:: :: ALDEIA VELHA :: :: Os manuscritos depositados na Torre do Tombo, em Lisboa, são a resposta a um inquérito censório a todo o reino assinado pelo Marquês de Pombal três anos após o terramoto de 1755. O Capeia Arraiana está a publicar as respostas dos párocos das paróquias das 40 freguesias do concelho do Sabugal agora que, pelo menos 10 das retratadas, vão desaparecer para sempre por obra e graça dos senhores mandantes da troika europeia.
:: :: ALDEIA VELHA :: :: «Tem nos seus limites 3 ermidas: Santo Cristo, Nossa Senhora da Estrela e a de Nossa Senhora dos Prazeres. Esta está situada onde chamam o Sabugal Velho, no caminho que vai para Vale de Espinho.»
Comarca de Castelo Branco, Termo do Sabugal, Bispado de Lamego.
Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT), Dicionário Geográfico, vol. 2, doc. 36, p. 249.
Património arquivista da Paróquia de Aldeia Velha entre 1669 e 1911... (Aqui.)
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«Recebi a ordem de v. mercê em treze de Março, junto com o folheto dos interrogatórios, a que dou cumprimento com averiguação possível dos interrogatórios que se me perguntão.
1 – Enquanto ao primeiro, respondo que esta Freguezia fica na Província da Beira Alta, Bispado de Lamego, comarca de Castello Branco, termo da Villa do Sabugal, lugar de Aldeia Velha, treguezia de Sam João Baptista.
2 – Respondo: hé del Rey Nosso Senhor, e não heé de donatários nem de pessoa mais alguma.
3 – Tem esta Freguezia sessenta e dois fogos, pessoas maiores de confissam e comunhão cento e setenta, e menores de contissam somente cincoenta e tres.
4 – Não está situada em campina, mas sim em hum valle, cercada de árvores a que chamam carvalhos, terra muito fria, não se descobrem povoaçõis algumas, e fica meia légoa distanciada de Aldeia do Bispo, que hé a mais perto, na Raia de Castella.
5 – Não tem termo seu, que comprehenda nenhuns lugares nem aldeias.
6 – A paróquia está dentro do lugar mas desviada das cazas couza de outenta passos, pouco mais ou menos, e não tem esta treguezia mais lugares alguns.
7 – He esta ireguezia orago de Sam João Baptista; tem tres altares: o altar mor, e hum altar que está á mão esquerda e hé de Santo Antonio, e o de Nossa Senhora do Rozario a mão direita; tem mais a imagem de Sam Sebastião sobre o altar mor, e não tem naves e irmandades nenhumas.
8 – O párocho hé cura anual; aprezenta o Comendador de Malta, tem de renda outo fanegas de centeio, outo e meia de trigo, dois mil reis em dinheiro e dois almudes de vinho, isto cada anno, pagão o Rev. do Comendador.
9 – 10 – 11 – 12 – Não tenho nada que dizer.
13 – Tem esta freguezia tres ermidas, huma do Senhor Santo Christo, fora do lugar, no caminho que vai para Aldeia do Bispo, e outra de Nossa Senhora da Estrella dentro do lugar e outra da Senhora dos Prazeres fora do lugar e que está esta ermida adonde chamam o Sabugal Velho, no caminho que vai para Val de Espinho; pertencem a esta mesma freguezia.
14 – Em o dia segunda feira depois da dominica in albis, acodem em romajem á Senhora dos Prazeres tres freguezias; estas sam: a da Lagioza, Foios e esta mesma freguezia de Aldeia Velha.
15 – Os frutos que os moradores desta freguezia recolhem com mais abundancia sam os seguintes: vem a ser centeio, trigo, linho, castanhas da lndia e algum milho.
16 – Não tem juiz ordinário, só da vara, a que chamam espadano, está sujeita ás justiças da Villa do Sabugal.
17 – Não hé couto, mas goza dos privilegios de Malta, que estão confirmados e assignados pelo Senhor Dom João quinto que Deos haja e pelos Senhores Generais desta Província da Beira Alta; mas não hé cabeça de concelho, honra, ou behetria.
18 – Não há memória de que desta terra florescessem ou sahissem homens insignes por virtudes, letras ou armas.
19 – Não tem feira franca nem Captiva.
20 – Não tem correio, mas serve-se com homens particulares quando hé necessário para levarem alguns papeis a Lamego ou a outra qualquer parte.
21 – Dista esta terra de Lamego cidade principal do Bispado vinte e tres légoas digo capital do Bispado, e de Lisboa cidade capital do Reyno sincoenta légoas.
22 – Não tem privilégios, antiguidades, nem outras couzas dignas de memória.
23 – Tem esta terra duas Fontes, ambas dentro das cancelas do povo, bem feitas de cantaria lavrada: huma dá agoa muito delgada e saboroza; a outra dá agoa muito groça e fria. Não secam em todo o anno. Em todo o anno há muitas lagoas, mas não sam solobres, e não tem as suas ágoas especial qualidade.
