Foy serviu nas três invasões de Portugal, na primeira enquanto coronel e nas duas seguintes como general do exército imperial. Esteve no Sabugal no início da terceira invasão, integrado no corpo de Reynier e passou por três vezes nessa vila raiana enquanto mensageiro de Massena e de Napoleão Bonaparte.
Maximilien-Sébastien Foy (1775- 1825), entrou aos 15 anos para a escola de Artilharia, participando depois na campanha de Flandres com o posto de segundo tenente. Promovido a capitão, combateu em várias batalhas, mas em 1794, insurgiu-se contra os jacobinos e foi preso, devendo a sua salvação ao assassinato de Robespierre.
Foi gravemente ferido na batalha de Diersheim e na recuperação cursou direito público e história moderna.
Recomendado ao general Napoleão Bonaparte, recusou ser seu ajudante de campo e participar na campanha do Egipto. Sob as ordens de Massena foi promovido a coronel, em 1799, após se ter destacado no campo de batalha. Combateu depois nas campanhas de Marengo e do Tirol.
Opôs-se à ascensão de Napoleão Bonaparte ao poder supremo e depois ao seu consulado vitalício e à proclamação do Império, factos que o penalizaram vendo adiada a promoção ao generalato.
No início 1807 foi enviado para Constantinopla, e no final desse ano foi integrado no corpo do general Junot, participando na primeira invasão de Portugal. Na sequência da Convenção de Sintra regressou a França, onde foi finalmente promovido a general de brigada por Napoleão, sendo reenviado para Espanha, onde foi integrado no 2.º corpo, comandado por Soult e combate de novo em Portugal, na segunda invasão francesa. É ferido em Braga numa refrega com milícias portuguesas, e, ao entrar no Porto para exigir a rendição da cidade, é quase linchado pela população que o toma pelo general Loison, o célebre Maneta, salvando-se ao mostrar os dois braços à multidão. É preso, mas logo libertado com a conquista da cidade pelos franceses.
Em 1810 participa na terceira invasão de Portugal, integrado no 2.º corpo, agora comandado pelo general Reynier, que ocupou o Sabugal e Alfaiates de 27 de Agosto a 11 de Setembro, ainda na fase preparatória do movimento geral da invasão.
Já perante as inexpugnáveis Linhas de Torres Vedras, o general Foy foi o escolhido por Massena para ir a Paris levar uma missiva a Napoleão Bonaparte, para explicar a situação do «Exército de Portugal», da novidade que eram as Linhas de Torres e da necessidade de reforços.
Com um destacamento de 400 bons e corajosos caminheiros, Foy conseguiu atravessar o território que separava o exército da fronteira, completamente infestado por milícias portuguesas, que atacavam impiedosamente todos os movimentos militares dos franceses. Nessa manobra passou pelo Sabugal no movimento de ida e atinge Espanha, onde prosseguiu a sua rota para Paris. Recebido pelo Imperador, que lhe admirou a coragem e o mérito da missão, promoveu-o a general de divisão, e reenviou-o a Portugal com instruções para Massena.
Regressou pelo mesmo caminho e, acompanhado por tropas frescas que lhe admiravam a coragem e o seguiam fielmente, voltou a passar pelo Sabugal, e dali seguiu por caminhos pouco frequentados, procurando furtar-se a encontros com as guerrilhas.
Depois de mil peripécias, e com perdas consideráveis entre os seus homens, conseguiu chegar a Massena, a quem entregou a missiva.
Já no movimento retrógrado do exército invasor, Massena voltou a enviar Foy a Paris, dando conta a Napoleão da situação desesperada do exército e da sua firme decisão de não abandonar a empresa: recuará estrategicamente para bons acantonamentos e, contando com os reforços que suplica ao Imperador, voltará a avançar e ocupará Lisboa.
Foy, com uma escolta de apenas 50 cavaleiros, volta a embrenhar-se nos caminhos da Beira, com o Sabugal novamente no percurso, conseguindo atingir a fronteira. Já em Espanha é atacado num desfiladeiro, entre Burgos e Bilbau, por um forte destacamento espanhol. Foy perdeu a quase totalidade dos elementos da escolta mas conseguiu escapar completamente despido, colocando-se em fuga com os ofícios que também salvou. Prosseguiu viagem com roupas emprestadas, levando as mensagens ao seu destino.
Napoleão, irado com o conteúdo da mensagem de Massena, amarrotou os papéis e descarregou no general a sua fúria. Pouco tempo depois Foy era enviado de volta a Massena, levando-lhe uma carta do Imperador extremamente severa, manifestando-lhe o seu desagrado pelo fracasso da invasão. Foi já em Ciudad Rodrigo que Massena recebeu a missiva. Tivera sempre a maior confiança em Foy, mas verificou que os selos da carta haviam sido violados e carta fora lida antes de lhe ser entregue. Manifestou-lhe desagrado e desprezou-o a partir daí.
Porém Massena estava de partida e o general Foy reingressou no «Exército de Portugal», agora chefiado pelo marechal Marmont, comandando uma divisão. Combateu contra o exército anglo-luso, que se expandira por Espanha, sendo notado pela sua coragem e mérito. Já em plena retirada, foi gravemente ferido na batalha de Orthez, em 27 de Fevereiro de 1814, sendo esta a sua última prestação militar até ao fim do Império.
Com a França em convulsão política, Foy serviu como general durante mais alguns anos e depois aposentou-se, dedicando-se à política e à escrita, sendo autor de uma «História da Guerra da Península».
Paulo Leitão Batista
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