Foi este o sentimento encontrado neste fim-de-semana face ao mesmo acontecimento: a nuvem de cinzas do vulcão islandês Eyjafjöll. Esta nuvem, que têm sido capa dos maiores jornais, notícia de abertura de todos os jornais televisivos e radiofónicos, provoca dois sentimentos muito diferentes, ou mesmo opostos em pessoas muito parecidas.
Em Paris, Versailles e Bordeus as férias de Primavera, começaram apenas nesta sexta-feira, e como já vai sendo hábito, esta paragem escolar de duas semanas, proporciona a alguns portugueses (entre outros) uma breve estadia no nosso País, uma visita rápida antes da época de verão às praias de Lisboa e Algarve. Infelizmente, pelos motivos que todos conhecemos, muitos acabam por ficar por cá, outros ainda esperam por um avião que os possa levar até à nossa capital. Nestes, o sentimento é de tristeza, impotência, alguma incompreensão.
Mas há os outros, aqueles que vivem há anos perto dos aeroportos e que desde há alguns dias, vivem uma tranquilidade, um silêncio que não conheciam. Encontrei um casal luso-espanhol, que me dizia: «Em 35 anos, nunca tinhamos almoçado no nosso jardim. Quando comprámos a casa, diziam-nos que passavam aqui perto, que se viam, que se ouviam um pouco… que depressa nos habituaríamos. Realmente habituámo-nos, mas é impossivel almoçar no jardim, porque os aviões passam todos os dois minutos.»
Nas vilas e cidades que circundam os aeroportos de Paris existem muitos portugueses e muitos destes viveram neste último fim-de-semana, dias que desconheciam, dias sem o barulho dos aviões a cruzarem os céus todos os dois minutos.
Um outro português, dizia-me em ar de brincadeira que «devia ser assim todos os fins-de-semana, sem haver vulcões, podiam fechar os aeroportos aos fins-de-semana. Agora que não andam, é que me apercebo do barulho que fazem quando passam em cima da minha casa».
E assim vai o mundo, cada um com os seus sentimentos e vontades, cada um com sensibilidades diferentes face à mesma situação.
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«Um lagarteiro em Paris», crónica de Paulo Adão
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