No dia 12 de Abril (sexta-feira), a Confraria do Bucho Raiano do Sabugal esteve na Casa Pia de Lisboa, onde se realizou uma sessão sobre a gastronomia regional e se degustou o bucho e outros produtos regionais sabugalenses confeccionados pelos alunos do curso de restauração e seus monitores. A iniciativa mereceu a presença da vice-presidente da Câmara do Sabugal, Delfina Leal, assim como a presidente da Casa Pia de Lisboa, Cristina Fangueiro.
Na sequência de uma prova preliminar que ocorreu, de modo informal, em 21 de Fevereiro no Centro de Educação e Desenvolvimento D. Maria Pia a Confraria do Bucho Raiano solicitou ao Curso de Restauração da Casa Pia de Lisboa (formadores Nelson Joaquim, David Jougar e respectivos alunos) uma refeição em que o bucho e outros produtos regionais fossem à mesa com novas versões de confecção, mantendo porém o seu sabor tradicional, dentro do lema «Inovação na Tradição».
A refeição, realizada no dia 12 de Abril, foi precedida por uma excelente prelecção sobre a região de Riba Côa e a sua gastronomia, pelo escritor e professor Adérito Tavares, ele próprio um casapiano que sempre defendeu a Casa Pia como grande e benemérita instituição. A intervenção de Adérito Tavares foi uma autêntica aula sobre os valores históricos e culturais da região do Côa, que despertou a atenção dos alunos e demais pessoas presentes no auditório.
Seguiu-se uma informação sumária sobre a razão da existência da Confraria do Bucho Raiano, prestada pelo chanceler, Paulo Leitão Batista. Coube por sua vez à vice-presidente da Câmara Municipal do Sabugal, Delfina Leal, agradecer a realização da iniciativa e convidar os alunos presentes, monitores e dirigentes da instituição a visitarem o concelho do Sabugal para aí observarem o imenso património natural e histórico, bem como apreciarem alguma da gastronomia de que o Dr. Adérito Tavares falou.
Seguiu-se o almoço no restaurante pedagógico, que estava primorosamente decorado, incluindo a exposição de algumas telas dos pintores Jorge Rodrigues e J. Leitão Baptista, artistas-residentes do CED D. Maria Pia, que as executaram para o efeito.
O almoço foi primorosamente preparado pelos chefs de cozinha David Joudar e Hugo Henrigues, com a colaboração dos respectivos alunos, fazendo uso dos ingredientes vindos do Sabugal e fornecidos pela Confraria. O vinho que veio à mesa foi o «doispontocinco», de Belmonte, vinho oficial da Confraria.
A entrada foi um «canteiro de enchidos raianos» composto por morcela e farinheira. O prato principal foi o inevitável bucho preparado de um modo especial, segundo a explicação dos chefs, resultante do «casamento» do bucho e dos grelos de nabo com outros produtos tendo em vista evidenciar e equilibrar os sabores.
Enquanto se degustava ao almoço, Cristina Fangueiro, presidente do Conselho Directivo da Casa Pia, foi falando do papel da instituição, enaltecendo o trabalho que é feito ao nível do acolhimento e educação de crianças e jovens de diferentes origens, muitos deles com imensos problemas a diversos níveis e que necessitam de acompanhamento dedicado. «É necessário que o país desperte para dar uma resposta suplementar ao apoio que a Casa Pia presta», disse a presidente, quando abordou o problema de alunos jovens que chegam à idade adulta e não conseguem ir para outros espaços e têm que se manter na instituição.
No final da sobremesa, um fabuloso doce conventual de batata e leite com canela e caramelo, falou o engenheiro Fernando Melo, crítico gastronómico. Começou por considerar o vinho «doispontocinco» um néctar fabuloso que emparceira com os melhores vinhos portugueses.
Contou que quando foi ao Sabugal para conhecer o bucho se deparou com a farinheira do Sabugal e descobriu que aquela é a verdadeira e genuína farinheira portuguesa, tendo inclusive escrito sobre isto na «Revista de Vinhos», «um artigo que deu brado e ainda hoje é comentado».
Sobre o bucho que foi servido o crítico gastronómico classificou-o de «muito interessante». Considerou que vê o bucho como uma peça de enchido que mete respeito por ter uma aparência robusta, porém quando é confeccionado o bucho é fraco, pois temos de ter com ele todo o cuidado para que não rebente. «Conseguiu-se um cruzamento feliz entre o bucho tradicional e os novos conceitos da cozinha actual», disse o jornalista e escritor, que considerou isso é bom, na medida em que a cozinha não pode ser estática devendo apostar na inovação. «Posso dizer que já comi o bucho em diversas configurações e o de hoje foi das melhores na medida em que soube preservar o verdadeiro sabor que o bucho contém», destacou o crítico.
A Confraria do Bucho Raiano fez-se representar por vários confrades dirigentes, que envergaram o traje e as insígnias cerimoniais. Da Casa Pia estiveram presentes, para além da presidente do conselho directivo, alunos e monitores, o director do CED D. Maria Pia, Dr. Manuel Ventura, e a coordenadora dos Cursos Profissionais de Restauração, professora Alexandra Lory.
plb
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