A profusão de belíssimas fotografias, de excelente visibilidade e óptimo enquadramento, puxando à evidência os mais ínfimos pormenores de pessoas, cavalos e touros, quase ofuscam o também magistral texto do livro recentemente editado e lançado no Sabugal, intitulado «Forcão – Capeia Arraiana», da autoria de António Cabanas (texto) e Joaquim Tomé (fotografia).
António Cabanas é um apaixonado pelas terras da raia sabugalense, o que está bem patente no livro agora editado, que para este autor é uma revisitação às tradições raianas. A primeira incursão traduzida em livro foi em «Carregos, Contrabando da Raia Central» (2006), em que recolhe inúmeros testemunhos acerca da vida dos antigos contrabandistas, traçando o seu perfil e a sua vida de constante desafio ao perigo.
Mas se o contrabando era a exposição ao risco das balas dos fiscais da fronteira para garantia de sustento, a capeia do forcão é também uma forma de desafiar o perigo, mas desta feita para pura diversão nos dias de festejo.
Cabanas vai ao fundo da questão, procurando os mais longínquos vestígios que provam a ancestralidade das touradas na raia sabugalense, enquanto valor cultural e etnográfico que interessa preservar, apesar das polémicas à volta do sofrimento dos animais. E o autor, natural da Meimoa, e autarca empenhado no concelho vizinho de Penamacor, toca no âmago da questão ao pressentir o verdadeiro valor da alma raiana: «não basta assistir é preciso participar, ir ao encerro, comer a bucha, beber uns goles da borratcha e voltar com os touros, subir para as calampeiras, ser mordomo…».
Fazendo uma síntese do muito que já se falou e escreveu sobre a capeia arraiana, enquanto tradição popular única e mobilizadora de toda uma população, António Cabanas consegue traduzir aos leitores a emoção e o fascínio vivido pelos que se embrenham na festa dos touros. E, neste particular, foi necessário recorrer também ao talento do grande fotógrafo Joaquim Tomé, o Tutatux, que captou imagens que conferem magnanimidade à tradição. As imensas fotografias, ajudam quem lê os cuidados textos, a perceber que a capeia é algo único do mundo, apercebendo-se do valor supremo deste povo raiano, que nada teme e tudo desafia em nome de uma tradição que teima em manter viva.
Cabanas fala da origem imemorial do culto do touro, dos costumes taurinos na Península Ibérica testemunhados por Estrabão e das festividades tauromáquicas existentes em Portugal desde os alvores da nacionalidade, para assinalar que as touradas são algo de muito profundo na tradição popular.
Traça a diferença, de resto muito vincada, entre a corrida portuguesa e a espanhola, e embrenha-se a fundo na escalpelização do argumentário dos que defendem as touradas com unhas e dentes e daqueles que as criticam severamente. E, neste ponto, no que em particular se refere à capeia arraiana, descreve a forma como o espectáculo se humanizou: «já lá vai o tempo em que os touros eram lidados com garrocha e garrochão». A capeia deixou de ser selvajaria e tornou-se espectáculo com beleza, valentia e arte, onde o touro é tratado com dignidade, o que o leva a ser apreciado mesmo por muitos daqueles que não gostam de outro tipo de touradas.
Sobre as origens da «capeia», «folguedo» ou «corrida do boi», o autor rende-se à conclusão de que tal é de difícil constatação, enumerando porém as principais teorias conhecidas. A mesma dificuldade se constata na revelação da génese do uso do forcão, da realização do encerro, do passeio dos moços, do pedido da praça e demais rituais que estão associados à tradição taurina raiana. Referência ainda para o papel imprescindível de figuras típicas como o «tamborleiro» e o «capinha» espanhol, indispensáveis nas capeias de sabor mais original.
Um livro que é também um álbum fotográfico, que documenta melhor do que nunca a tradição raiana da capeia e que faz a síntese do que se disse e escreveu acerca de uma manifestação popular que constitui uma potencialidade que importa aproveitar.
Um livro que é essencial adquirir:
António Cabanas: kabanasa@sapo.pt; 968 492 522.
Joaquim Tomé: tutatux@gmail.com; 927 550 656.
Paulo Leitão Batista
Peço desculpa por o texto anterior conter alguns erros de redacção que se devem ao facto de ter sido redigido num telefone o que dificulta em muito a redacção.
Contudo espero que a ideia esteja em condições de ser compreendida.
Bem-hajas pelas tuas palavras.
Quem conhece sabe que voltei para a minha (nossa) terra com o intuito de contribuir efectivamente para o seu desenvolvimento e contrariar a tendência de desertificação. Foi com esse intuito que realizei milhares de fotos onde procurei registar as tradições e as belezas que existem no nosso concelho. Foi com o mesmo espírito que criei um projecto inovador a nível europeu, inovador e socialmente interventivo onde as pessoas tinham acesso gratuito a computadores e à internet completamente gratuito, que se chamava O BARDO e se localizava à entrada do Castelo do Sabugal.
Foi com o mesmo espírito que promovi, financiei e participei em projectos que tinham como objectivo a recuperação de tradições e costumes locais.
Foi com o mesmo espírito que estive ao lado da Casa do Castelo como pioneiros na descoberta e luta pelo reconhecimento e preservação do património judaico no concelho.
Foi com o mesmo espírito que percebi e em primeiro sugeri a possibilidade de candidatar a Capeia Arraiana a património da humanidade.
Infelizmente a minha defesa activa do património colidiu com interesses de alguns que apenas pretendem servir-se da nossa terra em proveito próprio destruíndo o nosso melhor património, por isso fui boicotado, injuriado, caluniado, agredido fisicamente, foram cometidos atentados contra o meu património e cheguei mesmo a ser seriamente ameaçado de morte. Factos que me obrigaram a sair da minha terra perdendo o meu negócio e a minha casa tendo sido obrigado a exilar-me em terra alheia.
Ao ler as palavras aqui escritas neste artigo não posso deixar de sentir um misto de alegria e de tristeza, alegria por ter na companhia do Senhor Vice Presidente da Câmara de Penamacor ter realizado um trabalho que acredito dignificar e contribuir para o reconhecimento como património da humanidade da Capeia Arraiana, tristeza por não poder continuar a realizar o trabalho que iniciei e que foi brutalmente interrompido por gente sem escrúpulos que destroi a nossa terra.
Por isso, aqui do meu exílio é com uma profunda dor na alma que te agradeço as tuas palavras e desejo um dia poder voltar à minha terra para poder continuar a contribuir sem ver por isso a minha vida em risco.
Bem-hajas sei que estamos lado a lado nos desígnios de salvar a nossa terra.