte mais elevada de um monte. Atendendo à grande visibilidade que do cimo desse monte se consegue alcançar, é de admitir que este ponto fosse essencialmente um posto de observação.
A reforma administrativa de 2013 manteve a freguesia de Vila do Touro como autarquia local, fazendo parte do concelho do Sabugal.
Vila do Touro não é uma povoação que tenha a visibilidade histórica que têm os locais onde possuiam a sede os Municipios medievais, como sejam o da Sortelha, o de Castelo Mendo, provavelmente por todas as razões que levaram à sua criação. Ainda assim a preservação do património deveria merecer maior atenção quer dos órgãos locais (Junta de Freguesia e Câmara Municipal) quer dos nacionais (O Governo).
Como forma de dinamizar a visita dos castelos na área do Município do Sabugal, a Câmara Municipal preparou um roteiro multimédia que abrange os 5 castelos existentes, entre os quais se inclui o de Vila de Touro. Aqui.
Só mantendo o património conservado atrairemos mais visitantes que no fundo animarão as nossas terras. Vale a pena visitar Vila do Touro. Mas valeria ainda mais se o escasso património existente estivesse mais tratado e fosse mais divulgado.
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«Do Côa ao Noémi», opinião de José Fernandes (Pailobo)
Muito obrigada pela pesquisa e por nos disponibilizar esta investigação. Parabéns pelo seu trabalho.
Srª. Drª.:
Quando produzo textos e os disponibilizo tenho sempre como objectivo facultar o parco conhecimento que adquiri na pesquisa, ao público em geral, para que também ele, se quizer o possa ter, de preferência de forma mais fácil do que eu tive. Mais satisfeito fico quando,também leitores como a senhora, apreciam este trabalho.
Obrigada pelas amáveis palavras.
JFernandes