Por imposição da Troika, que não pela íntima convicção ou decisão espontânea dos nossos governantes, têm ido parar aos Bancos vultuosíssimas quantias, vindas para Portugal já com a expressa decisão de serem aplicadas à normalização do sistema financeiro.
Teixeira dos Santos, quando cometeu aquela infâmia da nacionalização do BPN, fê-lo carinhosamente, invocando o seu tão querido sistema financeiro.
De igual carinho, ou talvez ainda mais exasperadamente padecem todos os nossos grandes timoneiros – o Presidente Cavaco, o Primeiro Coelho, os olímpicos que andam pela EDP, a Petrogal, todas as grandes majestáticos, os proceres das nacionalizações.
Por isso, todos defendem também que o dinheiro que nos é emprestado tem de passar pelos bancos. E que são depois os bancos que lhe hão-de determinar o destino.
Ora, quanto a mim e até onde chegam as minhas luzes, entendo que o dinheiro que vem para o País tem de ir parar ao povo, que somos todos nós, eu, obviamente, incluído. A distribuição pode ser per capita.
A primeira grande vantagem seria a animação da nossa economia.
Pelos bens de consumo, atenta a avidez de uns e a necessidade de outros.
Pelos bens de investimento, dada a imaginação criadora de que geneticamente somos portadores. Uma boa parte de nós, tendemos ainda para a sovinice. Pelo que, desconfiando já da segurança do colchão e travesseiro, correria para o banco, fazendo depósitos a prazo.
Se a intenção dos senhores da Troika é simplesmente reforçar as reservas dos bancos, também por esta via aquele desiderato se cumpriria. Com uma simples inversão de circuito. O dinheiro iria não dos bancos para o povo, mas do povo para os bancos. A não ser que a intenção de quem tudo dirige e tudo manda, seja evitar que o dinheiro chegue ao povo.
Mas o governo, ao que se prega, é do povo, pelo povo e para o povo. E, como o governo, o dinheiro só tem sentido se posto ao serviço do povo. Assim seria se o governo mandasse.
Mas não manda, que quem manda são os banqueiros.
E assim tem de ser nas democracias parlamentares, controladas pelo dinheiro, pois é com dinheiro que se fazem campanhas eleitorais – que são as campanhas que fabricam deputados.
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«Caso da Semana», análise de Manuel Leal Freire
Caro MFreire:
A sua descrição parece-me estar incompleta a não ser que pretenda continuá-la num outro texto.
Quer-me parecer que, para além de tudo o que descreve e com que concordo, falta a parte respeitante ao pagamento do custo desse dinheiro. É que quanto a essa parte o governo já está a fazer a distribuição pelo povo, e parece que a adoptar o sistema per capita.
Não creio que haja no nosso pais alguém que até agora não tenha sentido nos seus rendimentos o resultado desta distribuição.
JFernandes (Pailobo)