Depois de uma passagem pelo Indie Lisboa em 2009, chega às salas «Louise-Michel», a terceira obra da dupla Gustave de Kervern e Benoît Delépine. Uma comédia negra sobre o capitalismo e as suas consequências junto de uma fábrica numa aldeia francesa.
O ataque ao capitalismo não é terreno virgem na obra desta dupla francesa, que na sua estreia, o magnifico «Aaltra» de 2004, colocou um par de vizinhos em cadeira de rodas à procura da empresa que os meteu naquele estado à espera de uma indemnização choruda. Desta vez a história de «Louise-Michel» gira à volta de um grupo de operárias de uma fábrica no interior de França que de um dia para o outro vê o seu local de trabalho ser esvaziado.
Mas o que podia ser o argumento perfeito para um drama de fazer chorar as pedras da calçada, às mãos dos dois realizadores torna-se a desculpa perfeita para uma comédia negra. Isto porque as operárias resolvem contratar um assassino profissional, que nem um pequeno cachorro consegue matar, para liquidar o patrão. Mas não são as aventuras de Louise, a operária que fica encarregue contratar o assassino, e Michel, o tal assassino profissional, o mais importante da fita. Isso fica remetido para os pequenos pormenores, como o facto de vermos o suposto patrão da fábrica e o líder sindical a brincarem ao papel, pedra e tesoura, com a vitória a calhar sempre ao primeiro. A razão para esse resultado: simplesmente «porque eu mando», responde o patrão. Ou a dificuldade em encontrar o verdadeiro patrão.
Apesar do rasto de mortos que fica pelo caminho em «Louise-Michel», nunca ninguém chega a saber quem é o patrão da fábrica, ou sequer qual a empresa responsável por aquela fábrica. A última das vítimas chega mesmo a gozar com os dois protagonistas, depois de passar o tempo a comprar e a vender acções enquanto faz exercícios no ginásio, ao defender que já há muito tempo que não há fábricas no interior de França.
Com um final feliz e hilariante «Louise-Michel», dedicado a uma célebre anarquista francesa do século XIX com o mesmo nome, é um filme sobre coisas sérias para ver e reflectir sobre os tempos conturbados que se vivem nos dias de hoje, em que o capitalismo destrói vidas sem dar conta. Neste caso, os realizadores viram o bico ao prego e metem as vítimas a levarem a vingança até ao fim.
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«Série B», crónica de Pedro Miguel Fernandes
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