24 – 25 – Enquanto aos interrogatórios 24 e 25 não tenho nada que dizer.
26 – Não padeceu ruina alguma no terramoto do anno de mil sete centos e cincoenta e cinco, que pela mizericordia e bondade do Altíssimo ficamos livres da ruina que nos ameaçou.
27 – Nâo há outras couzas dignas de memória que possa contar.
O que procura saber desta Serra há o seguinte:
1 – Chama-se Serra da Matança, desde a sua antiguidade por ser muito coberta de mato, ainda que hoje está muito descoberta e cheia de veredas porque andam nela os gados meudos, aonde pastoreão a maior parte do anno; fica esta Serra para a parte do Sul, e corre do nascente ao poente.
2 – Tem de comprimento legoa e meia pouco mais ou menos e de largura hüa legoa; tem o seu princípio no lugar do Souto e acaba em Aldeia do Bispo.
Enquanto aos interrogatórios 3, 4, 5, 6 e 7, não tenho nada que dizer.
8 – As plantas de que se compoem a serra são as seguintes que vem a ser carvalhos, carqueijas, rosmanos e tojos e torga; e nâo se cultiva em parte alguma.
9 – Enquanto ao nono, não tenho nada que dizer.
10 – Hé muito fria em todo o tempo do anno.
11 – Cria-se nela muito gado meudo de lam e seda.
12 – Cria-se nella muita caça de coelhos e perdizes.
13 – Não tem a Serra lagoas nenhumas nem fojos notáveis e enquanto ao decimo terceiro não tenho mais nada que dizer.
O que se procura saber do Rio desta terra hé o seguinte:
1 – Emquanto ao primeiro artigo, respondo que nào tem esta terra Rio caudalozo nenhum; mas sempre faço mençâo dos Ribeiros que nela há e de duas Ribeiras: huma se chama Ribeira do Moinho Novo: nasce adonde chamão aos Fozinos, no fundo da serra da Matança, no lemite deste mesmo lugar de Aldeia Velha; outra nasce adonde Chamão as Ferrarias indo para os Foios neste mesmo lemite. Os Ribeiros chamão-se da Rolarissa, corre do nascente para o poente; outro chama-se Ribeiro do Roleixal corre para a mesma nascente; outro chamão o Ribeiro do Resimidouro, corre do poente para o tal nascente; outro chamão dos Repovicios e outro chamão o Ribeiro da Rua do Castanho; de tal sorte que tem esta freguezia cinco Ribeiros, todos dentro do lemite e todos principião os seus nomes pela letra «R».
2 – Enquanto ao segundo, digo que os ditos Ribeiros não nascem logo caudalozos, nem correm todo o anno mas athé meado de Agosto, pouco mais ou menos, e não entrão neles outro rio algum.
3 – Estas Ribeiras metem-se logo huma na outra ao pé deste lugar de Aldeia Velha.
4 – 5 – Enquanto ao quarto artigo, não tenho nada que dizer.
6 – Corre esta Ribeira do Sul para o Norte.
7 – Também cria alguns peixes chamados bogas e mais nenhuns.
8 – Não há nela pescaria alguma.
9 – Todas as suas pescarias são livres.
10 – Todas as suas margens se cultivão.
11 – Tem esta Ribeira muito arvoredo silvestre e nenhum que de fruto.
12 – 13 – Enquanto ao 12 e 13, não tenho que responder.
14 – Morre esta Ribeira no rio que chamão Coa, perto de Vilar Maior.
15 – Não tem esta Ribeira cachoeiras, nem reprezas para levadas algumas, mas sim algumas açudes que são de levar ágoa aos moinhos.
16 – Não tem esta Ribeira pontes de cantaria, mas sim de pau neste mesmo povo. Não tem esta Ribeira lagares de azeite, pizõis nem outro algum engenho, somente alguns moinhos de pão no inverno.
17 – Enquanto ao 17, não tenho que responder.
18 – Em o 18, respondo que este povo uza das suas ágoas para a agricultura dos campos. Tem esta Ribeira tres légoas athé se meter no Rio Coa.
19 – Desde o seu nascimento athé donde acaba, passa pôr Aldeia da Ponte, Aldeia da Ribeira e Vilar Maior; e não tenho mais que responder aos interrogatórios declarados na Relação, a que dei comprimento na forma da ordem do Excelentissimo Senhor Bispo.
O Cura: Luis da Fonseca de Frias.»
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Ver perguntas do inquérito… (Aqui.)
Fonte: Alfaiates-Na órbita da Sacaparte. Autores: Pe. Francisco Vaz e Pe. António Ambrósio.
(Continua.)
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«Censos do Marquês de Pombal em 1758», por José Carlos Lages
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